São Paulo – A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO, na sigla em inglês), agência das Nações Unidas, trabalha em estreita colaboração com o setor privado e vem buscando novas parcerias para levar adiante sua estratégia. A UNIDO tem como missão promover, dinamizar e acelerar o desenvolvimento industrial, com inclusão, sustentabilidade e inovação, e infraestrutura resiliente.
Na última semana, o diretor-geral de Inovação e Transformação Econômica dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da UNIDO, Gunther Beger, esteve na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, onde conversou com lideranças da instituição sobre cooperação.
Em entrevista escrita à ANBA, após a reunião, Beger disse que o engajamento do setor privado é um fator-chave para que aconteçam mudanças significativas no desenvolvimento econômico e industrial sustentável. “O setor privado possui o conhecimento, a tecnologia e os recursos necessários para isso”, falou.
A UNIDO vem adotando abordagem ampliada nas parcerias com o setor privado e trabalha para aumentá-las. “Estamos fazendo grandes esforços para formar novas parcerias a fim de mobilizar esses recursos para um novo nível de engajamento, com parcerias inovadoras que beneficiem todos os envolvidos”, disse.

Um dos objetivos da reunião de Beger na Câmara Árabe foi entender melhor o trabalho da instituição e explorar potenciais sobreposições com as prioridades na UNIDO no Brasil. A Câmara Árabe tem como missão estreitar o relacionamento entre o Brasil e os países árabes, com especial foco na área econômica. Beger relata que a UNIDO mantém parceria muito produtiva com a região árabe.
“A União das Câmaras Árabes é uma parceira forte em nossa cooperação contínua, especialmente por meio do nosso Escritório de Promoção de Investimentos e Tecnologia (IPTO) no Bahrein”, diz. Há cooperação em promoção de serviços financeiros e não financeiros para empreendedores e micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) pelo Programa de Desenvolvimento Empresarial e Promoção de Investimentos (EDIP).
Beger conta que, mais recentemente, em cooperação com a Organização de Contabilidade e Auditoria para Instituições Financeiras Islâmicas (AAOIFI), a União de Bancos Árabes (UAB) e outros parceiros, a UNIDO lançou programa que mobilizará finanças islâmicas e árabes para apoiar as pequenas e médias empresas.
A partir do encontro na Câmara Árabe, o diretor-geral vislumbra uma série de possibilidades de cooperação em áreas como alimentos halal e desenvolvimento da infraestrutura. Foram identificados também eventos e conferências de interesse e participação comuns, que poderão ser explorados. Sobre o encontro, ele destaca a ampla e sólida atuação da Câmara Árabe no Brasil e as oportunidades de parceria entre a região árabe e o Brasil, como nos segmentos de fertilizantes e alimentos. Os países árabes fornecem adubos ao mercado brasileiro e os brasileiros, por sua vez, exportam alimentos para a região.
“A Câmara Árabe atua não apenas no Brasil, mas também em outras regiões. A cooperação na África também pode ser uma possível forma de colaboração. Países afetados por conflitos precisam de apoio ativo em seus esforços de recuperação, e parece haver um interesse mútuo em desempenhar um papel nisso, especialmente no setor do agronegócio. Já temos forte base de cooperação com a União das Câmaras Árabes, que também se estende a vários países africanos. Agora, queremos explorar como a Câmara de Comércio Árabe Brasileira pode ser uma parceira na região”, disse.
Fome e mudanças climáticas
A UNIDO atua com três prioridades, conforme definido pelo diretor-geral Gerd Müller. As descrevendo bem resumidamente, as três frentes são promover cadeias de suprimentos justas e sustentáveis; limitar a degradação climática e a fornecer acesso a soluções de energia renovável e eficiência energética; e acabar com a fome por meio da agregação de valor de alimentos, entre outras formas. “Fome e pobreza, mudanças climáticas e degradação ambiental são os principais desafios que todos enfrentamos hoje”, diz Beger.
No Brasil, o portfólio concentra-se principalmente na descarbonização da indústria e na eficiência energética, segundo o executivo. “Temos um número crescente de projetos focados em áreas como transição energética, descarbonização industrial e economia circular, o que demonstra um forte alinhamento do nosso trabalho com as metas nacionais do Brasil”, afirma. Áreas como mercado de carbono, produção de hidrogênio verde e fertilizantes com baixo teor de amônia também são analisados pela UNIDO como possível foco no Brasil, assim como estabelecer projetos no agronegócio.
A UNIDO estará fortemente representada na COP30, de acordo com Beger. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ocorrerá no estado brasileiro do Pará, em dezembro. “A UNIDO está prevendo uma série de eventos sobre questões críticas, incluindo segurança alimentar e agronegócio, bioeconomia, minerais responsáveis e verdes, hidrogênio verde e fertilizantes de amônia de baixa emissão, e descarbonização industrial e eficiência energética. Todas essas questões importantes se alinham com as seis áreas temáticas delineadas na 4ª carta do Presidente da COP30”, diz.
Na Câmara Árabe, Beger esteve acompanhado da Associada de Projeto, Marie-Christin Schabus, e foi recebido pelo vice-presidente de Relações Internacionais e secretário-geral, Mohamad Mourad, pela diretora de Relações Institucionais, Fernanda Baltazar, e pelos diretores Arthur Jafet, Alessandra Frisso e Sami Roumieh.
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