São Paulo – O bloco de países árabes perdeu a primeira posição entre os importadores de frango brasileiro. Agora, a Ásia está em primeiro lugar. A queda foi puxada pela estratégia de produção local da Arábia Saudita, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), e também pela queda no turismo em Dubai, nos Emirados Árabes, e do turismo religioso, como a peregrinação a Meca, como efeitos da pandemia de coronavírus.
Segundo Luís Rua, diretor de Mercados da ABPA, os árabes seguem sendo o maior importador de frango inteiro do Brasil. “Mas nesse ano, no acumulado do ano, a Ásia já superou como região, tendo aí em torno de 40% das exportações brasileiras de carne de frango brasileiro, e se a gente considerar todos os produtos, frango inteiro e cortes, algo em torno de 33% vai para o bloco de países árabes”, informou à ANBA durante coletiva de imprensa da associação, nesta quarta-feira (09).
A diminuição da fatia de mercado, de acordo com Rua, tem a ver com a diminuição nas compras da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, principais países do mercado árabe para o frango brasileiro. “Teve um efeito muito em função da redução do turismo, seja o turismo em Dubai, seja o turismo religioso na Arábia Saudita, mas o que a gente vê nos últimos três meses é que, com a diminuição dos casos de covid-19 na região, o consumo já voltou e nossas exportações voltaram ao patamar que sempre estiveram, na casa das 40, 45 mil toneladas na Arábia Saudita e algo entre 25 e 30 mil toneladas nos Emirados Árabes, o que é uma boa notícia e dá uma boa perspectiva para 2021 nesses dois mercados”, informou. Os valores são mensais.
Arábia Saudita
Entre janeiro e novembro de 2020, a Arábia Saudita comprou 418,8 mil toneladas de frango do Brasil, volume 2% menor que o do mesmo período do ano passado, e se estabelece em segundo lugar pelo segundo ano consecutivo no ranking de países compradores, atrás da China, que se consolidou na primeira posição com 615,7 mil toneladas importadas, alta de 20% no mesmo comparativo.
O presidente da ABPA, Ricardo Santin (foto acima), informou à ANBA na coletiva que a Arábia Saudita vem comprando menos do Brasil desde o ano passado por uma decisão interna de incentivo à produção local. “O Brasil está disposto e tem condições de voltar a abastecer a Arábia como maior importador. A decisão é deles. O Brasil não força a venda e nem faz dumping com ninguém. Vendemos aquilo que querem comprar. A Arábia era sempre nosso maior importador e resolveu, por política própria, ter uma sustentabilidade de produção local e nós respeitamos as decisões do Reino. Mas estamos prontos e ficaremos muito felizes em ver a Arábia voltar a ser o maior importador”, declarou.
Santin enfatizou que o Brasil segue sendo o maior produtor de frango halal do mundo. “O Brasil continua vocacionado para ser o grande parceiro do Oriente Médio e não é de agora, sempre foi e já vendemos milhões de toneladas para lá nos últimos 40 anos. Vamos continuar sendo parceiros independentemente da posição, se é o maior mercado ou não, sempre será importante para o Brasil como um todo”, disse.
Os Emirados Árabes aparecem em quarta posição no ranking de maiores importadores de frango brasileiro, com 272,2 mil toneladas embarcadas de janeiro a novembro, queda de 14% em relação ao mesmo período de 2019. O Iêmen aparece na décima posição, com 99,8 mil toneladas importadas, alta de 5% no mesmo comparativo.
Panorama
O Brasil exportou entre janeiro e novembro 3,849 milhões de toneladas de carne de frango ao mundo, se mantendo nos mesmos níveis de 2019, com leve alta de 0,7% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Em receita, foram US$ 5,54 bilhões, queda de 13%, devido à alta do dólar. A ABPA projeta que as exportações anuais se mantenham ou cresçam até 0,5% até o fim de dezembro, no comparativo com o ano de 2019.
“Esperávamos crescimento de 3% e vamos ficar entre 0% e 0,5% nas exportações de frango. Com a pandemia, estamos bem, conseguimos manter a produção e a exportação, apesar de todas as dificuldades da pandemia”, disse Santin. O presidente informou ainda que houve um aumento no consumo de carne de frango internamente e listou a perda da capacidade econômica e o aumento nos preços da carne bovina como principais fatores.
Somente no mês de novembro, o País exportou 350,7 mil toneladas, alta de 5,6% em volume, e US$ 476,8 milhões, queda de 11,3% em receita em comparação a novembro de 2019.
Ovos
Os Emirados aparecem na liderança entre os compradores de ovos do Brasil, com 44% do mercado de exportação. Eles importaram, entre janeiro e novembro, 2.124 toneladas de ovos brasileiros, uma queda de 47% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a ABPA, o setor foi resiliente e conseguiu manter a produção e a exportação no período de pandemia. A associação estima crescimento de cerca de 5% na produção (em bilhões de unidades) e de 50% no volume de exportação de ovos para 2021.
Novos mercados
A ABPA falou também sobre a abertura de novos mercados neste ano. Entre eles, está o Marrocos, que abriu mercado para o material genético avícola, e o Egito, que abriu mercado para derivados de carne de aves.
Luis Rua afirmou à ANBA que este é um passo importante na relação comercial com o Egito. O “Quando conseguimos abertura para termoprocessados de aves no Egito, efetivamente isso mostra a confiança do Egito nas nossas exportações, e o Brasil introduz esse produto de altíssimo valor agregado. O Egito já é um dos 15 principais mercados de carne in natura, e essa é uma possibilidade que se abre pra também para exportarmos produtos processados de carne de aves”, disse.
Sobre o Marrocos, o diretor afirma que essa é uma parceria que se consolida entre os países. “No caso do material genético de aves para o Marrocos, estamos fornecendo genética para o desenvolvimento daquela avicultura, e com isso a gente espera também acessar mais esse mercado do ponto de vista da carne de frango in natura. Hoje a gente exporta muito pouco volume para lá e seria um mercado interessante pra avançarmos”, declarou Rua.