Alexandre Rocha
São Paulo – As exportações brasileiras de frango para os países árabes aumentaram 32,89% na primeira quinzena de janeiro em comparação com o mesmo período do ano passado. As receitas geradas com os embarques chegaram a US$ 40,21 milhões, segundo informações da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). O Oriente Médio é o maior mercado do frango brasileiro no exterior.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Julio Cardoso, o aumento nas vendas para os árabes não pode ser considerado um reflexo da ocorrência de problemas sanitários em outros países exportadores, como a gripe do frango na Ásia e o aparecimento de um caso do mal da vaca louca no final do ano passado nos Estados Unidos.
De acordo com ele, a variação dos números ocorrida nos primeiros dias do ano se deve a um acúmulo de pedidos feitos em dezembro e que acabaram transferidos para janeiro “por questões logísticas”.
Ele acredita que eventuais efeitos positivos da ocorrência dos problemas sanitários, nas exportações brasileiras para os árabes, não deverão aparecer no curto prazo. “O produto destinado ao mercado árabe, com o abate halal feito dentro das regras islâmicas, é produzido de forma totalmente separada e é muito diferente do frango destinado à Europa ou à Ásia. Portanto, não haverá um impacto imediato direto”, disse Cardoso à ANBA, por e-mail.
Desgraça de uns, alegria de outros
No entanto, Cardoso afirmou que os problemas sanitários ocorridos em outros países já aumentaram a procura pelo frango brasileiro em termos globais, principalmente no Japão e na Europa, fato que deverá gerar um aumento na produção nacional.
Outro fator que poderá impulsionar as exportações é o relaxamento das restrições à importação de frango brasileiro pela União Européia. A UE passará a testar apenas 20% dos frangos comprados do Brasil para a presença de um antibiótico vetado naquela continente, ao invés da totalidade dos produtos como ocorre atualmente.
“Acreditamos que o Brasil tem capacidade para atender ao mesmo tempo todos esses mercados”, afirmou o presidente da Abef. Segundo ele, o país vai produzir este ano cerca de 8 milhões de toneladas de frango, sendo que 2,2 milhões de toneladas deverão ser exportadas. No ano passado foram embarcadas 1,958 milhão de toneladas de frangos inteiros, em pedaços e carne industrializada.
Na segunda-feira (02), após reunião da Câmara Setorial da Cadeia produtiva do Milho e Sorgo, Aves e Suínos no Ministério da Agricultura, Cardoso disse que a ocorrência da gripe do frango na Ásia representa “uma grande oportunidade para a avicultura brasileira”. O secretário-executivo do ministério, Amauri Dimarzio, acrescentou que empresários japoneses e sul coreanos interessados em comprar frango virão ao Brasil nos próximos dias.
Prevenção
No entanto, os produtores e o governo não pretendem ficar parados assistindo à desgraça dos outros. Durante a reunião, foi acertada a criação de uma campanha de prevenção à doença. Entre as medidas que poderão ser adotadas está a instalação de “pedilúvios”, aquela espécie de tapete para desinfecção, nos portos e aeroportos.
Durante a reunião foi criado um grupo temático para desenvolver a campanha e que vai apresentar suas sugestões até quinta-feira (05) a Dimarzio. Entre as propostas apresentadas pelo próprio secretário-executivo estão a elaboração de um documento com perguntas e respostas sobre gripe do frango a ser distribuído para a população, a edição de um “resumo técnico” para a cadeia produtiva, o reforço no programa de capacitação de técnicos no combate à doença e a revisão da legislação sanitária da avicultura.
Embora nenhum caso da doença tenha sido registrado no Brasil e Dimarzio achar que a probabilidade dela chegar ao país é “praticamente zero”, ele disse que medidas adicionais são necessárias para eliminar qualquer possibilidade disso ocorrer.