Geovana Pagel
São Paulo – Em menos de duas décadas, o bloco formado pelos países árabes se tornou o segundo maior mercado de exportações da Marcopolo S.A., líder nacional e uma das maiores fabricantes mundiais na produção de carrocerias para ônibus rodoviários, urbanos e micros. No período de 2000 a 2002, as exportações aumentaram 9.200%, passando de 8 para 737 unidades.
No ano passado, os negócios internacionais representaram cerca de 62% do faturamento da empresa. "Foram exportadas 4,8 mil unidades, gerando uma receita de R$ 930 milhões", diz Carlos Zignani, diretor de Relações com Investidores. Deste total de 4,8 mil unidades exportadas, 737 (15,3%) foram destinadas aos países árabes.
Este ano, a Marcopolo já embarcou 328 unidades de ônibus para os Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein e Arábia Saudita. Até outubro, mais 200 unidades serão exportadas.
De acordo com Zignani, a aproximação com o mercado árabe ocorreu há aproximadamente 15 anos, em função de parcerias com fabricantes de chassi como a Scania e a Mercedes-Benz. "Principalmente a Mercedes-Benz já mantinha contato com os árabes, o que permitiu a primeira negociação", conta.
Segundo ele, a maior diferença entre negociar com os árabes e os demais países do mundo é estar disposto a atender às exigências culturais e religiosas, específicas daqueles países.
Entre as exigências mais comuns estão a fabricação de ônibus com divisórias, que permitem às mulheres contar com bancos reservados e viajar separadas dos homens, ar-condicionado, isolamento térmico especial e janelas com vidros com película para facilitar a absorção do calor, poltrona urbana estofada e itinerário em inglês e árabe. Os veículos devem ter também três portas: duas na frente, para a entrada e saída dos homens, e uma traseira, para utilização das mulheres.
Sistema modelo
Vale ressaltar que os 130 ônibus do modelo Gran Viale, enviados no último mês de julho para os Emirados Árabes, foram vendidos à Dubai Municipality, empresa responsável pelo transporte urbano de passageiros de Dubai, cidade cujo sistema é considerado modelo no Oriente Médio.
Hoje a Marcopolo detém cerca de 70% da frota da Dubai Municipality, que conta com aproximadamente 600 unidades em operação. Já na Arábia Saudita, dos 25.000 ônibus em circulação, 850, na cidade de Taseco, levam a marca Marcopolo. Até o final do ano, esta cidade receberá mais 150 ônibus e outros 50 serão destinados à capital, Riad.
Teto removível
Do contrato fechado pela Marcopolo com a Arábia Saudita para o envio de 1.500 ônibus, há dois anos, constava que 80 unidades, produzidas especialmente para os importadores, deveriam ter teto removível. "Estes veículos são utilizados no transporte de peregrinos para as cidades sagradas de Meca e Medina, porque não pode haver nada entre a cabeça da pessoa e Alá", explica Carlos Zignani, diretor de Relações com Investidores da Marcopolo.
O diretor afirma que os países árabes do Oriente Médio representam um importante mercado para a empresa. "Para garantir um contato direto tão valorizado pelos importadores árabes, há cinco anos trabalhamos com um escritório de representação em Dubai, nos Emirados Árabes", ressalta. Na Brasa Middle East funciona a administração, assistência técnica e a comercialização de carrocerias e peças de reposição.
Para ampliar ainda mais os contatos e conseqüentemente as exportações, a próxima meta da Marcopolo é participar da reconstrução do Iraque, pós-guerra. "Como o mercado ainda está muito inseguro, estamos aguardando o melhor momento para levar este objetivo adiante", garante Zignani.
Papel do governo brasileiro
Carlos Zignani defende que o governo federal tenha um papel importante no incentivo ao comércio bilateral entre brasileiros e árabes. Segundo ele, o governo deve criar novos mecanismos de relacionamento com estes países e, em contrapartida, as empresas deveriam aproveitar todas as oportunidades de novos contatos como, por exemplo, participar de missões e feiras internacionais.
"As missões comerciais promovidas pela Câmara do Comércio Árabe-Brasileira são de fundamental importância para a divulgação dos produtos. A Marcopolo já participou e sempre participará de missões e feiras que possam trazer negócios imediatos bem como prospecção futura nos mercados", afirma.
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