São Paulo – A Academia Pérolas Negras busca apoio para trazer mais jovens sírios do campo de refugiados Zaatari, na Jordânia, para treinar futebol no Brasil, além de manter os quatro jogadores que já estão no interior do Rio de Janeiro desde 2018. Eles pretendem ainda ampliar seu projeto para países africanos como Uganda e Quênia. O projeto preza pela excelência pelo esporte, educação e inclusão social e visa preparar meninos e meninas e fazer a ponte entre o futebol amador e o profissional.
O time profissional conta hoje com sírios, venezuelanos, haitianos e brasileiros em situação de vulnerabilidade. A Pérolas Negras foi criada em 2009 no Haiti, com jovens de origem pobre e vítimas do terremoto de magnitude sete que ocorreu no país em 2010.
Segundo o fundador da academia e da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, a ideia do projeto é que o esporte em geral e o futebol em particular sirvam como meio de socialização e trabalho. “Demos esse nome, Pérolas Negras, porque esse é um tipo de pérola rara. Hoje temos 150 jogadores em atividade no Haiti, na região metropolitana de Porto Príncipe. Egressos, são mais de 400”, contou Fernandes à ANBA.
A idade dos jovens caribenhos varia entre os oito e 17 anos, e passando dessa idade, os jogadores queriam entrar no mundo profissional. “Então a academia veio para o Rio de Janeiro em 2016 e começou a funcionar em 2017. Filiada à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), hoje somos campeões do profissional e do Sub-20 na categoria C do Campeonato Carioca”, disse o fundador.
Em 2018, a academia abriu um canal de comunicação com refugiados sírios na Jordânia, em parceria com o Asian Football Development Project (AFDP), um projeto do príncipe Ali bin Al-Hussein, da Jordânia, que é o vice-presidente da Fifa para a Confederação Asiática de Futebol.
Fernandes visitou o campo de refugiados Zaatari, na Jordânia, que tem mais de 80 mil pessoas vivendo lá desde 2012, após o início da guerra na Síria. “Algumas crianças nasceram lá”, disse o idealizador do projeto. Nós montamos um torneio e mais de 120 jovens participaram, foi uma festa. Fizemos um processo seletivo físico, técnico e verificamos a disponibilidade dos jovens virem para o Brasil”, contou.
Foram selecionados quatro meninos, Qais (15), Omar (16), Hafeth e Ahmad (18), na foto acima. As famílias dos jogadores não vieram junto. “As famílias ficaram emocionadas, é uma oportunidade de melhorar de vida, mas é complicado saírem todos, e muitos ainda têm esperança de retornar para a Síria”, afirmou.
O projeto teve apoio da AFDP e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) local. “O príncipe Ali abriu muitas portas, com apoio institucional, logístico e de divulgação”, disse o fundador. O gerente de desenvolvimento internacional do projeto na Jordânia é Hashem Sabbagh (foto acima, ao centro), que participou do processo seletivo e acompanhou os meninos na viagem ao Brasil em 2018.
Ele contou à ANBA que há um documentário sobre a jornada dos refugiados sírios participando do projeto chamado “Five Football Dreams”, dirigido por Bassel Ghandour, cineasta que já foi indicado ao Oscar. O quinto jogador, mencionado no título, acabou não vindo para o Brasil.
Para manter os atletas no Rio, são necessários US$ 20 mil por ano para cada jovem, e o projeto necessita de patrocínio para dar continuidade ao trabalho. “Temos uma certa urgência porque o ano já começou, é uma oportunidade para empresas associarem seu nome ao futebol e à inclusão social, e pode agregar valor e ter uma grande exposição de marca. O futebol tem uma linguagem de inclusão, quando o atleta joga bem, não importa de onde ele vem, as pessoas mudam sua percepção sobre a imagem da pessoa e de sua origem. Nosso projeto utiliza o futebol como meio de formação e quer aproximar a educação e o esporte, buscando talentos em ambientes desafiadores, no Brasil e em outros países”, disse Fernandes.
O centro de treinamento fica em um distrito da cidade de Resende, no Sul do estado do Rio de Janeiro. “É um conjunto curioso, sírios, haitianos, venezuelanos e brasileiros. Agora, queremos ampliar o projeto para trazer mais refugiados sírios e também jogadores de países africanos como Uganda e Quênia, estamos sempre buscando apoio para abrir caminho”, disse Fernandes.
O conceito da academia como uma ponte entre o futebol social, lazer e educação e o futebol profissional também atua em dez comunidades vulneráveis no estado fluminense, como Vila Aliança, Maré, Cantagalo, Cidade de Deus e Caxias. O Pérola Júnior atende duas mil crianças e adolescentes.
Contato:
Rubem César
rubemcesar@vivario.org.br
+55 21 98563-7623
Hashem Sabbagh
+962 79506-1666