Giuliana Napolitano
São Paulo – O Brasil começou a diversificar sua pauta de exportações para o mercado árabe no ano passado. Cresceram, especificamente, os embarques de bens de maior valor agregado, como automóveis, calçados e móveis. "A balança comercial está mais saudável", declarou o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Paulo Sergio Atallah.
As vendas de veículos de passeio, por exemplo, aumentaram 311% em 2003 frente ao ano anterior, de acordo com os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento. O volume ainda é baixo – US$ 37 milhões -, mas pode indicar uma nova tendência nos negócios bilaterais. "A pauta está se diversificando e isso dá espaço para mais crescimento nos próximos anos", acredita Atallah.
É a mesma situação dos setores de móveis e calçados. As exportações de móveis, por exemplo, cresceram 192% no ano passado, para um total de US$ 7 milhões. No caso dos calçados, a alta ficou em 93%, para US$ 18 milhões.
Apesar de os volumes absolutos serem pequenos, o aumento dos negócios de produtos não tradicionais no comércio entre o Brasil e os países árabes fez a pauta de exportações bilaterais se desconcentrar. Estudo feito pela CCAB mostra que, no ano passado, os dez principais itens vendidos pelo Brasil à região corresponderam a 68% do total exportado – o que corresponde a US$ 1,877 bilhão. Em 2002, a taxa foi de 74%, ou US$ 1,939 bilhão.
Essa redução é ainda mais relevante se for levado em conta que as exportações totais para o mercado árabe cresceram 6% entre 2002 e 2003, para US$ 2,759 bilhões.
Mais carne, menos petróleo
Não foram apenas as exportações de novos produtos que aumentaram no ano passado. O comércio de itens já tradicionais da pauta brasileira com o Oriente Médio e o Norte da África também subiram. Foi o caso das vendas da carne de frango, que aumentaram 39%, para US$ 505 milhões. Com isso, os países árabes passaram a comprar cerca de 28% do frango que o Brasil embarca para o mercado externo, de acordo com o estudo da CCAB.
Outro produto que tem grande participação na pauta é a carne bovina. No ano passado, as exportações desse item aumentaram 45%, para US$ 223 milhões – o que representa 14% das vendas totais de carne bovina do Brasil ao exterior.
O que segurou um crescimento global maior das exportações brasileiras aos países árabes em 2003 foi o setor de petróleo (o Brasil vende petróleo pesado à região, de um tipo que não é produzido localmente). No ano passado, os embarques caíram 55%, para US$ 135 milhões. Os negócios começaram a diminuir no segundo semestre, quando os Emirados Árabes Unidos – principal importador do petróleo nacional na região – reduziram as compras.
Com isso, as vendas do país ao Oriente Médio e Norte da África, que vinham subindo 20% até junho, passaram a baixar até fechar o ano com alta de apenas 6%. "(O petróleo) foi o único ponto que falhou", afirmou Paulo Atallah.
Demanda por aviões
Para este ano, a CCAB projeta crescimento de 10% nas exportações para os países árabes. Uma indústria que pode começar a contribuir para o resultado é a de aeronaves. A Embraer vem participando de feiras internacionais do setor na região – a última delas ocorreu em dezembro, em Dubai, nos Emirados – e também de licitações governamentais.
O mercado de aviação no Oriente Médio e Norte da África vem crescendo. Só no final do ano passado, nos Emirados Árabes, foram inauguradas duas novas companhias aéreas, e uma delas começou a operar usando aviões da TAM. Existe uma demanda particularmente forte por aeronaves de pequeno e médio porte, como os produzidos pela Embraer. Isso porque as empresas começam a criar rotas regionais, para outros países árabes.
Importações crescem 15%
Os países do Oriente Médio e Norte da África compraram menos petróleo brasileiro no ano passado, mas o Brasil ampliou as importações da commodity da região. As compras do óleo bruto aumentaram 20%, para US$ 1,8 bilhão, e as de óleo diesel cresceram 10%, para US$ 223 milhões.
Uma das explicações é a alta dos preços internacionais do petróleo. O valor da cesta calculada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) fechou 2003 em US$ 28,5, um aumento de 16% em relação ao resultado do ano anterior. Também justifica-se que as importações podem ter crescido para atender à demanda por combustíveis gerada por um aumento da safra agrícola, que é quase totalmente transportada pela malha rodoviária.
O aumento das compras de petróleo fez as importações globais do país do mercado árabe crescerem 15%, para US$ 2,706 bilhões. Aumentaram, principalmente, as importações da Argélia – em 10%, para US$ 1,1 bilhão. Isso porque o país é o maior fornecedor de petróleo para o Brasil na região.
A Argélia, aliás, é um dos três países árabes com os quais a balança comercial do Brasil no ano passado foi deficitária. Os outros dois são a Arábia Saudita e o Iraque. Com as outras 18 nações do Oriente Médio e Norte da África, o saldo foi positivo.
Isso levou a um novo superávit comercial histórico na balança comercial do Brasil com os países árabes, de US$ 53 milhões. Nos últimos 20 anos, foram registrados apenas outros dois saldos positivos: em 1998 (US$ 242 milhões) e em 2002 (US$ 306 milhões).