São Paulo – A pintora síria Juhaida Al Bitar, de 32 anos, chegou ao Brasil no começo de dezembro para uma residência de 45 dias na Kaaysá Art Residency, na praia de Boiçucanga, em São Sebastião, cidade do litoral de São Paulo. Acostumada a levar para suas telas a vida no Oriente Médio, Juhaida diz que, agora, sua arte encontrou uma nova “paleta” (tonalidade) de cores: a brasileira.
“O que eu vi quando cheguei a São Sebastião não foi mar, foi oceano. Todos os lugares têm suas características, mas aqui é diferente. O verde da mata é um verde que eu nunca vi antes, uma tonalidade única. E a Kaaysá não é apenas uma residência artística, é uma família”, diz Juhaida. “Aqui tem elementos muito únicos, tem o samba, tem as pessoas. É tudo arte”, diz a artista em uma visita à sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo (na imagem acima). “O oceano no Brasil possui um matiz distinto, caracterizado por uma poética mistura de laranja, amarelo e sombras de dourado durante o pôr-do-sol, enquanto o verde domina a cena em outros momentos. Esta abundância de cores inspira minhas pinturas. O Brasil é mágico e, além desta descrição, suas pessoas têm coração de ouro”, diz.
A Kaaysá Art Residency recebe Juhaida e outra artista, da Palestina, por meio de uma bolsa concedida em um projeto da empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e presidente do Grupo Mulheres do Brasil. A vinda da artista ocorreu por intermédio da embaixatriz Claudia Barenco Abbas.
Em uma antiga pousada ao pé da mata e de frente para o mar, artistas do mundo todo se revezam em residências artísticas na Kaaysá, um espaço dedicado à arte pelas mãos da empreendedora e historiadora da Arte, a libanesa Lourdina Jean Rabieh. Segundo Lourdina, Juhaida enviou sua inscrição para a Kaaysá para a Câmara Árabe. Com apoio da vice-presidente de Comunicação e Marketing da instituição, Silvia Antibas, obteve a bolsa para se instalar em São Sebastião. “Pretendo continuar a lutar para trazer cada vez mais artistas de todos os países árabes, pois a maioria dos que vêm ao Brasil é de origem síria e libanesa”, diz Lourdina.
Além do contato com outros artistas e com a natureza, a Kaaysá oferece aos seus residentes a oportunidade de vivenciar a vida cultural da metrópole, a 160 quilômetros dali. Juhaida, por exemplo, visitou o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e assistiu a um espetáculo no Teatro Oficina.
Nascida em Damasco, a capital da Síria, em 1991, Juhaida estudou na Universidade de Damasco, onde também fez seu mestrado em arte bizantina dos primeiros anos do cristianismo. Em 2018, mudou-se para Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, a convite da Sharjah Art Foundation e já expôs seus trabalhos nos países do Oriente Médio.
Juhaida trabalha com diversos materiais, como tintas acrílicas e aquarelas, entre outros. E são esses materiais que lhe permitem colocar nas telas o sentimento que o Brasil lhe tem proporcionado. “Cada lugar tem a sua beleza, sejam cidades, desertos ou florestas. Já as pessoas têm dentro de si a tragédia, a comédia… A natureza, por sua vez, é como cada um de nós: tem vários sentimentos. Tudo isso me influencia”, diz.