São Paulo – Para marcar o 25 de Março, Dia da Imigração Árabe no Brasil, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira promoveu nesta sexta-feira um jantar em homenagem a duas das mais conhecidas personalidades da comunidade de origem sírio-libanesa do País: a presidente de honra da Sociedade Beneficente de Senhoras, mantenedora do Hospital Sírio-Libanês (HSL), Violeta Jafet, e o cardiologista Adib Jatene, ex-ministro da Saúde.
“É mais um reconhecimento da capacidade [dessas duas pessoas], da contribuição que elas deram para a nossa comunidade e para a sociedade brasileira”, disse o presidente da Câmara Árabe, Salim Taufic Schahin, antes do início do evento realizado no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo.
Em seu discurso, Schahin destacou que ambas são lideranças na área da saúde que “dotaram nosso País de entidades de classe mundial”. Violeta esteve à frente do Sírio-Libanês durante muitos anos, a partir da década de 50, quando substituiu sua mãe, Adma, idealizadora da entidade. Jatene, por sua vez, é diretor-geral do Hospital do Coração (HCor), entidade fundada também pela comunidade de origem árabe.
Para o presidente da Câmara Árabe, Violeta e Jatene são personalidades “que dignificam nossa comunidade”. “Os dois são exemplos de amor. Vamos retribuir com muito amor tudo o que eles têm nos oferecido”, declarou Schahin, antes de apresentar dois vídeos sobre as vidas dos homenageados e de entregar as medalhas e diplomas comemorativos.
“Eu me sinto muito honrado com a homenagem, especialmente por recebê-la junto com a dona Violeta, que é uma figura extraordinária. Eu me sinto até pequeno [ao lado dela]”, afirmou o ex-ministro em entrevista. Jatene tem forte atuação na formulação de políticas públicas para a área da saúde, foi secretário estadual e ministro duas vezes.
Ele tem 81 anos e é um dos mais conceituados cardiologistas do Brasil. Se considera um homem otimista e conta como sempre manteve esse estado de espírito. “Uma vez no programa Roda Viva [da TV Cultura] me perguntaram como eu fazia para ser tão otimista, e eu respondi: ‘Eu nasci no Acre, meu pai morreu quando eu tinha dois anos e minha mãe lutou bravamente [para nos sustentar]. Hoje eu sou ministro da Saúde. Como você queria que eu fosse pessimista?’”
Filho de pais libaneses, Jatene nasceu em Xapuri, cidade natal de outros brasileiros famosos, como o líder seringueiro Chico Mendes e o jornalista Armando Nogueira. O pai, como muitos dos imigrantes do Oriente Médio, era comerciante, ganhava a vida como mascate vendendo mercadorias nos seringais. Após sua morte, foi também no comércio que a mãe, com a ajuda da avó, conseguiu sustentar os quatro filhos.
Ele nasceu e cresceu na região amazônica, mas veio estudar na capital paulista, onde se formou na Universidade de São Paulo (USP) e seguiu carreira na medicina.
“Minha mãe costumava dizer um provérbio: ‘Escreve na areia o mal que te fizeram, mas no mármore o bem que te fizeram’”, declarou. “Eu gostaria de dividir com ela essa homenagem, e com mais e mais pessoas da nossa comunidade que colocam a família em primeiro lugar”, acrescentou.
Violeta, por sua vez, agradeceu a “todos os sírios e libaneses que trabalharam para essas obras”, ou seja, entidades como o HSL e o HCor. Ela ressaltou que a comunidade é formada por “muitos trabalhadores honestos”. “Não devemos pensar em sírios e libaneses, devemos pensar na fraternidade. Deus é um só e devemos nos unir”, declarou ela, que tem 104 anos de idade.
O pioneirismo é uma marca da família de Violeta. De sua mãe partiu a iniciativa de criar um hospital que hoje é referência no Brasil. Seu pai, Basílio Jafet, fez parte da primeira geração de imigrantes libaneses que chegou ao Brasil. Como muitos, ele fez fortuna nos negócios.
O vice-presidente da República, Michel Temer, que participou do evento, e também é filho de libaneses, destacou que há algo em comum entre todas as famílias de imigrantes árabes: a solidariedade. “Daí decorre a benemerência”, afirmou.
Ele acrescentou que pensava que a Câmara Árabe se ocupasse apenas da área comercial, mas que ficou contente em saber que a entidade “tem a grandeza de reconhecer aqueles que enriquecem o nosso país” em outras áreas, e contou uma frase dita por seu pai: “Você tem que ter orgulho de suas origens e fincar raízes em seu país.” No caso, o Brasil.
Já o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, também descendente de árabes, elogiou a iniciativa da Câmara de “homenagear dois ícones da comunidade árabe, e mais do que isso, dois heróis brasileiros”.
Schahin destacou que a entidade “busca cumprir seu papel” na promoção do comércio do Brasil com o mundo árabe, mas também trabalha para atrair investimentos, incentivar o turismo e o intercâmbio cultural.
Na área da saúde, por exemplo, ele lembrou que a Câmara apóia um programa de intercâmbio na área médica entre o HSL e instituições da Síria, que tem por objetivo a implantação de um centro de transplantes de fígado no país árabe, iniciativa que, ele espera, será ampliada para outros países no futuro. Schahin acrescentou que está trabalhando em um acordo semelhante com o HCor.
O presidente da Câmara Árabe falou ainda do projeto da entidade de criar a Casa da Cultura Árabe em São Paulo, um centro de documentação e difusão da contribuição dos árabes para a humanidade e dos imigrantes para o Brasil. Ele ressaltou que a comunidade de origem árabe continua a contribuir para o desenvolvimento do País.
Assista abaixo vídeo com cenas do evento.

