São Paulo – As exportações e importações entre Brasil e Egito estão abaixo do potencial que o acordo de livre comércio Mercosul-Egito propicia a elas. Esse foi um dos recados que o diretor geral de Acordos de Comércio Bilaterais do Ministério do Comércio e Indústria do Egito, Michael Gamal Kaddes (foto acima, ao meio), deixou no seminário “Acordo Mercosul-Egito: panorama de mercado após dois anos de sua entrada em vigor”, que ocorreu nesta quinta-feira (16) na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista. A entrada em vigor do tratado completa dois anos em setembro deste ano.
“O volume comercial ainda está na mesma faixa e ainda estamos nos mesmos produtos”, disse Gamal para os cerca de cem empresários e representantes de entidades que estiveram no encontro. “Temos que dar um passo adiante”, afirmou ele. As exportações brasileiras ao Egito são muito concentradas em produtos básicos e as vendas do Egito ao Brasil são dominadas por fertilizantes. O diretor quer que novos setores sejam trabalhados e sugeriu máquinas, produtos agrícolas processados, couros e produtos têxteis e de vestuário.
Em 2018, as exportações do Brasil para o Egito caíram 13% e ficaram em US$ 2,1 bilhões, com a pauta composta principalmente por minérios, cereais e artigos de ferro e aço. Já as vendas do Egito ao Brasil cresceram 73%, para US$ 269,4 milhões, impulsionadas principalmente por fertilizantes, cujas exportações avançaram 148%. As vendas brasileiras recuaram em valores principalmente em função da queda nos preços das commodities, segundo a gerente de relações institucionais da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar.
O mesmo movimento ocorreu no comércio do Mercosul como um todo com o Egito. As exportações do Mercosul ao país árabe caíram 23% no ano passado sobre 2017, para US$ 2,9 bilhões, e as vendas do Egito para o bloco avançaram 72% para US$ 363,5 milhões. Segundo dados apresentados pela Câmara Árabe, também as vendas do Mercosul ao Egito são atreladas a produtos básicos como minérios, cereais, carnes e açúcar.
O diretor geral de Acordos de Comércio Bilaterais frisou a importância do contato e da troca de informações entre brasileiros e egípcios para que o comércio se fortaleça e possa avançar para novos segmentos e volumes. Ele sugeriu a realização de jornadas de promoção comercial “Brazilian Day” no Egito e “Egypt Day” no Brasil. “Nós precisamos disso mais, mais e mais, informações sobre os dois lados”, disse.
Taxas em queda
O acordo Mercosul-Egito zerou as taxas de 31% dos produtos exportados pelo Mercosul ao Egito, percentual que crescerá para 45% daqui a dois anos, segundo dados apresentados por Fernanda Baltazar. Na outra mão, 26% dos produtos egípcios vendidos aos países do bloco tiveram a queda total da tarifa e daqui a dois anos serão 32,2%. No novo grupo dos isentados de taxas, os egípcios ganharão tarifa zero para preparações de carnes e peixes, pepinos, preparações de frutas e nozes, vaselina e alguns fertilizantes, entre outros, e o Mercosul para alguns vegetais, combustíveis minerais, máquinas e suas partes, freios, alguns produtos medicinais, entre outros.
O tratado dividiu produtos do comércio Mercosul-Egito em cinco categorias. Quando ele entrou em vigor, o primeiro grupo teve as tarifas de importação zeradas, o segundo ganhou desconto de 25%, o terceiro de 12,5% e o quarto de 10%. Exceto o primeiro, cada um dos quatro grupos de produtos terá queda de tarifas anual gradativa (no mesmo percentual de desconto que recebeu na entrada vem vigor do tratado) até completar 100% e ficar com a taxa zerada. Um quinto grupo, de produtos sensíveis para os países, terá negociações a parte.
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, abriu o seminário fazendo um resgate dos acontecimentos entre as relações do Brasil e o Egito nos últimos anos e agradecendo aos que fazem o comércio entre os dois países acontecer. Ele citou as trocas comerciais crescentes do Brasil com os árabes e afirmou que o Egito é um dos grandes parceiros nesta relação. Em 2018, o país foi o principal destino das exportações brasileiras entre os mercados árabes.
Hannun lembrou que em 2017 a Câmara Árabe realizou viagem para o Egito, na qual houve encontros com autoridades locais e foram discutidos comércio, investimentos e questões alfandegárias, entre outros temas. No mesmo ano, vieram autoridades egípcias ao Brasil, como o ministro do Comércio e Indústria, Tarek Kabil. No ano passado, uma delegação de 45 empresários egípcios participou do Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, promovido pela Câmara Árabe. As empresas do Egito também são participantes assíduas da Apas Show, feira de alimentos na qual a entidade organiza a participação árabe.
Além de Hannun, Fernanda Baltazar e Gamal, também fez uma apresentação no fórum o cônsul Mohamed Elkhatib, que é chefe do escritório comercial do Egito em São Paulo. Houve espaço para perguntas do público, que teve participação do secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, e da diretora do Departamento de Américas e Europa do Setor de Acordos de Comércio do Ministério do Comércio e Indústria do Egito, Rania Hagrass.
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