Cláudia Abreu
São Paulo – O Brasil deverá aumentar as exportações de algodão com o fim dos subsídios norte-americanos aos produtores. "Nossas vendas externas anuais poderão crescer até 20%", afirma João Luiz Ribas Pessa, presidente da Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (AMPA).
Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), se os Estados Unidos eliminarem todos os subsídios ao algodão, conforme a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), anunciada na semana passada, as exportações americanas cairão 40%.
Esse mercado, em tese, poderá ser disputado pelo Brasil. No ano passado, os EUA exportaram cerca de 2,7 milhões de toneladas do algodão, 40,7% da exportação mundial do produto. O Brasil comercializou no exterior apenas 371 mil toneladas.
"O impacto da decisão no país deverá ser sentido a partir da safra de 2006", afirma Pessa. O motivo é que os norte-americanos têm prazo para se adequar às resoluções da OMC. Até o dia 1 de julho terão de retirar os subsídios diretos às exportações. Depois terão um prazo de mais ou menos 15 meses para reduzir os demais incentivos.
"Como a safra lá começa a ser plantada em agosto, será nessa época que os produtores sentirão falta das verbas subsidiárias e aí poderão deixar de plantar algodão", afirma Hélio Tollini, diretor executivo da Abrapa. A entidade calcula uma redução de 29% na produção americana do próximo ano.
A disputa do Brasil com os EUA na OMC começou em 2003, quando o governo brasileiro alegou que dos US$ 13,9 bilhões faturados pelos produtores americanos de algodão, US$ 12,5 bilhões foram pagos pelo governo. Ou seja, para cada um dólar obtido com a venda de algodão, nada menos do que 89,5 centavos de dólar foram arcados pelos cofres públicos.
No ano passado, a OMC deu parecer favorável ao Brasil, mas os EUA recorreram. A decisão final saiu na semana passada. "Agora não cabe mais recursos aos americanos. Se não adotarem as recomendações da OMC, sofrerão sanções", afirma Pessa.
Aqui e na África
A vitória do algodão é a segunda brasileira este ano. A primeira foi contra os subsídios concedidos pela União Européia (UE) aos produtores de açúcar. No caso do algodão, a decisão da OMC não beneficia apenas o Brasil. Países da África, cuja economia é dependente da cultura algodão, como Benin, Mali e Burkina Faso, também sairão ganhando com a vitória brasileira.
Segundo dados da ONG de combate à pobreza, Oxfam, entre 2001 e 2003, os pequenos algodoeiros africanos perderam US$ 400 milhões por causa dos subsídios americanos. Na África, a produção de algodão sustenta cerca de 10 milhões de pessoas.
No Brasil, as perdas anuais do setor com a ajuda americana são de US$ 480 milhões, segundo a Abrapa. O país é o quinto no ranking mundial de produtores. Em 2004, foram produzidas 3,6 milhões de toneladas. Para este ano, a estimativa é de 3,8 milhões.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
- Ambipar inaugura escritórios em Dubai e Abu Dhabi
- Arábia Saudita abre mercado de erva-mate ao Brasil
- Exportação: equalização de juros é antecipada
- Argélia vai ampliar financiamento agrícola em 2025
- Brasil volta a integrar aliança da Unesco
- Eventos climáticos podem afetar PIB da Mauritânia
- Mostra de arte saudita leva a viagem poética no RJ
- Tecelãs preservam ofício antigo no Marrocos