Alexandre Rocha
São Paulo – Walid Yazigi é um pioneiro na realização de missões comerciais ao mundo árabe. Ex-presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, foi ao final de sua primeira gestão, em 1983, que a entidade organizou sua primeira missão a vários países da região. A delegação liderada por Yazigi, e composta por 30 empresários, passou pela Síria, Iraque, Bahrein, Arábia Saudita e Kuwait.
“Uma parte dos empresários foi também ao Paquistão, que embora não seja um país árabe não tinha uma Câmara de Comércio no Brasil e demandava muitos produtos brasileiros. Outro grupo depois seguiu também para a Argélia e o Marrocos”, lembrou Yazigi.
Naquela época o mundo árabe passava por um período de expansão econômica, ocasionada pelos choques do petróleo ocorridos na década anterior. Até lá, conta Yazigi, as vendas do Brasil para a região giravam em torno do binômio açúcar e café, enquanto que as compras eram basicamente de produtos alimentícios, artesanatos e têxteis da Síria e do Líbano.
Foi um longo caminho até chegar à corrente comercial que somou US$ 10,5 bilhões no ano passado, mas a missão serviu para apresentar aos árabes uma economia brasileira muito mais diversificada do que eles imaginavam.
Na época o transporte foi um dos principais problemas, pois ainda não havia muitos vôos regulares da Europa para o Oriente Médio. A saída foi fretar um avião da Air France que levou a delegação de Paris aos países árabes. “O avião, um Airbus, ficava estacionado nos aeroportos nos esperando. Nós o enchemos de amostras. Tinha, por exemplo, um representante do setor de mármores que levou várias amostras, aquilo tinha um peso enorme”, disse Yazigi.
Ele lembra de vários casos ocorridos durante a viagem, como o do produtor gaúcho de tabaco Normélio Egídio Boettcher. A Câmara colocou o empresário em contato com o governo do Iraque para negociar a venda de tabaco ao país. “A economia do Iraque era muito estatizada”, ressaltou. Depois, quando o grupo já estava na Arábia Saudita, Boettcher recebeu a informação que havia ganhado uma licitação para fornecer o produto para todo o Iraque. “A quantidade era astronômica e ele teve que se associar a outras empresas para poder atender o pedido”, afirmou.
De acordo com Yazigi, também fecharam negócios durante a missão empresas como a Aeromot, fábrica de acessório para o interior de aviões, a Weg, de motores elétricos, a Eucatex, de material de construção, e a Marcovaldi, de mármores e granitos.
Outra história curiosa ocorreu com a Persico Pizzamiglio, fábrica de tubos de grande diâmetro para adutoras e oleodutos. “O dono da empresa, Francesco Luigi Persico, foi um dos que foi ao Paquistão. Lá ele entrou em uma concorrência internacional e perdeu por uma diferença de apenas um centavo de dólar”, lembrou Yazigi.
Quem passou por uma situação semelhante foi a Brahma, que estava quase para fechar uma joint-venture para produzir guaraná na Arábia Saudita, quando testes indicaram que, na época, o xarope usado para fazer o refrigerante tinha uma quantidade mínima de álcool usada como conservante. “Por isso o contrato acabou não sendo assinado”, disse o ex-presidente da Câmara Árabe. A Arábia Saudita, país de forte crença muçulmana, não permite o consumo de álcool.
Visitas
Yazigi foi presidente da Câmara por três vezes durante os anos 80. Os mandatos da diretoria da entidade duram dois anos. Nestes períodos, outro acontecimento importante, segundo ele, foi a visita ao Brasil do príncipe saudita, Talal Bin Abdul Aziz Al Saud, então enviado especial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Hoje Talal é presidente do Programa do Golfo Arábico para Organizações de Desenvolvimento das Nações Unidas (AGFUND, na sigla em inglês).
A visita em 1982 do então ministro do Petróleo e dos Recursos Minerais da Arábia Saudita, Ahmed Zaki Yamani, também foi de grande importância para Yazigi e a Câmara Árabe. Na época, Yamani, fundador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), era um homem de grande poder internacional.
Yazigi foi também presidente do Conselho de Administração da Câmara Árabe por três vezes, cargo que deixou no início deste ano. Seu pai, José Yazigi, foi um dos fundadores da entidade. “O livro de ata da fundação da Câmara foi redigido por ele de próprio punho”, afirmou. “Ele também chefiou uma pequena missão para a Síria e para o Líbano no início da Câmara, há cerca de 50 anos", acrescentou.
Imigrantes sírios
José Yazigi nasceu em Marmarita, pequena cidade próxima a Homs, na Síria. "Toda a população da cidade é alfabetizada, são 300 pós-graduados num total de 30 mil pessoas", orgulha-se Walid. Seu pai veio para o Brasil em 1918 trabalhar com um tio que tinha uma livraria em São Paulo, depois trabalhou como comerciante para, em seguida, abrir uma confecção, que depois se tornou uma fábrica de tecidos.
Seus avós maternos vieram de Homs e o avô sempre trabalhou com comércio, em Curitiba. "Eu nasci no Paraná e vim para São Paulo com dois anos", disse Walid, que hoje tem 70, é casado há 45 e tem quatro filhas, duas engenheiras e duas formadas em administração.

