Cláudia Abreu
São Paulo – Valentino, o estilista mestre do vestido, também cria saias mais longas do que as tradicionais e peças em tecidos leves para atender os consumidores do mundo árabe. A grife italiana abriu recentemente uma butique em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Existem ainda outras duas, mais antigas, na região: uma em Beirute, no Líbano, e na Cidade do Kuwait. "O Oriente Médio faz parte da estratégia da marca de investir em novos mercados", afirma Malu Barretto, diretora de marketing da Valentino, que esteve no Brasil, na semana passada, para um workshop no Istituto Europeo di Design (IED), em São Paulo.
Segundo a executiva, em todas as coleções lançadas a marca trabalha com um modelo de saia mais longo do que os apresentados nas passarelas justamente para atender as consumidoras do mundo árabe. "Criamos sempre mais um modelo para apresentar ao mercado do Oriente Médio", explica Malu.
As peças, femininas e masculinas, também são confeccionadas em tecidos mais leves, na coleção de inverno, para serem vendidas aos árabes. "São os mesmos modelos, mas usamos tecidos mais adequados ao clima quente da região", explica Fabio Falleti, diretor da marca para o segmento masculino.
Os investimentos no Oriente Médio começaram após mudanças estruturais na marca. Em 2002, a grife foi vendida para o grupo italiano Marzotto, um dos conglomerados de moda que vem ganhando força na Europa nos últimos anos.
A partir da aquisição foi traçado um plano para reposicionar a marca Valentino no mercado mundial. Além do bloco árabe, o mercado russo e o asiático, principalmente Japão e China, se tornaram regiões importantes para a expansão da grife. No Japão, segundo Malu, já são 23 butiques. Lá existe uma parceria do Marzotto com um grupo japonês. Os italianos, no entanto, detêm 51% da participação nas lojas japonesas.
No Brasil, a presença da marca é pequena, "apesar de ser o único país da América do Sul significativo para a grife", segundo Malu. As peças assinadas por Valentino só são encontradas na loja Daslu, em São Paulo. "E a seleção é feita pela Daslu, não pela Valentino. Então, não é o nosso conceito para o mercado brasileiro que está estampado ali", afirma Malu. A executiva conta que os clientes do Brasil realmente fiéis à grife Valentino adquirem as peças de vestuário em viagens aos Estados Unidos e Europa.
Malu acredita que é a questão financeira que ainda impede o avanço da grife no Brasil. Um tailleur Valentino pode custar até 7.500 euros. Um casaco bordado 6.500 euros, um de vison 20.000 euros. Embora exista no país uma elite que pode consumir peças desse valor, os consumidores encontram, dentro dessa faixa de preços, outras marcas européias, que trabalham mais fortemente o mercado brasileiro, como Prada, Dolce & Gabbana e Louis Vuitton.
Estilo Valentino
Valentino é um dos mais famosos estilistas do século 20. Aos 73 anos, ficou conhecido pelas roupas de alto luxo e por suas frases famosas como "o vermelho é o meu preto". E ele estampou isso nas passarelas. Seus glamourosos vestidos vermelhos foram exibidos por celebridades de todas as grandezas. Jacqueline Kennedy usou um vestido vermelho assinado por Valentino quando se casou com o armador grego Aristóteles Onassis. O estilista também é o preferido de atrizes como Sophia Loren e outros tantos nomes de Hollywood. A princesa Diana também vestia Valentino.
O estilista começou a carreira na França, em Paris. Trabalhou com Jean Dèsses e depois passou para a Maison Guy Laroche. O sucesso, no entanto, aconteceu na Itália, no final da década de 50, quando Valentino abriu uma casa de alta costura em Roma. Em 1962 mostrou seus modelos na cidade de Florença e ganhou fama internacional com produções de grande estilo e qualidade.
Suas coleções dos anos 70 e 80 eram suntuosas, não poupavam detalhes extravagantes, como grandes laços, mas Valentino soube se adaptar muito bem à simplicidade exigida pelos anos seguintes. No final dos anos 90, ele vendeu a marca para uma associação industrial comandada por um herdeiro da Fiat que pretendia criar um grupo de moda. A estratégia não deu certo e acabou afundando a grife italiana, que já vinha sofrendo com a falta de recursos para competir no mercado mundial. Depois de alguns anos de crise, em 2002, surgiu o grupo Marzotto, também dono da Hugo Boss, que comprou a marca.