São Paulo – A brasileira Ana Ferrari é a única artista latino-americana a expor na edição deste ano da mostra “Forever is Now”, realizada no Egito. Convidada pela fundadora da Art D’Égypte, instituição que organiza a mostra, Nadine Abdel Ghaffar, Ferrari levou para as proximidades das pirâmides de Gizé flautas gigantes que ressoam um som só possível com a brisa que sopra ali. A instalação “Vento” fica em exposição até 6 de dezembro. Em 2026, poderá ser vista – e ouvida – por mais brasileiros, pois desembarcará no Rio de Janeiro.
À ANBA, Ferrari diz que a ideia de criar a “Vento” surgiu após ela visitar a exposição “Forever is Now” pela primeira vez, três anos atrás. Ela recorda que o vento “forte, constante, quase falante” lhe trouxe um chamado “difícil de ignorar” e sentiu, desde então, que precisava criar um projeto que “desse voz a essa força invisível”. Essa inspiração, porém, não decorre do acaso. Ferrari estuda sons, frequências, cimática e animismo há 15 anos. Cimática é o estudo das ondas sonoras. Animismo é a doutrina segundo a qual todos os seres da natureza têm alma.

“Mergulhei em estudos profundos: mitologias do vento como sopro da vida (de Shu no Egito a Quetzalcóatl nas Américas), espirais sagradas, padrões cimáticos de vibrações aéreas”, diz Ferrari sobre a inspiração para desenvolver essa obra de arte. Shu é uma divindade egípcia que representa o ar. Quetzalcóatl é o deus do vento para culturas mesoamericanas como os astecas.
“Criei 21 flautas gigantes de alumínio polido, dispostas em espiral, com câmaras de ressonância afinadas a laser a partir de padrões sonoros visíveis na água. O alumínio espelhado reflete tudo – pirâmides, céu, visitantes – fundindo a obra ao local”, afirma. O objetivo de “Vento”, diz, é dar à natureza seus próprios instrumentos. O vento é o “maestro” gerado pela melodia única de cada brisa que sopra em Gizé.
Ferrari já expôs na Bienal de Veneza (paralela 2022); na Art Basel Miami, em 2021 e em 2023; no Museum of Arts and Design, em Nova York, em 2023, na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, em 2018, e foi, por dois anos, diretora criativa e curadora do Sfer Ik Museion, no México. Sua estreia no mundo árabe ocorre agora, com a exposição no Egito, mas ela afirma que pretende fazer outros projetos nos países do Norte da África e do Oriente Médio.
“Para o diálogo com o público árabe, é uma honra enorme: trazer uma visão brasileira que transforma o invisível em experiência sensorial, ecoando exatamente os conhecimentos egípcios antigos sobre som, cura e harmonia cósmica. É uma ponte real de respeito e ressonância entre culturas distantes que, no fundo, falam a mesma linguagem das vibrações”, afirma.
Próximo destino da instalação: Brasil
“Vento” já tem um endereço para depois da sua apresentação no Egito: a Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, a partir de março do ano que vem. Mas a melodia que se ouvirá nas areias do Rio será diferente daquela do Egito, pois as flautas serão ajustadas para levar ao público os sons do seu novo lar.
“As notas serão reafinadas porque cada lugar tem seu próprio “sopro”: o vento seco e constante do deserto egípcio é muito diferente das correntes cruzadas, úmidas e intensas entre as praias de Ipanema e Arpoador. A essência cimática permanece, mas as melodias serão únicas ao novo contexto – a obra se adapta à natureza local, como sempre foi sua vocação nômade”, afirma Ferrari. A expectativa é que “Vento” fique exposta por, pelo menos, seis meses no Rio de Janeiro.
“Forever is Now” está em sua quinta edição. O objetivo da mostra é colocar em diálogo a arte contemporânea de um mundo em transformação em um local em que as pirâmides milenares são as testemunhas da história. A mostra deste ano apresenta trabalhos de artistas do Líbano, Itália, Rússia, Portugal, Egito, Alemanha, Coreia do Sul, Turquia, Benin e França.
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