Débora Rubin
São Paulo – Despertar o público universitário para o universo árabe, indo muito além dos estereótipos. Este é o objetivo da Mostra de Cinema Árabe que será realizada na Universidade de São Paulo (USP) a partir do dia 31 de maio. A iniciativa é do Centro de Estudos Árabes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
Serão exibidos dois filmes longa-metragem e três curtas, nos dias 31 de maio, 7 de junho e 14 de junho. Após os filmes, haverá debates. "A intenção é despertar o interesse de potenciais pesquisadores e, se possível, sugerir temas de estudos relacionados à situação contemporânea dos países árabes", explica o diretor do centro e organizador da mostra, Paulo Farah.
O primeiro filme a ser exibido é o documentário "Nós e os Outros: um retrato de Edward Said", do diretor Emmanuel Hamon. Said foi um intelectual palestino que viveu nos Estados Unidos. O filme mostra seus últimos dias antes de morrer, em 2003. Em uma das passagens, há um debate de Said com o maestro Daniel Barenboim, argentino naturalizado israelense, em que ele questiona as visões culturalistas sobre o Oriente.
O segundo, a ficção "As Ruas da Casablanca", do diretor marroquino Nabil Ayouch Ali Zaoua, mostra um grupo de meninos de rua que comete pequenos furtos para sobreviver na maior cidade do Marrocos. Até que um dia um deles morre e os demais precisam arranjar dinheiro para o funeral do amigo.
Por fim, no dia 11 de junho serão exibidos três curtas do diretor libanês Akram Zaatari. "Ensine-me", "Louco por Você" e "Chiclete Vermelho", que falam da imagem que o mundo tem dos árabes, como as notícias são dadas nos telejornais e como sua cultura é tratada no cinema. Os dois últimos falam também da sexualidade nos centros urbanos como Beirute, capital do Líbano, e das transformações sociais que ocorreram no país nos últimos anos.
A escolha de filmes tão diferentes se justifica. Segundo Farah, a idéia é fazer um pequeno painel da diversidade cultural árabe. Além disso, o professor quer mostrar que países como o Líbano e o Marrocos fazem parte de um contexto global no qual há desde desigualdade social até intelectuais que são referências no mundo ocidental, como Edward Said.
"Aqui no Brasil ainda se tem uma visão muito mítica do mundo árabe. Como se fosse algo profundamente diferente do ocidente", explica Farah. "É uma imagem exótica. É como se fosse um povo estranho, não civilizado". Além disso, diz Farah, as notícias que chegam aqui são sempre de conflitos. "Queremos mostrar que lá também existem universidades, pesquisas, vida cultural."
Como três filmes tampouco retratam a amplitude da cultura árabe, o Centro de Estudos quer fazer da Mostra um evento permanente. "Queremos fazer uma exibição como essa pelo menos a cada semestre", avisa Farah.
Serviço
Quando: dias 31/05, 7/06 e 14/06 sempre às 12h30
Onde: prédio de Letras, sala 261, FFLCH
Endereço: avenida Prof. Luciano Gualberto, 403, USP
Para quem: estudantes universitários e demais interessados