São Paulo – O Brasil precisa diminuir sua dependência de trigo e fertilizantes estrangeiros, produzindo mais internamente e diversificando as importações. Durante o programa Agro 360: Especial Ministros da Agricultura, transmitido pelo canal Terraviva nesta terça-feira (22), os ex-ministros da Agricultura do Brasil, Roberto Rodrigues, Francisco Turra, Blairo Maggi e Neri Geller, e o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi, falaram sobre o cenário do agronegócio brasileiro diante da guerra na Ucrânia, possíveis impactos e perspectivas para este ano. O ex-ministro Alysson Paolinelli participou com vídeos gravados.
Como consequência do possível desabastecimento de trigo, o Brasil precisa produzir mais. Esta é a avaliação de Francisco Turra, sobre os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia no agronegócio brasileiro. Além de ex-ministro, Turra é presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Segundo ele, Rússia e Ucrânia fornecem ao mundo cerca de 40% do trigo exportado, cerca de 40 milhões de toneladas. Do trigo consumido no Brasil, Turra informou que 70% vai para a produção de frango. “Temos que incrementar a cultura de trigo. Nós aumentamos em 61% a colheita no Rio Grande do Sul e vamos continuar, porque é uma oportunidade e uma necessidade que o Brasil saia dessa dependência. Hoje, a região tropical produz trigo, precisamos de uma campanha para aumentar a produção de trigo e cevada, e quem sabe até começarmos a exportar”, disse.
O ex-ministro Blairo Maggi e atual presidente do conselho da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disse que o principal impacto da guerra no agronegócio brasileiro são as incertezas, principalmente sobre o fornecimento de fertilizantes e o aumento nos preços do produto. “Os produtores ficam em uma decisão muito complicada porque precisam tomar decisões, então eu diria que a incerteza que a guerra traz é muito grande para os negócios e está deixando todo mundo bastante preocupado”, disse.
Segundo ele, o Brasil tem dificuldades nas importações e precisa diversificar a compra de fertilizantes. “Se o Brasil não produz potássio, é porque é mais barato comprar de fora”, avaliou. Para o ex-ministro e atual deputado federal (PP-MT) Neri Geller, o Irã pode suprir a demanda de fertilizantes que a Rússia pode deixar de entregar. Turra lembrou que a Jordânia também tem potássio para vender ao Brasil.
O professor e ex-ministro Roberto Rodrigues disse que o governo mostrou os caminhos para a redução da dependência de fertilizantes com o Plano Nacional de Fertilizantes. “Dependemos 83% dos fertilizantes de fora e 95% do potássio. É possível que reduzamos pela metade essa dependência nos próximos 20 anos”, afirmou.
Turra disse que não é possível se submeter aos preços “exorbitantes” dos fertilizantes diante do cenário de conflito. “Precisamos de 43 milhões de toneladas de fertilizantes. A JBS inaugurou semana passada uma fábrica de biofertilizantes no interior paulista. A produção ainda é pequena, mas é um início, e outras empresas estão se organizando para explorar essa possibilidade de investir em fertilizantes e biofertilizantes. É preciso buscar alternativas e produtos similares de outros lugares”, disse.
Osmar Chohfi falou sobre o estudo que a Câmara Árabe apresentou para a atual ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, sobre os fertilizantes que os países árabes podem vender ao Brasil. “Os fertilizantes são um item importantíssimo na pauta comercial entre o Brasil e o mundo árabe. Em 2020, 18% dos fertilizantes dos países árabes vieram ao Brasil. Nesse estudo, identificamos algumas possibilidades e juntamente com os embaixadores árabes estamos identificando potenciais de aumento de exportação na área dos nitrogenados, fosfatos e no potássio. É claro que a capacidade de aumento das exportações de potássio dos árabes ao Brasil não pode substituir as exportações Rússia, mas no contexto geral, é possível aumentar a exportação de fertilizantes do mundo árabe ao Brasil”, disse. O embaixador ressaltou que é importante que o governo assine mais acordos de livre comércio com os países árabes para facilitar as importações e exportações do agronegócio.
A apresentação do programa, que teve apoio da Câmara Árabe, foi feita pela jornalista Renata Maron.
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