Alexandre Rocha, enviado especial
alexandre.rocha@anba.com.br
Riad – A Arábia Saudita é o país mais rico do mundo árabe. Embaixo das infindáveis areias do deserto estão assentadas 25% das reservas mundiais de petróleo. Isso pode não transparecer em uma vista rápida da capital Riad, pois nas ruas predomina a austeridade imposta pelos rigorosos preceitos religiosos adotados no país. Mas não é preciso olhar muito longe para ter uma idéia do poderio econômico local.
Na paisagem de Riad, dominada por prédios baixos, se destacam a Kingdom Tower, prédio futurista de 300 metros de altura e quase 100 andares, e a Al Faisaliah Tower, edifício de 267 metros em forma piramidal com uma enorme esfera dourada encaixada um pouco abaixo do cume. São duas construções recentes, a Al Faisaliah, primeiro arranha-céu da capital, foi inaugura no ano 2000 e a Kingdom em 2003, pelo então príncipe-herdeiro Abdullah, hoje rei da Arábia Saudita.
A Kingdom Tower é um projeto da Kingdom Holding, empresa do príncipe saudita Alwaleed Bin Talal, um dos homens mais ricos do mundo. Ela conta com escritórios, apartamentos, restaurantes, um hotel cinco estrelas e com o Al-Manlaka, shopping center de quatro andares, um deles reservado somente para mulheres, que reúne marcas de alto luxo.
Entre as lojas estão a Saks Fifth Avenue, Dolce & Gabana, Ralph Lauren, a joalheria Tyffanys, entre outras. Elas mostram o poder de consumo de uma economia turbinada pelo barril de petróleo cotado acima dos US$ 100. Mas não é preciso ir até templos do luxo para ter uma idéia dos hábitos de consumo de uma parcela da população local. As largas avenidas abarrotadas de carros da capital guardam outras surpresas.
Os supermercados de Riad, por exemplo, oferecem uma infinidade de produtos das mais diversas origens, visivelmente maior do que os supermercados brasileiros. Num hipermercado da rede Panda, a maior do país, por exemplo, se você quiser sucos, terá um enorme corredor inteiro de sucos de todos os tipos de frutas. Queijos então? a variedade exposta no balcão frigorífico é de cair o queixo. E o arroz? a oferta disponível é de deixar qualquer brasileiro de boca aberta, e olha que, como se sabe, o cereal é uma das bases da alimentação diária no Brasil.
A liquidez gerada pelo petróleo, no entanto, não é a única explicação para o consumo aquecido. Segundo o diretor de laboratórios e controle de qualidade do Ministério da Indústria e Comércio local, Mohammed Al-Debasi, o consumidor saudita tem como hábito comprar mais do que precisa. E eles precisam de muita coisa. Embora conservadora do ponto de vista cultural e religioso, a Arábia Saudita está aberta aos negócios e disposta a importar em grandes quantidades os mais diferentes tipos de produtos.
“Temos sido muito procurados por empresários que querem importar de mais fornecedores”, observou Debasi. “Estamos abertos e precisamos de tudo, o consumidor vai comprar tudo o que vier”, acrescentou.
Economia
Isso não quer dizer que a Arábia Saudita não tenha produção local e seja totalmente dependente do petróleo. De acordo com dados compilados pelo Conselho das Câmaras de Comércio e Indústria do país, o setor privado não ligado diretamente à produção de petróleo teve um crescimento de 7,9% em 2006 e responde por quase 45% do PIB do país.
As exportações não petrolíferas, segundo as informações do Conselho, incluem produtos petroquímicos, torres de alta tensão, papel, medicamentos, estruturas de aço pré-fabricadas, aparelhos de ar condicionado, material de limpeza, tecidos sintéticos, materiais isolantes, tubos, conexões, garrafas e outros produtos de plástico, canos elétricos, equipamentos para irrigação, postes elétricos, vidro, carpetes, cimento, alimentos, fios, barras e rolos de cobre.
De acordo com o Conselho, as exportações não petrolíferas do país renderam US$ 27,8 bilhões em 2007, ante US$ 22,6 bilhões no ano anterior. As exportações totais do país somaram US$ 211 bilhões em 2006.
Na seara dos alimentos, o país está reduzindo sua produção agrícola para economizar água para consumo humano e, ao mesmo tempo, busca ampliar a importação de insumos para a indústria local, que abastece o mercado interno e externo.
Estrangeiros
O país tem também uma população importante de estrangeiros que trabalham nos mais diferentes serviços, desde motoristas até executivos. A rede Panda é um exemplo. Na empresa, que pertence a sauditas, é possível encontrar um diretor sul-africano, gerentes libaneses e funcionários indianos e paquistaneses.
Os estrangeiros na Arábia Saudita devem se adequar aos costumes locais. As mulheres, mesmo as de fora, só saem em público com a abaya, robe preto utilizado por cima da roupa, e lenço na cabeça. Entre as locais, pelo menos na rua, é difícil encontrar alguma que não use também o véu que cobre o rosto e deixa apenas os olhos de fora.
Na Arábia Saudita estão as cidades de Meca e Medina, os locais mais sagrados para os muçulmanos, e o rei tem o título de Guardião das Duas Mesquitas Sagradas. A prática das orações cinco vezes ao dia é respeitada à risca. Na hora da reza o comércio fecha, para abrir logo em seguida. Se você estiver fazendo compras nesse momento, terá que deixar a loja e voltar depois para concluir o que estava fazendo. O consumo de bebidas alcoólicas é vedado, conforme a tradição islâmica.
Leia amanhã a última matéria da série, que vai mostrar uma façe de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, além dos arranha-céus e dos resorts de luxo.