São Paulo – Pouca gente sabe, mas Síria, Líbano, Marrocos, Tunísia e Jordânia são alguns países árabes produtores de vinho. A área dedicada ao cultivo de uvas viníferas é pequena se comparada com as dos maiores ícones mundiais do setor, mas quem já provou afirma que a qualidade do produto não fica a dever para os melhores do mundo.
Se os países do Oriente Médio e do Norte da África não têm o melhor clima para o plantio de uvas viníferas, eles oferecem, ao menos, pequenas áreas em que as castas cultivadas no velho mundo podem se desenvolver. É o caso da Cabernet Sauvignon, Cabernet Blanc, Merlot, Shiraz e Granache.
As duas últimas são naturais do sul da França, mas se adaptam bem nas altitudes elevadas do Vale do Bekaa, no Líbano, e das montanhas Atlas, no Marrocos. Esses países até já desenvolvem lavouras com castas de uvas locais, como a uva branca Obaideh, do Líbano.
Consultor da importadora Zahil e especialista em vinhos, Jorge Lucki afirma que os vinhos produzidos nos países árabes – especialmente no Líbano – têm características parecidas aos franceses da região de Bordeaux. Além do vinho libanês, o consultor já teve a oportunidade de experimentar safras da Síria e da Jordânia. "O vinho jordaniano não me decepcionou. Acho que os vinhos produzidos nos países árabes se aproximam muito dos Bordeaux médios", diz.
Sommelier da importadora Decanter, Guilherme Corrêa observa que os vinhos árabes têm características que os aproximam de vinhos produzidos em outros países banhados pelo Mar Mediterrâneo. "De um modo geral, os vinhos do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia) e do Líbano são bem mediterrâneos, quentes e com um frutado muito maduro, de acidez moderada, e se a aproximam dos vinhos do centro-sul da Espanha, do Sul da Itália e suas ilhas", afirma.
Ele acrescenta que os vinhos árabes, em geral, apresentam aromas de frutas vermelhas ou negras em compota (como a tâmara), alcaçuz e alcatrão. Ele afirma, contudo, que cada vinho tem sua característica. E acha que os vinhos egípcios podem evoluir. "Também conheci os vinhos do mais famoso produtor do Egito, mas me pareceram desarmônicos, ainda carentes de conhecimentos técnicos, embora ostentassem tipicidade (personalidade)."
Vinhos produzidos no Marrocos, Síria, Líbano, Argélia, Egito, Tunísia e Jordânia são classificados, assim como os europeus, como vinhos do Velho Mundo. Vêm da Europa a maioria dos produtores, técnicas e uvas. Entre os países produtores de vinhos do Novo Mundo encaixam-se Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Chile e Argentina. Mesmo com a influência europeia, os vinhos árabes têm suas peculiaridades. O que permite que se produza vinho no Líbano, diz Lucki, é a altitude onde estão as plantações de uva no Vale do Bekaa, cerca de mil metros acima do nível do mar. "Nessas condições, a variação de temperatura é importante para o amadurecimento das uvas", afirma.
Não são todas as importadoras brasileiras que trazem vinhos árabes. A Zahil importa do Líbano o Comte de M Château Kefraya a R$ 225 (safra de 2001). Na Mistral, o também libanês Château Musar Rouge 2003 parte de R$ 152,47. A Decanter afirma que tem a intenção de importar vinhos árabes.
Onde comprar
Mistral
Site: www.mistral.com.br
Zahil
Site: www.vinhoszahil.com.br