Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (23), em Brasília, durante almoço oferecido ao rei da Jordânia, Abdullah II, que o Brasil dará “alta prioridade" às negociações do tratado de livre comércio entre o Mercosul e o país árabe. “Vamos redobrar os esforços para concluir o acordo Mercosul-Jordânia”, afirmou. O Brasil ocupa atualmente a presidência rotativa do bloco sul-americano.
Para Lula, apesar das boas relações, o comércio entre os dois países está aquém do seu potencial. Ele acrescentou que o Fórum Comercial Brasil-Jordânia, que vai ocorrer hoje (24), em São Paulo, com a participação do rei, servirá para que os empresários dos dois países identifiquem novas oportunidades de negócios. “Sua visita ajudará a dar novo impulso aos nossos laços”, disse o presidente.
Ele destacou que, nesse campo, a Petrobras saiu na frente ao assinar um acordo para a exploração de xisto betuminoso no país árabe. Lula destacou também que existem “boas perspectivas” de exploração na área de fosfatos, potássio e outros fertilizantes, setor forte na Jordânia.
Abdullah II destacou a importância da busca por parcerias internacionais para criar novas oportunidades aos países em desenvolvimento. Em encontro no Palácio do Planalto, os dois governos assinaram acordos nas áreas de cooperação econômica e comercial, ciência e tecnologia, educação, turismo, cultura, jurídica em matéria penal e de consultas bilaterais.
Ainda durante a estada do rei no Brasil será assinado um acordo na área de tecnologia agrícola e convênios de cooperação entre a Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Câmara de Comércio da Jordânia e entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Câmara da Indústria da Jordânia.
O monarca jordaniano e sua mulher, a rainha Rania, foram recebidos no Planalto por Lula e a primeira-dama Marisa Letícia. Em reunião ampliada entre os dois, participaram os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Fernando Haddad (Educação), Reinhold Stephanes (Agricultura) e Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia). Do lado jordaniano, estavam os ministros da Indústria e Comércio e das Relações Exteriores.
No almoço, Lula destacou que o acordo sobre educação vai ampliar o intercâmbio de professores e estudantes dos dois países, na área do turismo “vamos adotar medidas para permitir uma maior número de pessoas possa conhecer duas das ‘sete novas maravilhas do mundo’”, disse o presidente, referindo-se ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e a Petra, na Jordânia.
“E temos ainda acordos sobre cooperação científica e tecnológica, em agricultura e em matérias econômicas e comerciais. Acordos que certamente ajudarão a dar novo impulso a nossos laços nesses temas”, garantiu o presidente.
Novo capítulo
Mais tarde, em visita ao Congresso Nacional, Abdullah II disse ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que, se esta é a primeira viagem de um rei jordaniano ao Brasil, não será a última, dada à qualidade das reuniões que aconteceram. “Acredito que estamos começando um novo capítulo nas relações bilaterais, não só do ponto de vista político, mas econômico também”, declarou.
O rei disse que durante os encontros foram identificadas várias áreas de cooperação que podem ser exploradas. Chinaglia falou da experiência brasileira com os biocombustíveis, por exemplo.
Questionado sobre os efeitos da crise financeira internacional na Jordânia e nos países árabes em geral, Abdullah II disse que alguns países da região – os que são ricos em petróleo – acabam superando sem grandes dificuldades as turbulências, mas outros sofrem bastante. Ele defendeu que as nações tenham “responsabilidade social e regional”.
“A partir do momento que um está bem, mas o outro não está, não pode haver estabilidade”, disse. Para ele, para que haja estabilidade de fato no mundo, é preciso criar oportunidades econômicas para todos, daí a necessidade de ajuda mútua entre nações.
No caso da Jordânia, o rei afirmou que é preciso enfrentar um duplo problema: proteger os pobres nesse período de incertezas, mas especialmente a classe média. O monarca jordaniano acredita que a classe média é o verdadeiro motor do desenvolvimento, e que em seu país ela está em um momento de fortalecimento que precisa continuar.
Ainda ontem, antes de seguir para São Paulo, o rei assistiu a uma apresentação de jiu-jitsu na Associação Atlética do Banco Central.