Isaura Daniel
São Paulo – A 11ª Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que vai ocorrer entre os dias 13 e 18 de junho, em São Paulo, deve reforçar as relações comerciais entre o Brasil e os países árabes. "O fluxo de comércio com novas regiões, principalmente os países árabes, está aumentando dramaticamente e a Unctad vai ser uma oportunidade para exportadores e importadores estreitarem as relações", diz o especialista em Economia Internacional da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Easp/FGV), Evaldo Alves.
Além de representantes do setor privado, a Unctad receberá ministros e diplomatas dos países da Organização das Nações Unidas (ONU) e profissionais de Organizações Não-Governamentais (ONGs). O encontro, que ocorrerá no Centro de Convenções do Anhembi, será uma grande discussão sobre o comércio mundial.
Um dos temas mais esperados é justamente o reforço do comércio entre os países em desenvolvimento como alternativa à resistência dos países mais ricos em abrir mão dos subsídios.
"A relutância dos países do Norte em fazer concessão explica a união comercial de grupos tão exóticos como Brasil e África do Sul, China e Índia", diz Mário Presser, coordenador do curso de extensão em Diplomacia Econômica dado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em convênio com a Unctad.
De acordo com o professor, o sul está se redesenhando politicamente como resposta à falta de sensibilidade do Norte. "Se o Norte não quer liberalizar o comércio com o sul, por que não promover a liberalização sul-sul?", sugere o professor.
O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou recentemente que poderá ser feito um acordo de livre comércio entre os países em desenvolvimento durante a Conferência. De acordo com Presser, o crescimento das relações comerciais entre os países mais pobres a taxas muito dinâmicas não agrada as nações mais ricas.
EUA e Europa querem enfraquecer organismo
"Os países desenvolvidos querem que a Unctad tenha um papel menor", diz o professor. A Unctad tem ajudado as nações mais pobres a formularem questionamentos técnicos junto à Organização Mundial de Comércio (OMC) contra os subsídios agrícolas. De acordo com Presser, há uma tentativa de restringir as atividades da Unctad com cortes nas verbas que as Nações Unidas destinam ao órgão.
Opinião semelhante manifestou a coordenadora da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), Iara Pietrivovsky, em entrevista à Agência Brasil, na última sexta-feira (04). A coordenadora afirmou que os Estados Unidos e a União Européia querem esvaziar a Unctad, e a transformar apenas em uma entidade de apoio técnico aos países da África, repassando as suas demais atribuições à OMC. Hoje, a Unctad é o organismo mundial responsável por analisar todas as questões de comércio do ponto de vista dos países em desenvolvimento.
O papel da Unctad, portanto, deve ser um dos pontos altos de discussão durante a Conferência que vai ocorrer em São Paulo. A abertura do encontro será feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 14. Haverá uma série de seminários com temas que vão desde os produtos transgênicos até a atuação dos organismos internacionais de comércio.
ONGs mundiais virão à Conferência
Organizações Não-Governamentais de todo o mundo também participar da Unctad atraídas principalmente pelo Fórum da Sociedade Civil, um encontro organizado pela Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrif) e Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong). O Fórum vai ocorrer entre os dias 11 e 17 de junho no Pavilhão Oeste do Anhembi. As discussões servirão de base para formulação de um documento sobre direitos humanos e soberania dos povos.
*com informações da Agência Brasil

