São Paulo – O atleta Antoine Abou Jaoude é famoso por ser 23 vezes campeão brasileiro de wrestling (conhecido como luta olímpica) e uma das principais referências do esporte no Brasil, mas também é bacharel em Relações Internacionais, estudou Direito nas faculdades Gama Filho (não tem o diploma porque a instituição fechou), foi goleiro e jogador de vôlei, atuou como comentarista esportivo para um canal de TV em Olimpíadas, foi dono de restaurantes de comida libanesa na capital fluminense, fala português, inglês, francês, espanhol e árabe.
Filho mais velho de pai libanês e mãe brasileira, Antoine nasceu no Rio de Janeiro em janeiro de 1977, mas passou a infância e parte da adolescência no Líbano, quando o país vivia em guerra civil. “Para ser apresentado ao meu avô, fomos para Beirute quando eu tinha seis meses e, por causa da guerra, a viagem durou 14 anos.” Ele conta que a adaptação da família ao país árabe não foi difícil: “minha mãe falava francês e não teve dificuldades para se comunicar. Ela ficou amiga das primas do meu pai, se apaixonou pelo país e pela cultura”, lembra com saudade.
Acabou entrando para o cotidiano de Antoine crescer em meio à instabilidade. “A gente jogava bola, ia para a escola, e quando havia bombardeiros, íamos para os abrigos. Às vezes, a gente passava um tempo sem aulas, mas depois voltava”, conta. Ele descreve sua experiência nesse período desafiador como formadora e reveladora, e enfatiza a resiliência e a solidariedade do povo libanês diante das adversidades.
Talvez por ter crescido em meio a um conflito, usa o verbo “defender”, e não representar, quando fala sobre os treinos puxados longe da família a fim de conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos. Assim, defendeu o País em três deles: Atenas, Pequim e Rio; e por um único ponto, deixou de ir a outras três: Sydney, Atlanta e Londres. “Quando não consegui a vaga, fiz comentários sobre as lutas para o SporTV”.
A luta pela qual se sagrou campeão é um dos primeiros esportes da humanidade e talvez seja um dos esportes de combate mais antigos do mundo. Segundo o Comitê Olímpico Brasileiro, já estava presente nos Jogos da Antiguidade, no século VIII a.C., e há desenhos que datam de 3000 a.C retratando a modalidade, que não permite socos, chutes ou estrangulamentos.
Quem apresentou o esporte a Antoine foi o avô, que chamava o neto para ver com ele as transmissões dos jogos pela TV. “O Líbano tem três medalhistas olímpicos nesse esporte”, explica. Primogênito da família, influenciou também os irmãos, e levou para os ringues Ralph Jaoude, Adrian Jaoude, Daniel Jaoude e Nicolas Jaoude.
Antoine é pai de três filhos: Patrick, 17, Victória, 15, e o pequeno grande Theo, do segundo casamento. “Estou amando viver a paternidade nessa idade. Quando os mais velhos nasceram eu treinava muito, e às vezes ficava meses em outro país”, revela. Theo, segundo o pai, com apenas cinco meses, “tem corpinho de um ano”, diz divertido sobre o garoto que não aparenta a idade.
Recentemente, Antoine recebeu uma homenagem como atleta olímpico, com sua imagem estampada em flâmula da Arena Olímpica, no Rio de Janeiro, servindo de inspiração para quem usa o local.
Agora, aos 47 anos, está em transição de carreira: com três sócios, tem uma empresa, o Grupo Sidon, que busca firmar um intercâmbio entre Brasil e países árabes, levando e trazendo tecnologia, conhecimento e soluções em vários setores da economia, como meio ambiente, produtos e serviços.
Reportagem de Paula Medeiros, especial para a ANBA.