São Paulo – Há tempos saímos do básico. E ganhamos mais cores, texturas, modelos, tecidos, estilos, negócios. Ótimos negócios. Dono de um faturamento de US$ 52 bilhões em 2010, o setor têxtil e de confecção cresceu no país a ponto de reunir 30 mil empresas, exportar para mais de 140 países e gerar 1,7 milhão de empregos diretos. O que muitos não se dão conta, no entanto, é que por trás desses números está uma poderosa alavanca de vendas chamada moda.
É a moda que faz com quem compremos mais roupas, que coloca a São Paulo Fashion Week, a mais importante semana de desfiles do Brasil, nas rodas de conversas e leva o jeito brasileiro de vestir mundo afora. Para se ter uma ideia da dimensão desse mercado, estudo do IBOPE Inteligência, organização do Grupo IBOPE, apontou que, em 2011, o varejo de moda deve movimentar R$ 136 bilhões do Oiapoque ao Chuí.
A cifra apontada pelo instituto inclui as vendas de artigos de vestuário, calçados e acessórios. Segundo o estudo, apenas o comércio de roupas para mulheres, homens e crianças vai gerar negócios da ordem de R$ 95 bilhões esse ano, o que significa um consumo de R$ 492 por pessoa. O segmento de calçados e acessórios, por sua vez, movimentará R$ 40,6 bilhões em 2011, com consumo per capita de R$ 210. Somadas as duas categorias, o gasto individual vai para R$ 702.
"O brasileiro gosta de moda", afirma o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. "A indústria têxtil nacional seria muito menor se as roupas servissem apenas para proteger o homem das intempéries da natureza", explica.
De acordo com Pimentel, é a moda que faz com que tenhamos cada vez mais pesquisa, mais tecnologia para produzir, mais tecidos, mais materiais. Ou seja, é a principal responsável pela renovação e crescimento do setor. E isso sem falar no impacto no varejo, nas cadeias de distribuição. "Basta dizer que todas as grandes redes de lojas já convidaram estilistas famosos para assinar coleções", diz. "Os consumidores estão cada vez mais antenados".
Hoje, o Brasil possui a quinta maior indústria têxtil do mundo, atrás da China, Índia, Paquistão e Estados Unidos. Para ajudar a alavancar ainda mais os negócios do setor, a Abit apóia mais de 40 eventos por ano no exterior e mais de 40 no Brasil.
O mundo como vitrine
O Salão Moda Brasil é um dos eventos realizados com o suporte da associação. Sua última edição ocorreu na capital paulista, entre os dias 19 e 21 de junho. Reunindo 320 fabricantes de tecidos, aviamentos, roupas femininas, masculinas, lingerie e moda praia, a feira recebeu lojistas daqui e de fora, com vendas em torno de R$ 280 milhões. Entre os estrangeiros, estiveram presentes, a convite da Abit, empresários da Argentina, Estados Unidos, Paraguai e Peru.
Além dessas nações, os países árabes foram destacados, nos debates do Salão, como clientes importantes da moda verde e amarela. "Os árabes valorizam a qualidade e a produção feita de forma sustentável", explica Rafael Cervone Netto, diretor-executivo do programa TexBrasil, da associação, presente no evento. "Não se preocupam tanto com preço, são ótimos compradores", diz.
Segundo informações do Departamento de Negócios e Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, as exportações brasileiras de artigos têxteis para os países árabes foram de US$ 26,4 milhões entre janeiro e maio desse ano. Um crescimento de 16,78% em relação ao mesmo período de 2010. Os principais destinos foram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Líbano e Tunísia.
Rumo ao futuro
Para continuar agradando gente do mundo todo, a moda nacional tem entre os seus maiores trunfos o talento dos profissionais do ramo. Coordenadora da Graduação e da Pós em Moda da Faculdade Santa Marcelina (FASM), em São Paulo, Raquel Valente Fulchiron explica que, na época da criação do curso, o primeiro do país na área, em 1987, havia pouca preocupação com a profissionalização de quem trabalhava com vestuário. "Era um trabalho mais voltado para a arte", lembra ela. "Hoje o foco está na criação, mas também no mercado", explica.
Ao todo, a FASM já formou mais de mil alunos apenas nessa carreira. Entre os mais famosos deles estão nomes como os estilistas Alexandre Herchcovitch e Adriana Barra. "Cerca de 80% dos nossos estudantes saem da faculdade empregados", diz Raquel.
O percentual de empreendedores, ou seja, de jovens que decidem começar com o negócio próprio, é da ordem de 30% entre os matriculados na instituição. "Os demais trabalham nas mais diversas áreas, inclusive com jóias, calçados, fotos e tudo o mais que estiver relacionado à moda", explica ela. "São novos talentos que ajudam a profissionalizar a moda, levando informação ao mercado", diz ela, animada com o futuro do mundo das linhas, agulhas e desfiles no Brasil.
Leia amanhã na segunda reportagem da série sobre a moda brasileira: Como empresas de diferentes segmentos investem em estilo. E ganham com isso.