São Paulo – O fortalecimento do intercâmbio econômico é o principal objetivo da viagem que o presidente Jair Bolsonaro vai fazer aos Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita de 26 a 31 de outubro, segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (10), em Brasília, pelo embaixador Kenneth Félix da Nóbrega (dir., na foto), secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Itamaraty.
“O aspecto principal da visita é levar ao conhecimento destes países as reformas macro e microeconômicas em curso no Brasil que vão permitir ao País passar para uma fase de crescimento sustentado, ou seja, dar uma interface externa ao programa de reformas econômicas”, disse o diplomata em briefing para jornalistas.
A ideia é apresentar aos fundos soberanos e demais investidores destes três países os projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). De acordo com Nóbrega, são 18 projetos no valor de R$ 1,3 trilhão, principalmente concessões e privatizações. Além disso, segundo ele, deverão ser apresentadas oportunidades nas áreas de energias renováveis, médica e hospitalar, defesa e infraestrutura.
“Estes países têm grandes fundos soberanos”, observou o embaixador. No caso dos Emirados, ele ressaltou que os fundos do país têm mais de US$ 1 trilhão em ativos, sendo que seus investimentos no Brasil atualmente somam cerca de US$ 5 bilhões. O fundo soberano do Catar, de acordo com Nóbrega, administra US$ 300 bilhões, e seus investimentos no Brasil giram também em torno de US$ 5 bilhões. “Frente à nossa carteira do PPI, há potencial para atrair mais investimentos destes fundos”, declarou.
As instituições sauditas, por sua vez, controlam por volta de US$ 850 bilhões, segundo o diplomata, mas seus aportes no Brasil são pequenos e estão diminuindo desde 2015, em função da recessão no País. Neste sentido, o desafio é voltar a atrair recursos de lá.
“Esta visita vai servir para divulgar as oportunidades de investimentos no Brasil e servirá também para um intercâmbio maior entre nossos exportadores e potenciais exportadores para a região”, afirmou o embaixador.
Comércio
Nóbrega lembrou que as nações do Golfo são grandes importadoras do agronegócio brasileiro e acrescentou que há “muito boas perspectivas de exportação de material de defesa para a região”.
A corrente comercial do Brasil com os Emirados somou US$ 2,6 bilhões no ano passado, com quase US$ 1,5 bilhão de superávit para o lado brasileiro. O embaixador destacou que o país árabe tem grande preocupação com a segurança alimentar e “quer ter no Brasil um fornecedor confiável”. Além de importar produtos, há interesse em investir na produção agropecuária brasileira.
O mesmo vale para o Catar. O comércio bilateral totalizou US$ 540,5 milhões em 2018, com um déficit de US$ 5,3 milhões para o Brasil. A nação do Golfo fornece principalmente fertilizantes, gás e petróleo ao mercado brasileiro.
Já as relações comerciais com a Arábia Saudita movimentaram US$ 4,4 bilhões no ano passado, com saldo negativo de US$ 218,6 milhões para o Brasil. Nóbrega lembrou que os sauditas fornecem 33% do petróleo importado pelo País.
A Arábia Saudita é grande compradora de alimentos do Brasil, sendo um dos principais mercados do frango nacional. De acordo com o diplomata, há possibilidade de investimentos brasileiros no processamento de produtos agropecuários em território saudita.
De acordo com o Itamaraty, a delegação comercial que vai acompanhar a viagem presidencial já conta com 120 inscritos. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira fará parte da missão.
Acordos
A primeira escala será nos Emirados, onde Bolsonaro vai se reunir com autoridades como o príncipe-herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed Bin Zayed Al Nahyan, e participará de um seminário empresarial Brasil-Emirados com o tema “Perspectivas do ambiente macroeconômico e do cenário de negócios brasileiro”.
Entre os acordos que podem ser assinados estão documentos sobre um fundo de cooperação estratégica na área de defesa, cooperação em ciência, tecnologia e inovação, assistência mútua em matéria de administração aduaneira, aviação civil, biodiversidade, produção de alimentos, cooperação cultural e cooperação jurídica em matéria civil.
No Catar e na Arábia Saudita, está previsto o lançamento de negociações de acordos para evitar bitributação sobre a renda em investimentos recíprocos, e de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI). O Brasil já firmou tratados do gênero com os Emirados.
Em Doha, Bolsonaro vai se reunir com o emir do Catar, Tamim Bin Hamad Al Thani, e com o primeiro-ministro, Abdullah Bin Nasser Al Thani, e deve participar de um seminário com o mesmo tema. Ainda na capital catariana, podem ser assinados acordos de isenção de vistos, cooperação em ciência, tecnologia e inovação, entre os ministérios da Defesa dos dois países, cooperação na área de saúde, entre as academias diplomáticas de ambos os países, de assistência mútua em matéria aduaneira, transporte marítimo e cooperação na área de grandes eventos. O Brasil sediou a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e o Catar será a sede da Copa de 2022.
Na Arábia Saudita, Bolsonaro terá encontros com o rei Salman Bin Abdulaziz e com o príncipe-herdeiro Mohammed Bin Salman; participará da Future Investment Initiative, fórum apelidado de “Davos no Deserto”; e estará também em evento empresarial no Conselho de Câmaras de Comércio Sauditas.
Estão sendo negociados um memorando sobre concessão de vistos, acordo de cooperação em defesa, cooperação em ciências e tecnologia, uso pacífico de energia nuclear, administração aduaneira, cultura, e entre o BNDES e o Fundo Saudita de Desenvolvimento.
Política
Outro objetivo da viagem, segundo Nóbrega, se insere na diretriz de política externa do governo de intensificar as relações do Brasil tanto com Israel como com o mundo árabe. Ele lembrou que Bolsonaro visitou Israel em março e agora irá a países árabes. Há possibilidade também de o presidente realizar visitas ao Kuwait e a outra nação árabe ainda não revelada em 2020.
Promessa de campanha de Bolsonaro de mudar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém gerou tensão nas relações com países árabes. Na visita de março, porém, ele anunciou somente a abertura de um escritório comercial em Jerusalém, o que pode ocorrer em novembro ou dezembro.
Questionado sobre o que Bolsonaro dirá se for perguntado sobre este tema nos países do Golfo, o embaixador respondeu: “A resposta vai ser o que está no comunicado conjunto da visita a Israel, que deixa muito clara a decisão do governo brasileiro de abrir um escritório voltado para a promoção de negócios, ciência, tecnologia e inovação em Jerusalém, a ser gerido pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Israel é uma potência na área de inovação. Então é isso que vai ser dito, a decisão foi esta… A não ser que o presidente… É a informação que o Itamaraty tem, que esta é uma decisão que foi plasmada (constituída) num documento conjunto e esta é a decisão”.
Ele acrescentou ainda que Bolsonaro deve conversar com as autoridades dos países visitados não só sobre negócios, mas sobre perspectivas políticas. “É um momento para poder ouvir em primeira mão a percepção dos chefes de estado sobre o que está acontecendo na região, sobre as tensões que estão em curso no Golfo”, declarou Nóbrega. Arábia Saudita e Emirados estão rompidos com o Catar, e há uma escalada na retórica beligerante entre a Arábia Saudita e seus aliados e o Irã.
Vão acompanhar Bolsonaro na viagem os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, da Economia, Paulo Guedes, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e da Cidadania, Osmar Terra. O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, vai participar de um evento na Arábia Saudita dois dias antes da visita presidencial.