Giuliana Napolitano
São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou diversas vezes que a intenção do governo brasileiro ao visitar cinco países árabes neste mês era estabelecer o ponto de partida para um relacionamento bilateral mais próximo. A estratégia começa a dar resultado – pelo menos no caso do Líbano. Já está programada para fevereiro de 2004 a viagem do presidente do país, Emile Lahoud, ao Brasil.
Segundo o embaixador brasileiro em Beirute, Marcus Camacho de Vicenzi, os presidentes "darão continuidade às conversas" iniciadas no começo deste mês e podem assinar novos acordos de cooperação. Um deles será o acordo comercial, que está sendo analisado pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, informou o embaixador, em entrevista à ANBA.
De Vicenzi disse não ter todos os detalhes do acerto, mas adiantou que devem ser reduzidas as tarifas de importação de alguns produtos. "Pode evoluir para um acordo de livre comércio, mas por enquanto os termos ainda estão em estudo", ponderou.
O embaixador declarou ainda que Emile Lahoud "tem muito interesse na visita ao Brasil". Isso porque, explicou, um dos projetos do governo do Líbano é atrair investimentos da comunidade libanesa fora do país – e o Brasil tem a maior colônia do mundo, com cerca de 7 milhões de imigrantes e descendentes. Por isso, o presidente deve ir também a São Paulo e a Foz do Iguaçu, cidades que concentram a maior parte da comunidade libanesa no Brasil", disse o diplomata.
O presidente também deverá participar da reunião de cúpula entre os chefes de Estado de países árabes e sul-americanos, que foi proposta por Lula e está programada para acontecer no Brasil em 2004. A data ainda não está fechada. A previsão inicial era de que o encontro aconteceria entre abril e maio, mas o evento poderá ser adiado para o segundo semestre.
Acertos econômicos e políticos
Durante a viagem de Lula a Beirute, entre 4 e 6 de dezembro, foram assinados cinco acordos de cooperação bilateral, nas áreas técnica, fitossanitária, de cultura, turismo e combate a drogas. Também foi instituída uma Comissão Bilateral de Alto Nível Brasil-Líbano, para discutir principalmente questões políticas.
Para o embaixador, esses acordos resumem os dois principais objetivos da visita de Lula ao Líbano e à região: ampliar o comércio e fortalecer a relação política entre o Brasil e os países árabes. "Essa é a linha da política externa do governo, ou seja, fortalecer o relacionamento com os países em desenvolvimento para fazer um contrapeso à presença esmagadora dos Estados Unidos, principalmente, e também para estabelecer uma forma melhor de diálogo com as grandes potências", afirmou.
No campo comercial, a comitiva de Lula acertou ainda a construção da Casa do Brasil em Beirute, local que terá exposições permanentes de produtos brasileiros. A casa deve levar mais de 1 ano para ficar pronta. O terreno foi doado pelo governo do Líbano – numa concessão de 100 anos ao Brasil -, mas agora o Planalto está na fase de captação de recursos para a obra.
A idéia do governo brasileiro é que empresários e a comunidade libanesa no Brasil contribuam para o projeto. "Os móveis, por exemplo, poderiam ser doados por empresários brasileiros. Será uma propaganda. Também poderão ser feitos concursos para atrair participantes", contou De Vicenzi.
Previdência e vôos diretos
Dois acordos que ficaram pendentes na visita de Lula a Beirute, e poderão ser discutidos quando Emile Lahoud vier ao Brasil, são o de previdência e o que prevê a criação de um vôo direto entre São Paulo e a capital libanesa.
Nota divulgada pelo Itamaraty informa que, em 2004, "serão iniciadas conversações para um acordo de previdência social". O motivo do acerto são as "expressivas comunidades de cidadãos e descendentes do Líbano no Brasil e do Brasil no Líbano", diz a nota. Está em estudo também a abertura de um escritório do Banco do Brasil na região, de acordo com o Itamaraty.
Também continua na pauta a questão da ligação aérea entre os dois países. A falta de vôos diretos entre o Brasil e o mundo árabe foi criticada diversas vezes por Lula, no Brasil e no Oriente Médio. Para o presidente, a falta de rotas é um dos principais obstáculos ao aumento do relacionamento bilateral. Apesar disso, o assunto continua sem definição.
Já houve um vôo direto entre São Paulo e Beirute, operado pela Middle East Airline, mas foi encerrado porque a demanda era muito pequena, lembrou o embaixador. Agora, os governos dos dois países vêm fazendo pressão para que a rota seja reativada, inclusive para o transporte de cargas, mas a empresa reluta. "A Middle East Airline opera poucas rotas, todas bastante lucrativas, e parece não querer iniciar um novo serviço que tem um risco", explicou.
De Vicenzi disse que o governo libanês se ofereceu para subsidiar as operações no início, mas a proposta ainda está sendo avaliada "por todos os lados envolvidos". Para ele, "quando o comércio e o turismo crescerem, haverá demanda".
Balança
Hoje, a corrente comercial entre o Brasil e o Líbano está em pouco mais de US$ 50 milhões. A balança é favorável ao Brasil, que exportou US$ 46,2 milhões ao parceiro no ano passado.
Apesar da proximidade cultural que existe entre os países, o Líbano é 12.º mercado para produtos brasileiros no mundo árabe. Fica atrás da Argélia, Tunísia, Iêmen e Marrocos, além dos tradicionais mercados da Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes, que recebem a maior parte das exportações do Brasil para a região.
O Brasil vende ao Líbano carnes, café, castanha e caju e açúcar, principalmente. Em 2002, esses itens responderam por quase metade da pauta de exportações para o país árabe. As importações se concentram em fosfato, frutas secas e doces (cerca de 95% do total).
O potencial do mercado, porém, é bem maior. Com o fim da guerra civil que durou de 1975 a 1990, o país iniciou um plano de reconstrução para recuperar cidades e reaquecer a economia. A balança comercial é deficitária: no ano passado, as importações ficaram em US$ 6 bilhões e as exportações, em apenas US$ 1 bilhão.
O Líbano compra do exterior, especialmente, alimentos, veículos, produtos têxteis, minérios e combustível. E vende alimentos, fumo, jóias e pedras preciosas. Os maiores parceiros comerciais são França, Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Arábia Saudita, Síria, Emirados Árabes Unidos, China e Rússia.

