Alexandre Rocha
São Paulo – O leitor provavelmente não sabe e vai achar até curioso, mas o Líbano produz vinhos. Isso mesmo, e de boa qualidade, segundo a opinião de quem entende. Pelo menos uma das marcas pode ser apreciada no Brasil, pois já há alguns anos a importadora Mistral, em São Paulo, traz os vinhos Château Musar, da vinícola de mesmo nome pertencente ao libanês de origem francesa Serge Hochar.
“O Líbano produz vinhos há muito tempo no Vale do Bekaa, mas eles são basicamente consumidos no local. Mas como em vários lugares, há um produto que se destaca”, disse o proprietário da Mistral, Ciro Lilla, referindo-se aos vinhos que importa.
De acordo com informações do site da vinícola na internet, o Líbano já produz vinhos desde a época dos fenícios, na Antiguidade. Séculos depois, informa o site, os romanos escolheram a localidade de Baalbeck, na região oeste do país, para erguer o Templo de Baco. As ruínas do complexo templário romano podem ser visitadas até hoje.
Lilla conta que Serge Hochar foi eleito em 1984 o “homem do ano” do mundo do vinho pela revista inglesa especializada Decanter. Um dos motivos da honraria, segundo ele, foi o fato de que o libanês continuou a produzir a bebida mesmo durante a guerra civil que assolou seu país entre 1975 e 1990.
História
“Ele tinha a cantina do lado cristão e os vinhedos na parte muçulmana e era um tormento passar com o caminhão com as uvas de um lado para o outro. Esse esforço heróico, mais a qualidade dos vinhos, fizeram com que ele fosse o eleito”, afirmou Lilla.
A vinícola foi fundada em 1930 pelo pai de Serge, Gaston Hochar, em um castelo do século 18 localizado a 15 milhas ao norte de Beirute. Serge, diz o site da vinícola, estudou enologia na Universidade de Bordeaux, na França. Segundo Lilla, foi de lá que o vinicultor importou as castas e os barris de carvalho que utiliza para produzir a bebida. “É uma espécie de Bordeux do Oriente Médio”, afirmou o dono da Mistral.
Lilla, que também é dono de uma fábrica que produz máquinas para a indústria do café, disse que conheceu Serge em uma viagem que fez ao Líbano para cuidar de seus outros negócios. Começou a importar o vinho em 1993.
“O mercado para esse vinho é pequeno, mas a Mistral sempre busca trazer os melhores vinhos do mundo e esse vinho é excelente”, garantiu. A bebida em questão é um tinto produzido com as uvas Cabernet Sauvignon e Cinsault.
A Mistral tem em estoque exemplares da safra de 1996 ao preço de US$ 49,50 a garrafa. Tem também um outro tinto o Hochar Père et Fils 1998 a US$ 29,50, além do Château Musar Blanc a US$ 29,50.
Palavra de especialista
Quem já experimentou o Château Musar tinto foi Mario Telles Júnior, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS). Ele não chega a qualificar a bebida de excelente, como disse Lilla, mas afirmou que tem “boas lembranças” da degustação. “Eu já tomei e acho um bom vinho. Considero um vinho médio de boa qualidade”, disse Telles.
Assim como Lilla, o sommelier diz que se trata de um vinho especial, até por ser produzido no Líbano, que não é um exportador tradicional da bebida. “É um vinho diferente, feito com uma mistura de uvas que não é muito habitual”, afirmou.
Telles afirmou que o Château Musar é mais parecido com os vinhos do velho mundo, os europeus, que têm um sabor mais “clássico”, do que com os produzidos no novo mundo, de sabor mais frutado. Mas ele não chega a dizer que se parece com um Bordeux, como disse Lilla. “Ele tem um estilo próprio”, afirmou.
Na avaliação de Telles, o Château Musar acompanha bem carnes e assados, mas ele alerta que a comida não deve ser muito pesada para não mascarar o sabor da bebida, pois não se trata de um vinho muito “potente”.
“Quem consome o vinho são pessoas que têm curiosidade em conhecer de tudo, além de restaurantes que gostam de ter uma carta de vinhos completa”, afirmou Lilla. “É um vinho que tem personalidade própria, não há meio termo, ou a pessoa gosta ou não”, acrescentou. Segundo ele, o tinto pode ser consumido em até 10 anos.
Os vinhedos do Château Musar ocupam uma área de 130 hectares e estão localizados a uma altitude de mil metros “onde as vinhas são protegidas pelas montanhas que correm paralelamente à Costa do Mediterrâneo”, segundo o site da vinícola.
Contatos:
Mistral
www.mistral.com.br
Château Musar
www.chateaumusar.com.lb
Associação Brasileira de Sommeliers (ABS)
SP
www.abs-sp.com.br
RJ
www.abs-rio.com.br
BSB
www.abs-brasilia.com.br