Simone Mateos, especial para a Anba
São Paulo – As vendas de bois da raça zebu devem colaborar para o crescimento das exportações brasileiras para o Oriente Médio. O Brasil começou a vender, em 2003, animais vivos para abate para a região. Esse mercado mundial está estimado em US$ 700 milhões e concentrado no Sudeste Asiático e Oriente Médio, onde razões religiosas exigem que o abate siga procedimentos especiais.
Atualmente, esses países são atendidos pela Austrália, mas o gado nacional apresenta várias vantagens. Graças a um longo trabalho de seleção genética, o país tem hoje as melhores e mais produtivas raças de boi-zebu do mundo. De quebra, o Brasil fica mais perto que a Austrália dos principais portos do Oriente Médio, o que barateia o transporte e reduz o estresse dos animais na viagem.
Outra vantagem do boi-zebu é que a espécie de bovino que melhor se adapta a climas tropicais. Além disso, como o zebu nacional se alimenta só de pasto, está livre de uma das maiores preocupações dos mercados consumidores de carne: a doença da vaca louca, que provém da ingestão de proteína animal.
O Brasil está avançando nas exportações de tecnologia e genética bovina para os países árabes. Foi essa genética, aliás, que permitiu ao Brasil ter a carne mais competitiva do mundo. A Brazilian Cattle Genetics (BCG), um consórcio criado pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), em dezembro de 2002, para estimular a exportação desses itens, negocia com o Egito um projeto a ser implementado por técnicos brasileiros no país.
O projeto inclui o fornecimento dos embriões das raças campeãs, o treinamento de mão-de-obra para sua implantação em úteros de aluguel, o fornecimento das sementes do pasto mais adequado, as vacinas e, se necessário, o projeto das fábricas de beneficiamento de carne e leite. "A expertise brasileira no melhoramento genético de bovinos já é reconhecida internacionalmente, estamos mostrando agora que ninguém nos bate também no know-how de toda infra-estrutura que o nosso gado exige", diz o zootecnista Gerson Simão, gerente executivo da BCG. Ele lembra que apenas com 18 meses de trabalho, a BCG deve conseguir este ano multiplicar por dez as exportações brasileiras de recursos genéticos e tecnologia pecuária.
Além de exportar partes dessas tecnologias para o Egito, a BCG firmou uma parceria com a Universidade da Alexandria para uma pesquisa que irá cruzar o zebu nelore brasileiro com o zebu baladi egípcio, sempre com o objetivo de aperfeiçoar cada vez mais a raça.
Os avanços brasileiros nessa área falam por si: na década de 40, o campeão brasileiro da raça nelore chegava a 600 quilos em seis anos. Hoje chega a 1.100 quilos em 30 meses. E essa melhora de performance, obtida por seleção genética tradicional, começa a se acelerar rapidamente com o avanço da biotecnologia nacional.
Com as tecnologias reprodutivas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pode-se obter mais prole dos campeões selecionados: se com a monta convencional, uma vaca podia gerar um bezerro ao ano, com a fertilização in vitro, clonagem de embriões e implantação dos mesmos em barrigas de aluguel, uma mesma vaca pode gerar até 120 descendentes num ano.
Além disso, os cientistas brasileiros já identificaram 16 genes zebuínos relacionados a maior produção de leite ou ao incremento mais rápido de peso. Com isso, em breve será possível selecionar os embriões campeões sem ter de esperar que cresçam para ver quais herdaram os bons genes dos pais e quais não.
Outra tecnologia importante já dominada pelo país é a que permite separar os espermatozóides fêmeas e machos, possibilitando que os criadores de gado de corte ou leite produzam apenas bezerros do sexo desejado.