Roma – Valentino marca símbolo da alta moda italiana agora pertence ao mundo árabe. Esta semana o controle do Valentino Fashion Group (VFG) passou ao Mayhoola for Investment, sociedade catariana pertencente ao xeque Hamad Bin Khalifa Al Thani, emir do país árabe e um dos homens mais ricos do mundo. Os detalhes da operação são secretos, mas a cifra estimada é de 700 milhões de euros, como publicou o jornal italiano Il Sole 24 ore.
Alla romana
Valentino é uma típica história italiana. A maison foi fundada pelo jovem Ludovico Garavani da Voghera, Valentino, que de Roma se transferiu para Paris nos anos 50 para se dedicar aos estudos de alta moda. Em 1959, retornou ao seu país e com a ajuda do pai abriu o seu primeiro ateliê na rua dei Condotti _ uma das mais importante ruas de moda da capital italiana. Na década de 1970, a marca cai nas graças de Jacqueline Kennedy, um ícone do bem vestir. O vermelho Valentino ganha o mundo e a marca se consolidou no segmento luxo.
Vermelho não tão Valentino
Os últimos anos, no entanto, a marca passou por períodos complicados. Em 2007, Valentino deixou a maison por desacordo com os gestores e acionistas, principalmente os ingleses do grupo financeiro Permira e os italianos da família Marzotto, que tinham adquirido participação na marca em 2002. Um novo administrador assumiu o controle do grupo, Stefano Sassi, e deu-se inicio à reestruturação da empresa para, literalmente, tirá-la do vermelho já considerando a venda para um conglomerado de luxo da Europa _ quase todos com participação árabe.
Os franceses do LVMH (Louis Vuitton Moet Hennesy) já tinham feito feira em terras italianas levando Bulgari, Fendi (1999) e Emilio Pucci (2000). Outro grupo administrado por franceses, o PPR, comprou Gucci e Bottega Veneta. No ano passado, os árabes do Paris Group de Dubai apareceram pela primeira vez na alta moda italiana e compraram GF Ferre. Mas nada tão representativo para a Itália _ e para o mundo da moda _ quanto a aquisição de Valentino pelo emir Al Thani.
Negócios, não caprichos
Os jornais italianos noticiaram que por trás da compra da marca Valentino, está o desejo de uma das três esposas do emir do Catar, Mozah bint Nasser Al Missned. Bela, sofisticada e dedicada, Mozah é a segunda mulher do xeque. Aos 53 anos, mãe de sete filhos, é considerada a primeira dama do país árabe. Nas viagens oficiais, é ela que acompanha o marido e representa o Catar. Elegante, quase sempre vestindo um belíssimo Valentino nas ocasiões que assim o pedem, Mozah segue o mesmo caminho aberto pela rainha Rania, da Jordânia. Está na lista da 100 mulheres mais poderosas e influentes do mundo, da revista Forbes, ocupando a 74 posição no ranking _ duas atrás de Rania. É ativa nas campanhas favoráveis ao acesso à educação, cultura e aos direitos das mulheres no mundo árabe, mas sabe bem misturar inovação e tradição. Os cabelos estão sempre cobertos e presos.
De bom tom
Especialistas, no entanto, dizem que o desejo de Mozah é apenas um bom marketing para o país árabe. O negócio Valentino foi bom para as duas partes. “Chegou o financiamento que por anos faltava à marca”, disse Valentino, mesmo estando fora da operação. O preço pago, em tempos de crise, é considerado recorde na Europa para o setor. Para o emir do Catar, Valentino é mais uma marca de moda cinco estrelas que entra para a sua coleção estratégica. Ele é proprietário das lojas Harrods em Londres, tem uma participação no LVMH e na Tiffany. As contas da Valentino, após a reestruturação de 2007, são outro ponto forte. No ano passado, a marca faturou 322 milhões de euros. E este ano, nos primeiros seis meses, o faturamento cresceu 23% _ em relação ao mesmo período de 2011. Portanto muito mais negócio do que fábula.