Isaura Daniel
São Paulo – Os países da América devem aprovar, no final do próximo mês, um plano para acabar com a doença em todo o continente até 2009. A discussão final do tema vai ocorrer no dia 19 de abril, durante a reunião do Comitê Hemisférico de Erradicação de Febre Aftosa (Cohefa), no México.
O grupo, criado em 1987 pelos países do continente americano, se reúne a cada dois anos e é integrado por representantes do setor privado e governamental de sub-regiões do continente, como Cone Sul, Caribe e América do Norte.
De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, Sebastião Guedes, que integra a comissão que formulou o plano, será sugerida a criação de um fundo internacional para atacar a febre aftosa em zonas de maior risco e com poucos recursos, como a região do Chaco no Paraguai, Argentina e Bolívia, as fronteiras do Paraguai e da Bolívia com o Brasil, além do Equador. Essas quatro zonas, além do Norte e Nordeste brasileiro e a Venezuela, serão definidas como áreas prioritárias no plano do Cohefa.
O fundo deve receber recursos do setor privado e governamental de todos os países americanos. De acordo com Eduardo Correia, presidente da Pan-Aftosa, secretaria técnica do Cohefa, além dos recursos já previstos pelos governos de cada um dos países, que somam cerca de US$ 500 milhões ao ano, serão necessários mais US$ 48 milhões para tornar a região livre da febre aftosa em cinco anos. Esse fundo deverá ser administrado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
"Os norte-americanos estão dispostos a colaborar para ampliar a segurança dos seus rebanhos", diz Guedes. No continente, hoje, apenas a América do Sul ainda não é livre de febre aftosa. Além dos cinco focos da doença que surgiram no Brasil no ano passado, também apareceram dois na Colômbia, 42 no Equador, 26 no Peru e 36 na Venezuela. Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Guiana e Paraguai não registraram aftosa em 2004.
Lula na campanha
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está desempenhando um papel importante no combate à doença na América do Sul e já dispôs a liderar a campanha na região. Guedes atribui o interesse demonstrado pelos presidentes da Venezuela e Equador pelo tema aos esforços de Lula. O presidente brasileiro conclamou os países da região a trabalharem contra a aftosa durante a cúpula do Mercosul, em Ouro Preto, no final do ano passado.
"Lula pode colaborar no caso da Venezuela pois tem uma relação próxima com o presidente Hugo Chávez", afirma Guedes. A Venezuela e o Equador são os países que mais têm problemas com a doença. De 2001 até o ano passado foram registrados 127 focos de aftosa no território venezuelano e 179 no rebanho equatoriano.
O fim da aftosa deve trazer vantagens para todos os países da região, principalmente para os exportadores de carnes como o Brasil. "Uma vez que o continente evolua para área livre de aftosa começa a ter facilidades para exportar, poderemos entrar em mercados mais sofisticados, como o japonês e o coreano, hoje atendidos pelos Estados Unidos e Austrália", afirma Guedes. Enquanto a carne brasileira é exportada a uma média de US$ 2 mil a tonelada, o Japão compra carne bovina por cerca de US$ 4 mil a tonelada.
Área livre
Pelo plano do Cohefa o continente deverá ser livre de aftosa com vacinação até 2009. O próximo passo deverá ser o reconhecimento da região como zona livre de aftosa sem vacinação, status do qual alguns países do continente, como os Estados Unidos, já gozam. "Uma vez erradicada clinicamente a doença, os testes vão dizer quando podemos parar com a vacinação", afirma Guedes.
O presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, que também é consultor do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, lembra, porém, que eliminar a vacina cedo demais pode significar aumento dos riscos de volta da doença. De acordo com Correia, da Pan-Aftosa, o rebanho bovino da América do Sul é hoje de 300 milhões de cabeças, das quais 260 milhões de bovinos já estão em zonas livres de aftosa.