São Paulo – O embaixador do Egito em Brasília, Wael Ahmed Kamal Aboulmagd (foto) afirmou durante webinar promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira que um voo direto entre Brasil e Egito, do Cairo a São Paulo, está em fase final de negociações com as autoridades de aviação dos dois países. O webinar “Egito e Brasil – Oportunidades e Parcerias” aconteceu na manhã desta quarta-feira (02).
“Sabemos o quão significativo vai ser para o turismo e para os negócios. Estamos nas conversas finais da negociação para lançar o voo direto entre o Brasil e o Egito. Não estaria exagerando ao dizer que é uma questão de semanas para que o primeiro voo direto saia. Estamos trabalhando nos detalhes finais da negociação e muito em breve devemos anunciar. Vai ser uma mudança significativa em múltiplos níveis. Isso é uma prioridade para ambos os governos e o Brasil está cooperando muito conosco”, disse o embaixador.
Segundo Aboulmagd, tanto um voo direto quanto uma linha marítima direta entre os países ajudariam a aumentar o fluxo comercial entre as regiões. Ele afirmou também que parcerias e cooperação no âmbito comercial são vitais para aumentar a balança comercial entre os países e que o Egito pode servir de porta de entrada para os produtos brasileiros em todo o continente africano.
Em julho, a companhia aérea EgyptAir divulgou nota afirmando que uma linha direta com o Brasil estava nos planos de expansão da empresa antes da pandemia de covid-19 e que estavam em pausa.
O anúncio do embaixador veio de uma fala de Mostafa Sherif El Gabaly, vice-presidente do Conselho de Exportação de Produtos Químicos e Fertilizantes do Egito. “Não podemos falar em comércio sem ter uma linha direta entre os países. Estamos falando sobre isso com a EgyptAir há quinze anos, uma linha direta entre Cairo e São Paulo seria um grande passo”, disse o empresário.
Segundo El Gabaly, o Egito é um grande exportador de fertilizantes ao Brasil e que pode exportar mais, mas há outros produtos e serviços que devem ser o foco atual. Ele também falou em atrair investimentos brasileiros ao Egito com o acordo Mercosul-Egito, na criação de um conselho de comércio entre os países e sobre a necessidade de se fazer mais missões empresariais.
O adido agrícola do Brasil na Embaixada do Brasil no Cairo, Cesar Simas Teles, disse que um voo direto do Cairo ao Brasil poderá possibilitar novos negócios. “Podemos sair com morango do Egito e trazer mamão papaia, por exemplo”, disse. Ele afirmou no webinar que os maiores desafios na relação comercial entre os países são as dificuldades de acesso a informações para empresas, a barreira do idioma e a necessidade de uma linha marítima direta e de um voo direto.
Teles falou ainda sobre as oportunidades em diversos setores agrícolas como os recém-aprovados pelo acordo Mercosul-Egito, da exportação de produtos egípcios como alho, azeitona, uvas e cítricos, e também vê potencial para cebolas e queijos em um futuro próximo. Ele disse ainda que há espaço para cooperações no setor de melhoramento genético na agropecuária, para o gado bovino e de leite, e que um de seus focos para o ano que vem será promover o café brasileiro no país árabe.
Segundo o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, que moderou o evento, o papel da Câmara Árabe é incentivar e encorajar as parcerias entre os países junto às entidades interessadas. “Acho que a relação Egito e Brasil precisa ser mais que uma relação de importação e exportação, parcerias estratégicas vão elevar nossa relação a um outro patamar. Esse é nosso papel, precisamos trazer essas informações para que possamos facilitar os negócios para os exportadores e importadores”, colocou.
Mansour informou ainda que a Câmara Árabe está trabalhando junto às embaixadas egípcias para desburocratizar a questão da documentação para a exportação, com a certificação de origem online. “O Blockchain da Câmara Árabe poderia ser uma alternativa muito rápida para essa parte burocrática, diminuindo tempo e custos”, disse. A Câmara Árabe anunciou recentemente a criação da plataforma Ellos, que tem como uma das frentes transferir para o virtual todo o processo de exportação com o uso do blockchain.
Segundo o secretário-geral, em duas semanas a entidade deverá divulgar uma parceria com a Confederação das Associações Comerciais Brasileiras (CACB), entidade responsável pela emissão do certificado Mercosul-Egito, para que a emissão seja feita de forma online. “Vai facilitar bastante o comércio e fazer com que os exportadores e importadores aproveitem o acordo de livre comércio; muitos empresários ainda não sabem utilizar os benefícios do acordo para ter a tarifa preferencial”, declarou.
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, fez a abertura do webinar e agradeceu a presença dos representantes e a parceria das entidades participantes.
O ministro-conselheiro e chefe do setor de Promoção Comercial da Embaixada do Brasil no Cairo, Rubem Mendes de Oliveira, também participou da abertura. Ele mencionou a facilidade de registro de empresas, a equivalência de certificados e a eliminação de custos de registros consulares como algumas ações que o Brasil tem aplicado para facilitar o comércio entre as regiões.
A chefe do escritório Econômico e Comercial do Egito em São Paulo, Noha Syam, falou sobre o acordo de livre comércio Mercosul-Egito e as tarifas atrativas para os negócios entre as regiões. “É uma grande oportunidade para empresas brasileiras acessarem novos mercados”, disse Syam se referindo ao potencial que o Egito tem para distribuir produtos por todo o continente africano.
O presidente da Associação De Exportadores Do Egito (Expolink), Khaled El Mikati, falou sobre a possibilidade de Brasil e Egito unirem forças para cooperar com a segurança alimentar de outros países africanos, com parcerias e cooperação técnica, entre outros temas.
O diretor-geral de Acordos Comerciais Bilaterais do Ministério da Indústria do Egito, Michael Gamal, fez uma apresentação sobre o acordo de livre comércio Mercosul-Egito, indicadores econômicos e potenciais para exportação entre os países. “Temos acordos de livre comércio com cerca de 77 países, portanto o mercado egípcio não é de ‘apenas’ 100 milhões de consumidores, somos mais de 2 bilhões de consumidores”, disse.
Por fim, o coordenador de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe, Marcus Vinícius, apresentou dados da balança comercial entre os países e sobre o crescimento nas importações de produtos egípcios após o acordo de livre comércio Mercosul-Egito. “As importações de produtos egípcios pelo Brasil se beneficiaram mais do acordo Mercosul-Egito. De 2017 a 2019, os produtos que fazem parte do acordo cresceram 122,5% enquanto os que estão fora do acordo tiveram alta de 76%”, informou.
Assista ao evento na íntegra: