Marina Sarruf
marina.sarruf@anba.com.br
São Paulo – A Universidade de São Paulo (USP) vai ser a primeira da América do Sul a oferecer curso de suaíli, língua falada na maior parte da África do leste, na região central do continente e em alguns países árabes. As aulas, que começam na próxima terça-feira (10), serão promovidas pelo Centro de Línguas da Faculdade de Letras da USP e as inscrições são abertas para o público em geral. “O curso é uma forma de divulgar um pouco mais da cultura árabe e africana no Brasil”, afirmou a professora de suaíli, Juliana França Macek.
De acordo com ela, o curso de suaíli já existe em cerca de 100 universidades nos Estados Unidos, na Inglaterra, Alemanha, Coréia do Sul e Japão. “As grandes universidades já oferecem o curso há muito tempo. O Brasil está atrasado”, disse. O curso, que vai ocorrer às terças e quintas-feiras durante dois meses, terá aulas de duas horas de duração e tem como objetivo ensinar o aluno a identificar e compreender a língua suaíli dentro do contexto africano. “Vai ser um curso básico para entender a língua”, completou.
A palavra em português suaíli vem de Swahili, nome da cultura dos povos que vivem na região leste e central da África e também conhecida como o nome da língua falada por eles. No entanto, Juliana afirma que o nome original da língua é Kiswahili e que 30% do seu vocabulário é de origem árabe. Swahili, por exemplo, vem da palavra árabe sahil, que significa costa, litoral, margem e que no plural se escreve sawâhil.
Segundo Juliana, a pronuncia do suaíli é muito semelhante ao português, porque se pronuncia como se lê. “O suaíli é uma língua não tonal (sem tom) e sem acento, o que torna mais fácil para os brasileiros aprenderem”, disse. Alguns exemplos dados pela professora foram as palavras “tembo”, que significa elefante e “karibuni”, que quer dizer boas vindas.
O suaíli é falado como primeira língua na faixa litorânea que se estende do sul da Somália, que é um país árabe, abrangendo todo o litoral do Quênia e da Tanzânia, até a região norte de Moçambique, incluindo diversas ilhas localizadas ao extremo oeste do Oceano Índico, como as Ilhas Comores, que também é um país árabe. Outros países que também falam o suaíli são: Uganda, República Democrática do Congo, Ruanda, Zâmbia, Burundi e Djibuti, que também é um país árabe. Já na Península Arábica, cerca de um terço da população de Omã utiliza o suaíli como primeira língua, segundo a professora, e parte da população do Iêmen também fala o idioma.
“Foi por causa do comércio entre os árabes da Península Arábica com os africanos do leste que surgiu o suaíli”, explicou Juliana. Segundo estudos da professora, o comércio entre as duas regiões é uma história que se iniciou até mesmo antes de Cristo. “Os árabes desciam a costa africana com a ajuda dos ventos das monções com o objetivo de comercializar utensílios de cerâmica, tecidos, instrumentos de ferro, em troca de escravos africanos, marfim, ouro, madeira, conchas e perfumes, retomando a seus portos de origem quando os ventos das monções invertiam sua direção”, afirmou.
De acordo com Juliana, esse contato entre os árabes e africanos fez com que eles passassem por um processo de miscigenação. “Os árabes faziam famílias no leste africano, o que acabou criando uma cultura bem heterogênea. Toda a literatura na região era escrita em árabe até o século 16”, disse. A professora lembrou também do viajante marroquino Ibn Batuta, que já costumava descer a costa leste africana em 1331. No entanto, a maior influência árabe que a costa leste africana recebeu foi quando Omã dominou a região de Zanzibar, arquipélago localizado na costa da Tanzânia.
O Sultanato de Zanzibar começou por volta de 1850 e foi até 1964, sendo seu primeiro sultão Said Bin Sultan, que transferiu a capital de Omã para a região. “O comércio era super rentável nessa região. Said também estabeleceu uma enorme plantação de cravo na região, aumentando o comércio”, disse Juliana. Após mais de 100 anos de domínio árabe, Zanzibar foi deixado pelos omânis, que retornaram ao seu país de origem levando a língua e a cultura africana.
Estudos em Zanzibar
Juliana é formada em Letras e Geografia pela USP e sempre teve interesse pela cultura leste africana. “Meu interesse pela história da África do Leste me levou a conhecer a língua suaíli. Procurei cursos para estudar a língua, mas não achei, então comecei a estudar sozinha”, afirmou.
Em 2005, a professora foi para Zanzibar, onde passou três meses estudando a língua na Universidade de Zanzibar. Juliana também passou pelo Quênia e Tanzânia. Após sua experiência, Juliana fez mestrado em Polidez Lingüística na USP e atualmente faz parte do Grupo de Estudos de Línguas Africanas da universidade, onde está fazendo doutorado.
No ano passado, Juliana começou a dar aulas na USP e na Universidade de Campinas (UNICAMP), mas eram cursos extensivos. Em 2006, a professora retornou ao Quênia, onde foi estudar o Sheng, língua falada por crianças de rua de Nairobi, capital do país. Em setembro deste ano, Juliana deve voltar para Universidade de Zanzibar para continuar seus estudos. Segundo ela, não existe material didático elaborado em português para o suaíli, então todas as aulas do curso foram montadas baseadas em livros trazidos por ela do Quênia e da Tanzânia.
Serviço
Centro de Línguas da USP
Tel: +55 (11) 3091-4851
E-mail: clinguas@edu.usp.br

