São Paulo – Desde a última segunda-feira (10), alguns moradores da periferia de São Paulo têm água potável ao seu alcance pela primeira vez. Neste dia, o projeto piloto “Água, Saúde & Vida” foi inaugurado. Entre os presentes, representantes da Fundação Mohammed Bin Rashid Global Initiatives, instituição dos Emirados Árabes Unidos, e muitos moradores de Marsilac, bairro no extremo sul da cidade, administrado pela subprefeitura de Parelheiros.
A Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e a entidade dos Emirados escolheram o local para ser o primeiro a receber uma estação de tratamento. “Foi o piloto e teve receptividade do poder público e da população. O resultado foi incrível e extremamente motivante. Aquelas pessoas caminhavam em torno de 2 km para poder consumir água potável”, declarou o vice-presidente da Fambras, Ali Zoghbi, em entrevista à ANBA.
Para instalar o purificador de água, as entidades investiram juntas em cerca de US$ 23 mil. “Temos um setor na Fambras chamado ‘Saquia (algo no sentido de matar a sede) Dubai’. Nesse projeto, tivemos a junção de orçamentos. A maior parte foi financiada pela Fundação”, pontuou Zoghbi.
Tecnologia brasileira
O aparelho é o Ecolágua, criação brasileira do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Roland Vette. “Acho bastante interessante procurar soluções genuinamente nacionais. Privilegia os criativos que buscam soluções tecnológicas no Brasil. Incentiva. Encontramos aqui uma solução totalmente nacional e que atendeu nosso projeto”, destacou Zoghbi.
O modelo já é aplicado com as populações ribeirinhas e indígenas em alguns pontos do País e usa raios ultravioleta (UV) para purificar água de rios e torná-la potável. Em Parelheiros, a Fambras fez apenas algumas adaptações buscando poder utilizar tanto água subterrânea quanto superficial, detalhou o vice-presidente.
Este é o primeiro de uma série de purificadores que as entidades esperam instalar em regiões brasileiras, como nos Estados de Alagoas, Rio de Janeiro, Pernambuco e no Distrito Federal. “Temos a ideia de multiplicar isso para pelo menos 90 estações em até dois anos. Vamos trabalhar efetivamente em São Paulo no início. Naquela região mesmo tem outras comunidades, como indígenas”, explicou.
O Ecolágua é capaz de purificar até 400 litros de água por hora. Segundo a Fambras, a eficiência de eliminação é de até 99,5% das bactérias e fungos da água. O aparelho contém uma lâmpada de luz ultravioleta num tubo metálico. Quando a água passa por ele, recebe o ultravioleta e sai desinfetada. A lâmpada e a bateria do aparelho duram, em média, de três a quatro anos. A energia que abastece o equipamento é solar – captada através de painéis –, e que carrega uma bateria instalada para assegurar o funcionamento mesmo na ausência de luz.
E quem vai zelar pela manutenção do equipamento? A própria população. “Importante frisar que as pessoas foram treinadas para cuidar da estação. Eles se organizaram enquanto comunidade”, explica Ali. A Fambras também capacitou técnicos da subprefeitura de Parelheiros e distribuiu cartilhas orientando a população.
Os representantes da Fundação Mohammed Bin Rashid Global Initiatives também visitaram outros projetos nos quais investem, como o Islam Solidário. “Foi emocionante. Mostraram uma gratidão muito grande pela iniciativa, que coloca em evidência o papel dos Emirados de ajuda humanitária. É um modelo de país árabe islâmico que faz isso, e para todo mundo, por conta do orçamento bastante significativo. Fazem isso sem nenhuma contrapartida”, finalizou Ali Zoghbi.