Alexandre Rocha
São Paulo – A Volkswagen do Brasil – quinta colocada no ranking das maiores empresas exportadoras do país, com faturamento de US$ 1,485 bilhão no mercado externo – voltou a vender com regularidade para os países árabes e o gerente-executivo de exportações da empresa, Leonardo Soloaga, vê como “muito boas” as perspectivas de crescimento dos embarques para aquele mercado.
O executivo espera que entre 3 mil e 3,5 mil carros sejam vendidos para nações do Oriente Médio e do Norte da África em 2004, e que em dois anos esse número suba para algo entre 5 mil e 5,5 mil unidades.
“A avaliação que eu faço deste mercado é muito boa, uma vez que há apenas um ano nossas exportações para lá foram quase zero”, declarou.
O embarque mais recente para a região foi feito este mês para o Marrocos. Para lá seguiram 200 unidades do Pólo Sedan e 100 do Gol. Soloaga disse que até o final do ano 2 mil carros devem ser enviados para o mercado marroquino. Em 2004 já foram vendidos também 100 veículos para o Egito.
A Volks brasileira está em busca de novos mercados. Isso porque o mercado brasileiro e das Américas, atendido pela empresa, está saturado e a demanda abaixo da sua capacidade de produção.
Retorno em 2003
Dentro deste quadro, no ano passado a companhia voltou a olhar com interesse para os países árabes. ‘Voltou’ porque entre 1984 e 1991 ela exportou 162 mil unidades do antigo Passat para o Iraque, antes do embargo econômico imposto ao país pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Já em 2003 foram embarcadas 450 unidades do Gol, Pólo e Parati para o Egito, 150 para da família Gol e do Pólo Sedan para o Líbano, 1,3 mil Paratis para a Líbia, 500 Saveiros e 150 Gols para a Síria.
Os carros seguem para estes países com poucas mudanças. De acordo com Soloaga, o motor é adaptado para rodar com gasolina mais pura, já que no Brasil ela é misturada com álcool. Além disso, são vendidas versões movidas a diesel, inexistentes no mercado interno.
A última modificação é a tradução dos manuais para o inglês e o francês. “Mas as características gerais são as mesmas dos carros comercializados no Brasil”, declarou.
A Volks vendeu ainda 700 ônibus para a Arábia Saudita entre 2002 e 2003 e 10 Paratis para os Emirados Árabes Unidos. De acordo com o executivo, a companhia ainda não entrou de cabeça nos países do Golfo Arábico porque para lá são exigidas maiores adaptações técnicas, como um alarme que indica que o motorista ultrapassou a velocidade máxima e um outro que soa quando o cinto de segurança não foi afivelado.
O executivo acrescentou que os carros estão sendo bem aceitos pelos consumidores árabes e que eles se adaptam bem às condições locais, além de terem o mesmo padrão de qualidade dos demais produtos oferecidos pela marca ao redor do mundo. “As condições viárias são parecidas com as da América Latina e o Gol, por exemplo, é um carro confiável e que demanda baixa manutenção”, afirmou.
Ele disse ainda que a empresa tem “importadores oficiais” em todos os países da região e os carros fabricados no Brasil passam agora a fazer parte da linha “oficial” oferecida pelos concessionários locais. Isso só não ocorre na Líbia, para onde as exportações são feitas com base em contratos e quantidades fechadas.
Frete
Um dos problemas que a Volks enfrenta no comércio com os árabes, assim como outros exportadores brasileiros, é falta de linhas marítimas regulares para a região. De acordo com Soloaga, um carregamento para o Egito, por exemplo, demora cerca de 60 dias para chegar no destino. “Sempre é necessário algum transbordo na Europa ou na África do Sul”, afirmou.
Além da demora, isso faz com o que o preço do frete aumente. Segundo ele, enquanto a empresa paga entre US$ 300 e US$ 400 para transportar um carro para a Europa, a tarifa para o Oriente Médio e para o Norte de África chega a ser quase o dobro.
“Mas eu acredito que com o crescimento das exportações para a região isso deve melhorar, com linhas mais diretas”, ressaltou.
Para atingir as metas de vendas para os árabes, Soloaga disse que a empresa tem trabalhado intensamente na promoção comercial, participando de feiras e salões de automóveis em toda a região.
Geral
No total, a Volks do Brasil exportou 166.488 veículos montados no ano passado para mais de 30 países (163.784 automóveis e comerciais leves, 1.886 caminhões e 778 ônibus), 35% de sua produção total de 470.143 unidades (412.411 automóveis, 28.786 veículos comerciais leves, 22.674 caminhões e 6.272 ônibus).
O principal mercado externo da subsidiária brasileira da Volks é o México, para onde 83.169 veículos fora embarcados no ano passado. Para lá a empresa exporta toda a sua linha de automóveis, sendo que o Gol é o mais vendido (72,5% do total). Em seguida vêm os Estados Unidos com 27.929 unidades do Golf exportadas em 2003. Na terceira colocação aparece a Argentina, que importou 27.130 veículos, também de toda a linha.
De acordo com Soloaga, o principal fator que contribuiu para o aumento de quase 15% nas receitas de exportação da Volks foi justamente a retomada das vendas para a Argentina. Em 2002, segundo o executivo, menos de 2 mil unidades foram enviadas por causa da crise econômica que assolou o país vizinho.
Contribuiu também para tal crescimento a abertura de novos mercados, para os quais, de acordo com Soloaga, foram vendidas 4 mil unidades.
Ainda no ano passado a companhia exportou pela primeira vez para a Europa. Foram enviadas 2 mil unidades do Pólo Sedan para a Alemanha, onde fica a sua matriz, e para a Áustria. Para este ano a previsão é de que sejam embarcados 3,7 mil carros para os dois países europeus.
Em 2004 os executivos da empresa esperam um aumento de 5% no volume de exportações. A grande decepção, por enquanto, é com os EUA, para onde a empresa prevê exportar menos este ano (22 mil unidades) do que em 2003. “A economia norte-americana não cresceu tanto quanto se esperava”, declarou Soloaga.
Balança
Se a Volks foi a quinta maior empresa exportadora do Brasil em 2003, ela ficou em primeiro lugar entre as montadoras de automóveis instaladas no país, seguida da General Motors (US$ 977,7 milhões em receitas de exportações), Ford (US$ 786,4 milhões), Daimler-Chrysler (US$ 610,9 milhões) e Fiat (US$ 325,5 milhões).
Ela figura também entre as maiores importadoras do país. Ficou em 8º lugar no ano passado com importações no valor de quase US$ 475,3 milhões. As compras externas da empresa, porém, caíram quase 29% em comparação com 2002. Isso fez com que o saldo na balança comercial interna da companhia saltasse de US$ 623 milhões em 2002 para US$ 1,009 bilhão em 2003, um crescimento de 62%.
O que cada unidade da Volks vai vender e para quem são assuntos definidos pela matriz, na Alemanha, dentro de uma “estratégia de alocação de produtos”. De acordo com Soloaga, cada planta fabrica produtos diferentes que são complementares entre si. O Pólo Sedan e a linha Gol, por exemplo, são produzidos apenas no Brasil e não concorrem com outros modelos da marca comercializados pelo mundo.
A Volks tem cinco fábricas no Brasil, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista; em Taubaté, no interior de São Paulo; em São José dos Pinhais, no Paraná; em São Carlos, também no interior de São Paulo, onde são produzidos apenas motores; e em Rezende, no Rio de Janeiro, de onde saem caminhões e ônibus. Ela emprega cerca de 20 mil funcionários no país.

