São Paulo – Cidades atraem turistas por diversos motivos. O Rio de Janeiro por causa da beleza natural incomparável. São Paulo porque tem vida noturna agitada e ótimos restaurantes. Paris é um museu a céu aberto, Nova York, centro cultural sem concorrentes, Brasília é a sede do poder… Todas essas e algumas outras, porém, têm uma qualidade em comum que, sozinha, já é motivo para atrair visitantes: todas têm, ao menos, uma obra curiosa e reconhecida projetada pelo maior arquiteto brasileiro.
Oscar Niemeyer, hoje com 103 anos, nasceu no Rio, em dezembro de 1907. Em 1936, dois anos depois de se formar em arquitetura, ele adaptou o projeto de outro arquiteto famoso, Le Corbusier, para o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Embora o plano não seja de sua autoria, as modificações que Niemeyer fez no prédio, o Edifício Barão de Capanema, foram suficientes para que ele passasse a receber encomendas e se tornasse reconhecido em todo o País. Niemeyer basicamente aumentou a altura das colunas térreas de quatro para dez metros.
Além do Ministério da Educação, o Rio de Janeiro foi “presenteado” por uma das obras mais famosas de Niemeyer: a Passarela do Samba. Outras de suas criações na capital fluminense são os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps). Identificar essas obras não é difícil: basta, sempre, procurar as curvas que as caracterizam. Ele gosta tanto delas que até compôs um poema, certa vez, que afirma: “…De curvas é feito o universo”.
Quem visita São Paulo não tem muita dificuldade em encontrar um prédio dele entre tantos outros. Afinal, se é uma obra de Niemeyer, ela se distingue das outras em qualquer lugar. O Copan, no Centro, é de Niemeyer. Assim como a Bienal, a Oca, a Marquise e o Auditório do Ibirapuera, todos no Parque Ibirapuera; e o Memorial da América Latina. Além de contemplar os desenhos do arquiteto, esses lugares oferecem ótimas exposições e concertos.
Quem pretende se aprofundar na obra de Niemeyer não pode deixar de visitar Belo Horizonte. Fica na capital mineira um de seus primeiros projetos, o Conjunto da Pampulha, e um dos últimos inaugurados pelo famoso arquiteto, o Centro Administrativo de Minas Gerais. Nos anos 1940, Niemeyer planejou o conjunto da Pampulha, com igreja, cassino, restaurante e clube a pedido do então prefeito da cidade, Juscelino Kubitschek. Em 2010 ele inaugurou a nova sede do governo mineiro.
O sucesso do Conjunto da Pampulha levaria Niemeyer ao maior desafio da sua vida nos anos 1960, quando o presidente JK o chamou para projetar os prédios da nova capital federal, Brasília. Lá estão o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, a Praça dos Três Poderes, o Itamaraty, o Congresso Nacional, a Catedral de Brasília…Todos desenhados por Niemeyer.
Uma dessas criações, o Palácio da Alvorada, local de moradia do presidente da República, parece se equilibrar sobre as bases estreitas das suas colunas. Parte desse pensamento é verdade. O próprio criador do projeto admite que levou o projeto ao extremo. “Dedicamos às colunas a maior atenção, estudando-as cuidadosamente em seus espaçamentos dentro das conveniências da técnica e dos efeitos plásticos que desejávamos obter”, diz Niemeyer ao site da sua fundação.
Os projetos do arquiteto também são motivo para levar o visitante para longe do Brasil. Na Argélia, por exemplo, a Universidade Constantine faz o visitante “matar” a saudade de casa, pois lembra a Oca do Ibirapuera e do Conjunto da Pampulha. Com esta obra, Niemeyer provou ao governo argelino, em 1969, que seria possível construir uma universidade com cinco prédios, em vez de 20 como se pensava ser necessário.
E que tal conhecer a sede do Partido Comunista francês, em Paris? Niemeyer sempre se disse comunista e não demorou em aceitar o desafio. A fachada é, claro, curva e o hall principal fica abaixo do nível da rua. Um visitante atento irá se surpreender com uma construção moderna entre os prédios clássicos de Paris.
Niemeyer também deixou sua marca registrada em Nova York. Lá, o brasileiro integrou o time de profissionais que projetou a sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Os prédios que abrigam os escritórios da ONU, as reuniões do Conselho de Segurança e a Assembleia Geral resultam da união das técnicas de Niemeyer e Le Corbusier.
Niemeyer espalhou sua técnica e levou os usos do concreto armado aos extremos em todos os cantos do mundo. No entanto, não se pode deixar de visitar a cidade que recebeu uma de suas obras mais arrojadas: Niterói. É lá que está o Museu de Arte Contemporânea (MAC), carinhosamente apelidado de “disco voador”. Redondo, envidraçado e com 360 graus de vista para o Rio de Janeiro, propõe a interação das obras de arte que exibe com a vista que apresenta.
Além do MAC de Niterói, o arquiteto projetou na cidade fluminense o Caminho Niemeyer, um conjunto de construções que liga o museu ao centro da cidade. Estes edifícios, contudo, são construídos aos poucos. O MAC foi o primeiro, inaugurado em 1996. O Teatro Popular já foi construído, mas ainda não foi aberto. Deverá começar a operar neste ano, junto com o Museu Petrobras de Cinema, também idealizado pelo arquiteto. O Caminho Niemeyer ainda prevê uma torre panorâmica de 60 metros de altura e a sede da Fundação Oscar Niemeyer, que atualmente fica no Rio.