São Paulo – ‘Conta-se que o restaurante surgiu no lugar de uma boate. A musicalidade está ainda em plena evidência. O tema da decoração, no piso e nas paredes entalhadas, no espelho, no balcão, teria feito a felicidade de Matisse: losangos. Estes carregam uma cadência sonora que absorve e domina o espaço inteiro, reverberando nas madeiras encurvadas. Anos 50 em grande forma’. O texto acompanha um desenho do restaurante do árabe Almanara, no centro de São Paulo, e está no livro San Paolo, Desenhos e prosa da cidade, do artista plástico italiano Vincenzo Scarpellini. Editado pela Publifolha e patrocinado pela empresa CA Brasil, da área de tecnologia, o volume de 176 páginas chega às livrarias brasileiras esta semana.
Feitos em pastel oleoso, os desenhos de Scarpellini mostram uma cidade invisível aos olhos da maioria dos paulistanos, que caminha apressada pelas ruas. Mas que pode ser comum ao olhar do visitante estrangeiro, que se encanta com ângulos de prédios, recortes da arquitetura modernista e com a riqueza dos muitos personagens da metrópole – ora conhecidos ora completamente anônimos O artista, como escreveu o jornalista Gilberto Dimenstein no prefácio de San Paolo, redescobre São Paulo. “Quando forem rever a história dessa cidade, especialmente neste momento de redescoberta, os desenhos de Vincenzo serão um de seus melhores registros”, escreveu.
Na obra de Scarpellini, os leitores vão encontrar ainda cenas do centrão da cidade, local onde o artista vivia e por onde era apaixonado. Os edifícios Copan (projeto pelo arquiteto Oscar Niemeyer) e Itália, um símbolo da cidade, estão entre os locais retratados. Somam a eles o Estádio do Pacaembú, o Aeroporto de Congonhas, e outros prédios importantes de São Paulo, como o Louvre e o Bretagne, também na região central. Ao lado da arquitetura e das megas construções, personagens cotidianos, como a dona de um sebo e seu gato, o zelador de um prédio e personalidades como o renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
Todos os desenhos do livro foram feitos entre 2000 e 2006 e publicados, originalmente, na coluna Urbanidade, no jornal Folha de S.Paulo, no caderno Cotidiano. São recortes da cidade, situações colhidas e lapidadas com zelo pelo artista – ou simplesmente “a impressão de um instante, a crônica de um momento”, como escreveu o critico de arte Jorge Coli. Ao lado dos desenhos, textos curtos, de quatro linhas, verdadeiros poemas em prosa. Um estilo próprio que marcou a colaboração do artista com o jornal. Os desenhos, sensíveis, inteligentes e desbravadores, contrastavam com as páginas do jornal, recheadas de notícias pesadas sobre a cidade de São Paulo. E os leitores percebiam a importância de tal contraste, “um respiro para a página”, como costumava lembrar o artista.
Sobre o artista
Vincenzo Scarpellini possuía elegância natural e discreta. Tudo o que amava era em modo intenso, alegre, substancial. Conversava com leveza, tinha prazer em compartilhar o que lhe interessava. Viveu no Brasil durante 10 anos, era um apaixonado pela capital paulistana. Formado em Jornalismo e Design na Itália, ele deu aulas na Universidade Luiss, em Roma, e no Istituto Europeo di Design, em São Paulo. Também foi diretor de arte do jornal Il Manifesto, importante publicação italiana. Em 1996, adotou o Brasil e, antes de trabalhar no jornal Folha de S. Paulo, redesenhou o projeto gráfico da revista Manchete, no Rio de Janeiro, e criou a concepção gráfica das publicações A&D e Nova Beleza, da editora Abril, já em São Paulo.
Como artista plástico, Scarpellini realizou quatro mostras individuais. Em vida seus trabalhos foram expostos na Caixa Cultural (2002 e 2005), em São Paulo, no Palazzo dei Capitani (2005), na Itália, e no espaço expositivo do restaurante Panino Giusto (2001), também em São Paulo. Após sua morte, aos 41 anos, em julho de 2006, foram realizadas duas mostras póstumas na cidade. Em 2007, no espaço do bar Salve Jorge, uma homenagem ao artista e a mais recente, Quaderni di viaggio, em janeiro de 2009, na Caixa Cultural. Os trabalhos expostos foram os desenhos da cidade de São Paulo, os nus e os desenhos de viagens.
Scarpellini também tem outros dois livros de desenhos publicados: Trânsito e Vidas (Ateliê Editorial, 2005). Também fez trabalhos para crianças, pela editora Harbra.
Livro
San Paolo, Desenhos e prosa da cidade
Autor: Vincenzo Scarpellini
Editora: Publifolha
Patrocínio: CA Brasil, Lei Roaunet
Quanto: R$ 39,90

