Cláudia Abreu
São Paulo – Os criadores de bovinos das raças zebuínas do Brasil preparam-se para uma nova empreitada: desbravar o continente africano. O primeiro contato comercial entre empresários da Mauritânia e criadores brasileiros ocorreu na semana passada, em Uberaba, Minas Gerais.
Segundo Jorge Dias, supervisor de relações internacionais da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), o encontro foi produtivo e deve gerar negócios no longo prazo. "O clima africano é favorável ao desenvolvimento dos zebuínos, é parecido com o brasileiro, o que facilita a adaptação do animal", afirmou.
Dias disse que, no início, a intenção é exportar animais vivos do Brasil para melhorar o rebanho local. A primeira remessa ainda não tem data marcada, mas deve ser endereçada ao médico veterinário mauritano Habib Fall, um dos cinco empresários integrantes da comitiva do país árabe.
Pecuaristas do Líbano e do Senegal fazem esse tipo de operação desde 2003. No ano passado, os libaneses importaram cerca de 10 mil cabeças bovinas vivas dos brasileiros. A transação foi acompanhada pelo consórcio de exportação Brazilian Cattle Genetics (BCG), da ABCZ.
Porta de entrada
A Mauritânia integra o Magreb – grupo de países árabes localizados no norte do continente africano. Por causa dos acordos comerciais que possui com os vizinhos, o país, assim como os outros que integram o bloco (Argélia, Tunísia, Líbia e Marrocos), tem sido considerado a porta de entrada da África para os exportadores.
Em 2004, as exportações brasileiras para o país somaram US$ 39,6 milhões, contra US$ 19,4 milhões em 2003 e US$ 24 milhões em 2002. Nos anos anteriores, os embarques não passaram dos US$ 5 milhões. O açúcar é o principal item da pauta de exportações, seguido de leite em pó e eixos e rodas para uso em trens.
Tecnologia
O comércio de sêmen zebuíno também foi assunto de interesse da comitiva africana. Segundo Dias, a República de Camarões está entre os países que deve importar a tecnologia brasileira ainda este ano. "Eles querem nossa assessoria para modernizar e melhorar tecnicamente os centros de embriões que existem em Camarões", disse.
O Brasil tem experiência no assunto. Empresários de Angola, por exemplo, recebem a ajuda brasileira e compram sêmen do país desde 2003, e Moçambique, desde 2004. Os volumes comercializados para esses países no ano passado foram, respectivamente, 2.100 e 1.000 doses.
Rebanho
O Brasil tem hoje o maior rebanho comercial do mundo, com 195 milhões de animais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 80% são zebuínos – puros ou com uma porcentagem de sangue de outras raças. As principais raças que circulam nas fazendas do país são Nelore, Gir, Guzerá, Tabapuã e Brahman.