São Paulo – O seminário online “A influência do árabe na Língua Portuguesa” (imagem acima) discutiu nesta terça-feira (05) como a língua Árabe em contato com a Portuguesa ajudou a proporcionar aproximação cultural e desenvolvimento do comércio entre Brasil e países árabes, além de resultar na adoção de palavras, gírias e expressões. O encontro foi promovido pelo Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, na Palestina.
Na apresentação do encontro, a vice-presidente de Marketing e Comunicação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Silvia Antibas, observou que a língua portuguesa é “viva, colorida, diversa”. Ela afirmou que o objetivo do encontro era proporcionar o aumento dos laços históricos e culturais que unem Brasil a países árabes.
O presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, observou que o contato entre brasileiros e árabes extrapola o encontro cultural, mas, a partir dele, foram abertas portas que avançam, por exemplo, pela diplomacia e pelo comércio: “As relações no campo político são muito boas e temos obtido um incremento muito significativo nas trocas entre Brasil e países árabes em setores diversos. Em 2022 o comércio entre o Brasil e os 22 países alcançou o montante de US$ 32 bilhões, o que transforma os árabes em alguns dos principais parceiros do Brasil no comércio exterior. O Brasil é importante para eles na segurança alimentar”, disse.
Idealizador do seminário, o embaixador Alessandro Candeas, que lidera o escritório de Representação do Brasil em Ramallah, disse que a cultura árabe contribui para a riqueza e para a diversidade da cultura brasileira e é uma ponte entre os povos.
Esse seminário se insere em um dos projetos maiores do escritório do Brasil na Palestina, que é construir uma rede acadêmica entre os dois países, uma rede de universidades. “Vamos lançar em dezembro o Instituto de Estudos Avançados Brasil-Palestina que basicamente é uma rede de universidades brasileiras e palestinas”, disse. Segundo Candeas, deverão integrar o projeto a universidade palestina Al Quds e o Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB), com participação da UNB, UFRJ e USP.
Em sua palestra, o professor titular de Árabe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Baptista Vargens recordou que a influência do árabe na Língua Portuguesa no Brasil decorreu do encontro entre brasileiros e árabes imigrantes aos finais dos séculos 18 e 19. “Os empréstimos linguísticos entram por duas vias: por línguas e culturas em contato, nos encontros pessoais, ou então em empréstimos culturais, que acontecem, por exemplo, na primeira metade do século 20 com os galicismos, as palavras provindas do francês entre diversas línguas, devido à força cultural da França. No português, foram encontros pessoais”, disse.
Professor da Universidade do Minho, em Portugal, António Lázaro apresentou elementos da cultura árabe e islâmica que exerceram influência na cultura da cultura ibérica e deixaram heranças até 1.249, data em que se determina a constituição do território português como é hoje. “A sua influência estendeu-se rapidamente para as mais diversas áreas econômicas, naquilo que era a malha urbana de inúmeras vilas e cidades do território português, na administração, novamente na guerra, na cultura e na ciência”, disse.
O árabe se mostra presente também no dia a dia de Laura di Pietro e Ana Cartaxo, fundadoras da Editora Tabla, que publica no Brasil obras da literatura árabe. “Começamos com objetivo de trazer visão nova, com narrativa mais autêntica. Tínhamos a preocupação de trazer a literatura e que literatura fosse uma porta para debate e escuta”, disse Laura.
Para atingir esse objetivo, as idealizadoras da Tabla viajaram para os países árabes, foram à Feira do Livro de Sharjah, buscaram conhecer autores, editores e agentes literários. “Não queríamos fazer a ponte via Europa para ter acesso à literatura, queríamos ter contato direto, o que foi muito bom, porque no decorrer dos anos criamos parceria e confiança”, disse. “É um desafio diário, mas estamos muito satisfeitas e otimistas com o caminho que esse projeto pode tomar e pode avançar”, disse Laura.
Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), a embaixadora Márcia Loureiro lembrou que a língua árabe “não apenas enriquece nosso vocabulário, mas conecta nossos povos” ao simbolizar o “entrelaçamento” das culturas brasileira e árabe.
Embaixador da Palestina em Brasília e decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Ibrahim Alzeben, observou que é necessário incentivar as novas gerações a aprender árabe para que essa iniciativa traga “frutos no futuro”.
A diplomata Cláudia Assaf, que atua na Embaixada do Brasil em Omã, recordou de sua admiração e vontade de aprender o árabe na infância ao conviver com seus avós árabes. “Ao viajar pela Síria, pude observar os diferentes dialetos utilizados dentro do próprio país”, disse. A professora Shatha Jarrar, especialista em ensino de árabe a não nativos, falou sobre experiências profissionais e no ensino de línguas. “Uma pessoa árabe, quando aprende português, percebe a existência de várias palavras árabes no vocabulário português”, afirma.
O chefe da Missão da Liga Árabe no Brasil, Qais Marouf Kheiro Shqair, afirmou em sua apresentação que o idioma árabe conta com mais de 600 mil palavras em seu vocabulário e tem ramificações em outras línguas. “As relações entre Brasil e árabes são históricas, no entanto, um olhar para evolução atual no cenário das Relações Internacionais leva-nos a empregar o que temos para promover as relações para mais alto nível”, afirmou Shqair, citando como exemplo a recente ampliação do grupo Brics (inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com o convite a seis novos países, entre eles Arábia Saudita, Emirados Árabes e Egito.
O chefe da missão no Escritório de Representação de Portugal na Palestina, Frederico Nascimento, observou que o tema do seminário é “da mais alta importância para o meu país” por refletir a influência e ensinamentos deixados pelos árabes e muçulmanos na Península Ibérica e, posteriormente, a herança deixada pelos portugueses a partir do seu desenvolvimento.
O evento contou com o apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, do Escritório de Representação de Portugal em Ramallah, do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB), da editora Tabla, da Fundação Alexandre Gusmão, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Governo Federal brasileiro.