São Paulo – Novidade no Centro Cultural Árabe-Sírio de São Paulo. Desde que foi fundada, em abril de 1974, a instituição pela primeira vez é comandada por uma mulher. Majd Al Shara assumiu a missão em janeiro e já tem muitos planos. Entre eles, difundir a cultura síria em outras cidades brasileiras e promover a tradução dos livros da biblioteca do Centro Cultural do árabe para o português.
Formada em literatura inglesa pela universidade de Varsóvia, na Polônia, a nova diretora do Centro Cultural é mestre em literatura americana e doutoranda em literatura comparada pela Universidade de São Paulo (USP).
À frente do Centro Cultural, já fez mudanças: retomou as aulas de dança folclórica e o curso de caligrafia árabe, que recomeçou em março. O Centro Cultural vai exibir uma sessão de cinema de filmes sírios todas as quintas-feiras, às 20h30, ampliar o curso de coral e oferecer aulas de gastronomia árabe. Esses são os objetivos de curto prazo. Há outros, que precisam de mais tempo e investimento.
“Quero divulgar a civilização e a cultura da Síria para os brasileiros”, afirmou Majd durante uma visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira em que tratou de cooperação entre as duas entidades. “Tenho certeza que a reunião que tivemos vai render frutos no futuro”, disse.
O fato de ser a primeira mulher a comandar o centro não a assusta, mas a deixa orgulhosa. “Isso mostra que o centro é avançado e que a Síria é um país civilizado, nossa vice-presidente é uma mulher. [O fato de] eu ser a primeira diretora do Centro Cultural é vitória para as mulheres e para a Síria também.”
Esposa do ex-cônsul-geral da Síria em São Paulo entre 1988 e 1992, Mustafa Haj-Ali, Majd conhece bem a cultura local e pretende usá-la a seu favor na nova missão. Para alcançar os grandes objetivos durante seus três anos de mandato, Majd pretende fazer parcerias. Ela avalia que os profissionais que farão a tradução dos livros precisarão ter mais contato com a cultura árabe. "Alguns precisarão viajar e entender melhor a pronúncia e o significado de algumas palavras", observou.
Aos 56 anos, Majd é mãe de três filhas e avó de seis netos, que vivem em Dubai, onde Majd e Mustafa moraram antes de retornar para o Brasil, há cerca de um ano. A ligação do casal com o país é antiga: além da primeira passagem, no fim dos anos 1980, viveu em Brasília entre 1994 e 1997.
Funcionária do governo sírio, Majd foi designada para o cargo justamente por ter vivido em muitos países (passou também por Estados Unidos e Nigéria) e por entender muitas culturas. Além do árabe e do português, ela é fluente em inglês, francês e polonês. "Como vivi em vários lugares, tenho mais facilidade em entender e a mentalidade de um povo", afirmou. E, de brasileiros, ela entende. "São pessoas muito alegres, otimistas, não são racistas. O Brasil é uma mistura de todas as raças."
O Centro Cultural fica na Rua Augusta, na região central de São Paulo, e oferece cursos gratuitos de árabe.