Dubai – A produção local de alimentos nos Emirados é o que abastece os produtos da marca Mooneh. A startup foi fundada pela chef palestina Dima Al Sharif. “Quando vim aos Emirados, a conversa nunca incluía termos como fazendas locais orgânicas, ou comida orgânica e local. Isso em 2005. Minha família trabalhou em fazendas. Eu cresci com conversas sobre os desafios que produtores enfrentam por diferentes circunstâncias”, revelou Sharif.
Em entrevista à ANBA, a chef e seu sócio e marido, Firas Kanaan, que também é palestino, contaram a história da startup, que nasceu de um desejo pessoal. Sharif cresceu na Jordânia, onde parte da família tem uma fazenda produtora de laranja. Acostumada à vivência em um país agrícola, onde a preferência era por itens frescos, ela sentia falta de opções orgânicas para alimentar os filhos.
Foi então que a chef, hoje autora do livro ‘Plated Heirlooms’, descobriu a produção local de alimentos no país do Golfo. “Isso me levou a achar algo realmente surpreendente, há uma indústria produtora nos Emirados. Nós todos chegamos aqui pensando que é um deserto. E naturalmente, um deserto significa nada de agricultura. Nunca pensei que isso seria possível. E quando percebi, eu estava diante de produtores pequenos, especialmente os de orgânicos”, revelou.
Para fazer com que os alimentos chegassem a mais pessoas, o primeiro passo foi organizar um grupo para fazer uma espécie de mercado aberto, onde os produtores vendiam os produtos. Mas Sharif não parou por aí.
Há cerca de 14 anos, a palestina começou a escrever sobre agricultura local e orgânica para publicações online e impressas, além de participar de seminários em escolas. “Parte de mim tentava convencê-los de que olhar para isso era cuidar da saúde e do planeta. E nos Emirados ninguém falava sobre isso naquela época. Nesse sentido, fomos pioneiros”, contou.
Receitas novas, técnicas ancestrais
Para ir além do consumo próprio, veio a ideia de criar uma startup de alimentos. “E eu ou a Mooneh somos o suficiente? Não. Mas é um começo. A Mooneh é sobre apoiar comunidades, poderíamos apoiar o mercado brasileiro também, por exemplo. Para nós quanto menor e mais próxima uma companhia, maior é a prioridade de trabalhar com ela”, afirmou ela.
Foi aí que a experiência de Sharif como chef entrou em jogo. “Minha ancestralidade regional inspirou a Mooneh. E nós também a atualizados para algo saudável e moderno. Criamos receitas realmente deliciosas”, afirmou ela.
Os principais produtos da empresa são conservas doces, salgadas e apimentadas. Também há hommus, tomates, azeitonas e outras pastas ou alimentos in natura. As compotas são feitas com técnicas tradicionais de conservação de alimentos.
Os alimentos podem durar até um ano, conservados naturalmente. No processo, há fermentados, probióticos e as atualmente chamadas superfoods, como chia e goji berries. “Muitas pessoas dizem que nossa comida é como remédio. Ela resolve problemas. Há clientes que vêm, e voltam na outra semana para comprar muito mais. Porque sentem o corpo e a mente melhores”, contou Kanaan.
Agricultura local
O casal conta que compra de diferentes produtores ao redor dos Emirados, enviando uma solicitação para uma lista de agricultores, dizendo o que estão comprando e perguntando quantidade e preços disponíveis.
Os fornecedores mais próximos da Mooneh estão a apenas uma hora de carro da indústria, e a maior parte deles se concentram nos emirados de Al Ain e Abu Dhabi. Se a companhia não encontra um determinado alimento, eles passam a buscar em países próximos, como Omã e Arábia Saudita. E apenas em caso de produtos que não crescem na região, como as laranjas, a solução é ter como fornecedora a fazenda da família, na Jordânia.
Kanaan explica que a marca trabalha com rastreabilidade, visitando as fazendas regularmente. Outro conceito que faz parte da política da companhia é o de respeitar a sazonalidade dos alimentos.
Futuro
O casal frisa que não é contra a tecnologia, mas que valoriza os sabores originais de cada alimento. “O futuro não tem que ser uma superação completa do nosso passado e do presente. É uma escolha, de pegar o que queremos e deixar o que não nos serve. Esta é a nossa metodologia”, explica Sharif.
Para eles, acontecimentos como a pandemia do coronavírus fizeram crescer o número de clientes interessados nos alimentos mais naturais, e este é um caminho sem volta. “A questão são as mudanças climáticas. Mas por que precisamos esperar por isso para começar a mudar também?”, concluem.