São Paulo – Depois de anos de sanções comerciais, o Sudão vive uma nova fase econômica e precisa de investimentos em várias áreas. Em evento virtual nesta quinta-feira (20), Mamoun Dawelbeit (foto acima), diretor de transferência de tecnologia agrícola do CTC Group, maior empresa agrícola privada sudanesa, apresentou aos brasileiros uma série de áreas ligadas ao agronegócio nas quais o Sudão tem oportunidades para empreendimentos.
Uma das possibilidades citadas foi o estabelecimento de complexos agroindustriais para produção e processamento de produtos agrícolas, como moagem de grãos e produção de alimentos. Segundo ele, também há espaço para produção animal e de forragem e processamento de carnes. Dawelbeit apresentou como promissor fornecer serviços agrícolas como aluguel de máquinas e outras operações voltadas ao campo.
O país precisa de mais serviços de armazenagem agrícola. Outra possibilidade é o investimento em negócios de energia renovável. Dawelbeit apresentou ainda o espaço para fabricação de adubos e pesticidas, além da produção de sementes. Também são necessários mais serviços financeiros, serviços de marketing e serviços de consultoria.
Assim como o Brasil, o Sudão é um país com forte vocação agrícola em função das suas características naturais. Mais de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país – 33% – é atrelado à agricultura, que emprega metade da força interna de trabalho. O país, no entanto, precisa de recursos e cooperação para fazer o setor avançar e vê nessa nova fase econômica uma oportunidade para a sua agricultura decolar.
O Sudão está saindo de fase econômica difícil, que foi descrita por Dawelbeit aos brasileiros. O país viveu duas décadas de sanções dos Estados Unidos, o que deteriorou suas condições econômicas e teve impactos em todas as áreas da sociedade. Uma série de fatos, porém, começaram a mudar isso a partir de 2017, quando as sanções foram levantadas. Ocorreram protestos pelos jovens e o então presidente Omar Al-Bashir, que governou o país por 30 anos, foi deposto em abril de 2019. O país ganhou nova constituição e teve pela primeira vez um primeiro-ministro civil.
No final do ano passado, a remoção do Sudão pelos Estados Unidos de uma lista de países que apoiam o terrorismo inaugurou uma nova fase para o país, já que as demais nações passaram a poder negociar com os sudaneses sem o risco de sanções pelos norte-americanos. Em março deste ano, o país teve dívida de US$ 1,1 bilhão compensada no Banco Mundial e uma conferência em Paris nesta semana reuniu países amigos do Sudão. França, a Arábia Saudita, os Estados Unidos e várias outras nações anunciaram ajudas financeiras para sudaneses, o que deve trazer alívio.
O país vê nesses acontecimentos os caminhos abertos para o desenvolvimento econômico e uma das áreas mais promissoras é a da agricultura. Nesse setor, o Sudão já tem fortes empresas, como o grupo CTC, que existe desde 1956. De acordo com apresentação de Dawelbeit no webinar, a empresa atua em várias frentes na agricultura, com sementes, fertilizantes, herbicidas, pesticidas, fungicidas, produção de mudas, produtos químicos industriais e equipamentos de pulverização, como provedor de soluções tecnológicas, com exportação, levando conhecimento aos produtores rurais, buscando novas tecnologias e know-how para o Sudão, entre outras atividades.
Banco da África
Outra instituição que trabalha pelo desenvolvimento do Sudão e dos países da África é o Banco Africano de Desenvolvimento. O gerente da instituição, Raubil Durowoju, participou do webinar e falou sobre o trabalho do banco para acelerar a transformação econômica da África, focando em alimentar, industrializar, integrar e melhorar a qualidade de vida na África. Segundo ele, no Sudão uma das frentes de atuação do banco é na agricultura.
O webinar “Sudão: Tecnologias e Parcerias de Negócios e Oportunidades de Abertura de Empresas Brasileiras e Sudanesas” foi promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira com a Câmara de Comércio Afro-Brasileira (AfroChamber). Também falaram o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, a embaixadora do Brasil em Cartum, Patrícia Lima, e o chefe de negócios da Embaixada do Sudão em Brasília, Mohammed Elrashed Sidahmed.
Participaram ainda o presidente da AfroChamber, Rui Mucaje, o diretor-executivo de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cleber Soares, a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Marília Regini Nuti, e a diretora de Marketing e Conteúdo da Câmara Árabe, Silvana Gomes. A gerente de Relações Institucionais da entidade, Fernanda Baltazar, moderou a discussão.
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