Giuliana Napolitano
São Paulo – Brasil e Líbano começaram ontem a negociar um acordo de cooperação na área médica e hospitalar. O início das conversas aconteceu durante a visita do presidente libanês, Émile Lahoud, ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Em declaração exclusiva à ANBA, Lahoud disse ter trazido dois médicos de Beirute para conhecer o hospital e colocar as negociações em andamento. "Acabamos de iniciar o acordo", afirmou. "Tenho certeza de que estabeleceremos uma relação de parceria muito frutífera", acrescentou.
Agora, o próximo passo será dado pelo presidente do Conselho Médico do Sírio-Libanês, Raul Cutait. O médico foi convidado por Lahoud para visitar o Líbano e dar continuidade às discussões para o fechamento do tratado. "Esperamos o dr. Cutait", reiterou o presidente. À ANBA, Cutait informou que pretende viajar ao país árabe em junho.
"Vou levar meus filhos para conhecerem a terra dos avós e também irei negociar os termos de uma parceria na área médica que pode ser firmada entre os dois países", explicou Cutait. "Nossa idéia é estabelecer um intercâmbio em medicina e educação. Temos um centro de treinamento e queremos ter um relacionamento com outros centros mundiais e, claro, com os países árabes", completou.
Lahoud é o primeiro presidente libanês a visitar o hospital desde 1957. Segundo Cutait, ele decidiu ir à instituição porque queria "conhecer obras da comunidade libanesa em São Paulo". Lahoud disse ter ficado impressionado com o que viu. "É um hospital fantástico, um dos melhores que já vi". Andando pelos corredores do prédio, o presidente afirmou ter ficado "fascinado com os esforços" que foram feitos para construir o Sírio-Libanês, fundado há mais de 80 anos por imigrantes árabes.
Relações políticas "mais do que boas"
Durante a visita ao Sírio-Libanês, Lahoud também falou sobre sua viagem ao Brasil. Disse que a viagem tem sido muito "produtiva", especialmente no campo econômico. "Acho até que demoramos muito para organizar um evento assim. Estamos atrasados, mas nunca é tarde para começar". Em entrevista por escrito concedida também com exclusividade à ANBA, Lahoud voltou a afirmar que espera que "os laços de raízes humanas e culturais que unem o Líbano e o Brasil se reflitam sobre a relação que une os dois países em todos os níveis".
"Se as relações políticas são mais do que boas, principalmente em relação à posição do Brasil, que prega o respeito aos direitos do Líbano e à soberania do governo sobre todo o território do país, sem dúvida alguma devem ser fortalecidas outras relações, principalmente as comerciais e econômicas", declarou o presidente. Durante sua visita ao país, foram assinados acordos nas áreas comercial e de energia e também está em estudo a reabertura de um vôo direto ligando São Paulo e Beirute.
O presidente acrescentou que se "sente em casa" no país, que tem a maior comunidade libanesa no exterior, estimada em cerca de 9 milhões de pessoas. A colônia é tão grande que, andando pelos corredores do hospital, o presidente encontrou dois parentes distantes que não via há mais de 20 anos, informou a assessoria oficial.
Orgulho dos imigrantes
Lahoud afirmou que o fato de imigrantes libaneses terem contribuído "de maneira eficaz para o progresso e florescimento" do Brasil é "motivo de orgulho". "Minha visita tem o objetivo de dar continuidade e consolidar esse relacionamento", declarou. Por isso, ontem à tarde, em São Paulo, o presidente se reuniu com membros da colônia libanesa.
Um dos objetivos do governo de Lahoud é atrair investimentos de imigrantes ao país. Matéria publicada nesta semana na revista Monday Morning, de Beirute, diz que esses imigrantes "são considerados uma fonte genuína de riqueza que pode contribuir para a reativação da economia libanesa".
História do hospital
A história do Sírio-Libanês começou em 1921, quando foi criada a Sociedade Beneficente de Senhoras, que tinha o objetivo de angariar fundos para construir a instituição. As obras começaram dez anos depois e foram concluídas em 1940, mas a instituição não chegou a funcionar porque o prédio foi desapropriado pelo governo estadual e passou a ser usado para abrigar uma escola de cadetes.
Em 1959, a Sociedade Beneficente de Senhoras conseguiu reaver o prédio e iniciou as reformas para inaugurar o hospital em 1965. Nessa época, o Sírio-Libanês funcionava apenas como uma clínica pediátrica. Em 1971, tornou-se hospital com a implantação da primeira UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do país.
De lá para cá, passou por mais reformas e ampliações e, hoje, é um dos maiores hospitais de São Paulo. É referência nas áreas de oncologia, neurocirurgia, cardiologia, ortopedia e cirurgia plástica. Lahoud foi levado para conhecer o centro de oncologia, o recém-inaugurado Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), resultado de um investimento de US$ 20 milhões, e o memorial com a história do hospital.