Sharjah – As universidades de São Paulo (USP) e de Sharjah (UoS) assinaram nesta quarta-feira (07) um memorando de entendimento acadêmico que envolverá a troca de conhecimentos, pesquisas, intercâmbios de professores, estudantes e pesquisadores em áreas de sustentabilidade. O acordo assinado na sede da Universidade de Sharjah envolveu também a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que facilitará os trabalhos entre as entidades.
Além da assinatura do MoU, a Universidade de Sharjah conduziu o evento “Diálogo Estratégico para a Agenda de Mudanças Climáticas, Soluções Baseadas na Natureza e Implementação do Mercado de Carbono”, resultado de esforços conjuntos da USP, da UoS e apoio da Câmara Árabe e da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo.
O diretor do escritório de Relações Internacionais com parceiros da Universidade de Sharjah, professor Abdelaziz Soufyane, disse que o acordo é muito importante para facilitar a pesquisa sobre questões relacionadas às mudanças climáticas e transição energética, e também o intercâmbio de pesquisadores e estudantes entre as universidades. Segundo ele, o memorando tem duração inicial de cinco anos e a ideia é promover conjuntamente workshops e programas de mobilidade, além de facilitar as trocas entre as universidades, para que trabalhem juntas.
A professora da Faculdade de Direito e superintendente de Gestão Ambiental da Reitoria da USP, Patrícia Iglesias, falou sobre a importância do memorando firmado. “Entendemos como fundamental essa cooperação com a Universidade de Sharjah porque queremos fazer um trabalho conjunto pensando na COP30 de 2025, o que podemos trazer de contribuição para lá e vice-versa. Aqui, temos uma região muito forte na parte de energia, eles estão buscando muito as questões de novas tecnologias, muito embora seja um combustível mais fóssil, e também tentamos trazer para nossa agenda da sustentabilidade”, disse.
Iglesias informou que a USP tem muitas pesquisas, inclusive em hidrogênio verde, e que há sinergias com a Universidade de Sharjah. “A ideia agora é colocar professores de cada umas dessas escolas conversando e vendo onde podemos ter troca de pesquisadores, de alunos, de professores, tanto daqui para o Brasil, como do Brasil para cá, podendo avançar ainda mais esses trabalhos sempre na área de sustentabilidade”, declarou.
O acordo inicialmente tem cinco anos, mas as primeiras entregas serão daqui dois anos, antes da COP30. “Acho importante reforçar a participação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, porque o reitor da USP, o professor [Carlos] Carlotti, entende que a universidade não pode ficar pesquisando só na teoria, que temos que ajudar a resolver problemas que são de políticas públicas, e a câmara faz essa conexão com a atividade privada e pode trazer esses inputs”, disse.
O presidente da Câmara Árabe, embaixador Osmar Chohfi, disse na abertura do evento que o aquecimento global é uma questão crítica para as nossas sociedades, principalmente para os países em desenvolvimento. “A parceria formalizada entre as duas renomadas universidades representa um esforço conjunto importante para abordar esse problema. Juntas, as duas instituições podem combinar conhecimento e recursos para desenvolver pesquisas e práticas que impulsionem o desenvolvimento de Soluções Baseadas na Natureza e contribuam para o debate global sobre a implementação do Mercado de Carbono”, disse.
Para o embaixador, a cooperação internacional é fundamental para enfrentar os desafios climáticos e além da ação governamental, a convergência entre academia e setor empresarial tem papel crucial na transição para uma economia descarbonizada. Ele declarou que “a Câmara Árabe deseja desempenhar um papel de facilitadora por meio da promoção do diálogo e colaboração entre universidades e empresas interessadas em adotar processos e práticas mais sustentáveis”.
“A cooperação entre instituições acadêmicas de diferentes regiões geográficas e culturas enriquece a pesquisa e o desenvolvimento, reunindo perspectivas diversas. A troca de experiências entre as universidades de Sharjah e São Paulo não apenas pode impulsionar a excelência acadêmica, mas também contribuir para a formação de uma geração de profissionais capazes de lidar com os desafios complexos relacionados às mudanças climáticas”, disse.
Segundo o embaixador Chohfi, além do progresso na identificação de problemas e nas ações consequentes a serem empreendidas, é necessário encontrar soluções econômicas viáveis para a descarbonização, que incentivem a implementação de estratégias de conservação da natureza e a mitigação das emissões de carbono em todo o mundo. “Deve-se dar atenção especial à situação dos países mais vulneráveis ou menos preparados para enfrentar esses desafios”, disse.
A expectativa é que até 2025, quando a COP30 ocorrerá em Belém do Pará, no Brasil, as partes possam apresentar e discutir seus frutos em termos de propostas de políticas públicas, iniciativas privadas, programas de financiamento e cooperação internacional.
Diálogos
O evento na Universidade de Sharjah reuniu cerca de 60 pessoas, principalmente do Brasil, mas também dos Emirados Árabes Unidos, dos setores público, privado e academia. Da Universidade de Sharjah, estavam presentes o vice-reitor de Pesquisa e Estudos de Pós-Graduação, professor Maamar Bettayeb; o diretor do Instituto de Pesquisa para Ciências e Engenharia, professor Abdallah Shanableh; o presidente do Departamento de Financiamento de Pesquisa, professor Chaouki Ghenai; o reitor da universidade, Hamid Al Naimiy; o professor Ali Ali El-Keblawy, do Departamento de Biologia Aplicada da Faculdade de Ciências da UoS.
De São Paulo, estavam a presidente do Conselho Ambiental da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo, Rosa Ramos; o decano da USP, professor Carlos Gilberto Carlotti Junior; o professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, coordenador do Centro de Estudos do Carbono na Agricultura Tropical da USP.
Foram discutidos, entre os temas do dia, as melhores práticas e políticas públicas que podem ser implementadas na América Latina e nos países árabes. Deste painel, participaram Enéas Xavier de Oliveira Junior, pesquisador em Direito das Mudanças Climáticas, Doutorando na Universidade de Montreal e Pesquisador no Núcleo de Estudos em Tribunais Internacionais (NETI-USP); Fernanda Fernandez, professora e consultora da Superintendência de Gestão Ambiental na USP; David Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim; Guilherme Piai Filizzola, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, e o doutor James Arruda, chefe de Pesquisa em Abelhas do Centro de Pesquisa de Fujairah.