São Paulo – O Brasil tem grande potencial para atender o mercado voltado aos muçulmanos para além da carne bovina e de frango, oferecendo produtos de valor agregado dos setores de cosméticos, fármacos, alimentos, moda e até no turismo halal. Este foi o tema do sétimo webinar promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira na manhã desta quarta-feira (10), que teve cerca de mil participantes. A conferência virtual contou com público e palestrantes do Brasil e do exterior.
O cofundador e sócio-gerente do Prime Group, Mohamed Badri (foto acima), afirmou que “a pandemia da covid-19 é só uma lombada em uma grande estrada”. “Ela nos desacelerou, mas vamos retomar, e não estamos falando só de comida, mas de um estilo de vida, de produtos, sistemas e serviços. Vamos crescer mais rápido e mais fortes, e seremos a maior indústria do mundo, definitivamente”, afirmou, sobre o mercado halal, que atende um terço da população mundial. Para ele, o halal é o futuro. “O Brasil sabe que temos que garantir a qualidade, a durabilidade e a sustentabilidade desses e de novos produtos”, declarou no evento virtual. O Prime Group é uma consultoria de halal sediada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A abertura feita pelo presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, trouxe dados sobre o mercado halal em países árabes e não árabes. “O mercado halal global pode atingir US$ 3,2 trilhões em 2024, e um produto halal pode ser consumido por mais de dois bilhões de pessoas no mundo hoje”, informou. A estimativa é que o halal cresça em diversos setores da indústria, entre moda, mídia e entretenimento, turismo, alimentos e bebidas, fármacos, cosméticos e finanças islâmicas. Ele acredita que com a covid 19, o halal vai passar a ter uma influência ainda maior no mundo.
“No Brasil, temos oportunidades interessantes, como alimentos gourmet de valor agregado, produtos orgânicos, fornecimento para marcas internacionais, ingredientes, ração animal, e-commerce, entre outros”, disse Hannun.
Badri afirmou que há um esforço para que os processos de certificação sejam unificados em pelo menos 95% entre os países islâmicos nos próximos anos. Para ele, é importante que toda a cadeia de suprimentos tenha a certificação halal, para que o produto tenha a melhor qualidade, respeite o meio ambiente, e que haja rastreabilidade dessa cadeia.
O gerente do Halal Trade and Marketing Centre (HTMC), Tomas Guerrero, afirma que por trás da ascensão e da força do mercado halal há uma população crescente e uma classe média emergente nos países de maioria islâmica. O HTMC é projeto global de desenvolvimento de negócios focados na economia halal.
“Apesar dos efeitos globais da covid-19 na economia mundial, o mercado halal permanece resiliente, assim como na crise financeira de 2008. E continua oferecendo grandes oportunidades de negócios em todo o mundo, especialmente na Europa e América Latina”, disse Guerrero.
Ele afirma que as empresas estão mudando sua percepção sobre o mercado halal e estão começando a perceber esse nicho como um negócio estratégico. “O mercado halal vem fazendo com que as empresas melhorem seus processos internacionais e diversifiquem suas exportações para além dos mercados tradicionais”, disse.
Guerrero afirmou também que o Brasil é um caso de sucesso no mercado halal, já que não sendo um país de maioria muçulmana, é o maior produtor de proteína halal do mundo, e que mesmo assim, ainda há muitas oportunidades.
“O Brasil tem o potencial de oferecer outros tipos de produtos halal além dos alimentos, aproveitando sua rede de relacionamento e logística. É preciso pensar nisso e planejar para fazer isso acontecer”, declarou.
Turismo halal
O secretário da Sociedade Jordaniana de Agricultura Orgânica (JSOF), Ibrahim Abu-Helil, falou sobre as oportunidades do turismo halal no Brasil. “O turismo islâmico ou halal é um grande segmento e há uma necessidade de se adaptar a ele. Por exemplo, sou vegetariano e quando viajo, é importante que o lugar para onde eu vou me ofereça opções vegetarianas. Com o turismo halal é a mesma coisa, a comida, os serviços, o entretenimento precisam passar pelos ensinamentos e princípios islâmicos”, disse Abu-Helil.
Além de não ter carne de porco ou álcool na preparação de alimentos e bebidas, é necessário adaptar hotéis, restaurantes e resorts para famílias muçulmanas, com cozinhas separadas e sala de reza apontada para Meca, por exemplo, conforme informou Rubens Hannun.
O mercado do turismo halal é enorme. Em 2017 foi uma indústria de US$ 117 bilhões, em 2019, de US$ 233 bilhões, e a estimativa para 2023 é de US$ 274 bilhões, informou Abu-Helil. “Esse é o turismo halal. É enorme, há desafios, mas onde há desafios há oportunidades.
Sobre a pandemia do coronavírus, o secretário afirmou que o turismo é resiliente e já sobreviveu a muitas crises. “Vamos nos recuperar, e temos de utilizar ferramentas como a digitalização para promover o turismo islâmico, e observar as tendências do mercado. Uma delas são as mulheres millennials do mundo islâmico, que são independentes, educadas e têm dinheiro para gastar, e estão começando a viajar mais, temos que levar isso em consideração”, disse. “Os muçulmanos podem viajar por prazer e pela fé, e é necessária uma adaptação para esse potencial crescimento”, completou.
Na avaliação do secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, o webinar ofereceu um excelente diálogo em torno de uma palavra: halal. “Uma palavra que representa um terço da população mundial, que representa o tamanho da economia que gira em torno de seus produtos e serviços”, disse.
Participaram também do webinar também o vice-presidente administrativo da Câmara Árabe, Mohamad Orra Mourad, além de Ali Saifi, presidente da CDIAL Halal; Mohamed Zohgbi, presidente da Fambras Halal; Nasser Khazraji, diretor comercial da Alimentos Halal; e Chaiboun Darwiche, presidente da Siil Halal; e a a diretora-geral da Dubai Airport Free Zone (Dafza), Amna Lootah. A Dafza assinou um memorando de entendimento com a Câmara Árabe.
Veja o vídeo do webinar completo e outras matérias sobre a conferência virtual abaixo.
Câmara Árabe assina memorando com zona franca de Dubai
Mesmo em mercados não islâmicos, selo halal é diferencial