São Paulo – O Brasil trabalha para levar sua agricultura e pecuária a novos patamares de inovação e está disposto a compartilhar a experiência com o Sudão, país árabe que quer crescer no setor. O diretor-executivo de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cleber Soares (foto acima), apresentou em evento virtual os eixos de uma agenda que o ministério vem formulando para fazer o segmento avançar. “Estamos prontos a intercambiar com os senhores”, disse ele aos sudaneses após mencionar ações que já estão sendo implementadas.
O webinar “Sudão: Tecnologias e Parcerias de Negócios e Oportunidades de Abertura de Empresas Brasileiras e Sudanesas” tratou das oportunidades de negócios entre o Brasil e o Sudão e foi promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira em parceria com a Câmara de Comércio Afro-Brasileira (AfroChamber). O evento teve palestrantes brasileiros e sudaneses e reuniu cerca de 400 pessoas das duas regiões. Os debates foram mediados pela gerente de Relações Institucionais da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar.
Soares contou que o ganho de eficiência no agronegócio brasileiro dos últimos anos se deu principalmente pela tecnologia. Segundo o diretor do Mapa, o agronegócio mundial tem pela frente, no entanto, o aumento de população. O mundo possui sete bilhões de pessoas e deve chegar a nove bilhões em 2050, o que gerará maior demanda por alimentos. “O mundo agrícola terá que cada vez mais que produzir de forma eficiente, sustentável e resiliente”, disse.
Baseado nesses princípios, o Mapa está formulando uma agenda de inovação com cinco pilares. Um deles é a sustentabilidade, na qual estão inseridos o carbono como moeda, o uso da água e do solo, como lidar com o componente do clima, entre outros. A bioeconomia é outro eixo e inclui biologia avançada, edição gênica, novas formas de fazer agricultura, insumos de base biológica e bioenergia. Outra frente é pela digitalização do campo, com o uso de novos modelos de aprendizagem virtual e maior conectividade.
A agenda inclui o trabalho pela inovação aberta, que é o desenvolvimento de novos sistemas agrícolas e o fomento às agritechs, que são as startups voltadas ao agronegócio, por exemplo. Em 2019, o Brasil tinha 1.125 agritechs e no ano passado, passou a 2.400 empresas desse perfil, segundo números apresentados por Soares. Há também uma frente pelo food tech, voltada a agregar valor e desenvolver novos ingredientes, processos e produtos no agronegócio.
Soares citou conquistas do Brasil nestas áreas, como a fixação biológica de nitrogênio no solo, que na safra de verão 2020/2021 será usada em 42 milhões de hectares no País, e os sistemas integrados de produção, que ocupam 17 milhões de hectares. “Na mesma área você produz, por exemplo, milho, soja, carne ou leite e floresta. Essa é uma revolução em termos de agricultura brasileira e nós estamos aptos a transferir esse conhecimento, esse know-how, para países africanos”, disse o diretor. Na fixação biológica do nitrogênio, o processo é feito por microrganismos.
Para a fome, plantas com mais nutrientes
A pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Marília Regini Nuti, também falou no evento virtual e contou aos sudaneses do trabalho brasileiro pela biofortificação das plantas para combater a insegurança alimentar no mundo.
O processo envolve o aumento das características nutricionais das plantas, só que em vez de nutrientes serem agregados ao produto no processamento, são desenvolvidas cultivares de plantas com maior teor deles. Segundo Nuti, dois bilhões de pessoas no mundo passam por fome oculta, que é a deficiência dos micronutrientes como ferro, zinco e pró-vitamina A.
O Brasil faz esse trabalho inserido em uma aliança mundial chamada HarvestPlus, esforço global para acabar com a fome oculta, e se dedica atualmente ao aumento de micronutrientes na abóbora, arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho, batata-doce e trigo. Segundo Nuti, 13 cultivares já foram registradas no Mapa e estão sendo produzidas no País. Também já são 200 mil pessoas as que consomem produtos biofortificados no Brasil.
No webinar, falaram ainda o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, a embaixadora do Brasil em Cartum, Patrícia Lima, o chefe de negócios da Embaixada do Sudão em Brasília, Mohammed Elrashed Sidahmed, o presidente da AfroChamber, Rui Mucaje, o gerente do Banco Africano de Desenvolvimento, Raubil Durowoju, e o diretor de Transferência de Tecnologia Agrícola do Grupo CTC, Mamoum Dawelbeit. A diretora de Marketing e Conteúdo da instituição, Silvana Gomes, também fez uma intervenção ao final do webinar e apresentou uma novidade na agência de notícias da Câmara Árabe, a ANBA, que passará a publicar artigos.
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