São Paulo – Contar a história da África não por uma visão européia, mas por meio de uma perspectiva dos próprios africanos. É este o objetivo de um livro pedagógico que será elaborado por especialistas de todo o continente, com a coordenação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e do governo da Líbia.
A publicação será baseada na enciclopédia História Geral da África, escrita entre 1965 e 1999, sob a coordenação do historiador Joseph Ki-Zerbo, de Burkina Faso. O trabalho de composição da obra foi realizado em três fases e a publicação foi feita em oito volumes. "Até hoje, ela se mantém como um referencial extremamente importante para os povos africanos. Então, viu-se a oportunidade de transformar esse projeto em material pedagógico para ser usado como referência na educação básica dos países africanos", conta Marilza Regattieri, oficial de Projetos do Setor de Educação da Representação da Unesco no Brasil.
O conteúdo do livro, assim como as línguas nas quais será publicado e toda a definição de como será realizado o trabalho de edição e distribuição será discutido em uma conferência a ser realizada na capital líbia, Trípoli, entre os dias 10 e 16 de junho. O evento terá a participação de 150 especialistas africanos, entre historiadores, educadores e representantes de governos de todos os países do continente.
"A centralidade dessa reunião é definir critérios para seleção de conteúdo para diferentes faixas etárias, desde crianças até jovens de 19 anos de idade”, relata Marilza. Segundo a oficial da Unesco, o conteúdo da obra será redigido de forma diversa para grupos de até 10 anos, de 10 a 12 anos, de 13 a 16 anos e de 17 a 19 anos.
Marilza diz que ainda não está definido se os países usarão abordagens diferenciadas ao tratarem no livro de sua própria história, mas crê que, caso isto aconteça, o resultado deverá ser positivo para os alunos. "Eu acredito que esse tipo de proposta, que dê um maior contexto para as crianças entenderem sua história, é muito interessante, mas não sei se vai ser possível”.
A data de publicação do livro ainda não está definida. Segundo Marilza, este é outro ponto que deverá ser decidido na conferência no país árabe. "Este é um projeto que conta com um apoio importante do governo da Líbia, que o está viabilizando".
Projeto brasileiro
Apesar de não fazer parte do projeto de elaboração do livro para crianças africanas, o Brasil também vai participar da conferência na Líbia. Isto porque, em 2003, o governo federal sancionou uma lei que obriga o ensino da história afro-brasileira nas escolas públicas e particulares do país.
Marilza conta que, a partir desta data, "a Unesco passou a trabalhar com prioridade na implementação desta lei". "Desde lá, a gente vem trabalhando para fazer uma edição em português dessa História da África, e com uma especificidade: como a história do Brasil e da África se cruzam para formar a história brasileira".
Segundo ela, o projeto já está em curso, e a edição em português, que começou a ser feita em 2009, está prevista para ser lançada em novembro deste ano. A realização desta obra conta também com o apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do Ministério da Educação e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).