Isaura Daniel
São Paulo – O Brasil terá mais um estado exportador de carne bovina. Até o final da semana, a Organização Internacional de Epizootias (OIE) deverá dar ao Acre, que fica no Norte do país, o status sanitário de zona livre de aftosa com vacinação.
Isso vai abrir as portas do mercado internacional para os pecuaristas e frigoríficos locais. Hoje, 14 estados brasileiros e o Distrito Federal já gozam do reconhecimento internacional.
Representantes dos países integrantes da OIE estão reunidos desde domingo em Paris, na França, em assembléia, e votarão até sexta-feira a resolução que muda o status sanitário do estado brasileiro.
Uma comissão especializada do organismo, na verdade, já deu o seu parecer positivo em janeiro. As nações integrantes da OIE tiveram 60 dias para se manifestar contra e não o fizeram. O que falta agora, então, é apenas a aprovação formal.
De acordo com o responsável provisório pelo Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Guilherme Marques, o Acre já podia vender para outros países carnes enlatadas, maturadas e desossada. Agora, o estado poderá também comercializar animais vivos e carne in natura com osso.
Mesmo os produtos autorizados, porém, não chegavam a ser exportados pelo estado, já que a maioria dos países não compra de regiões de risco sanitário. Até agora para a OIE, o Acre era um estado de risco sanitário, mas de nível baixo.
Dentro do Brasil, os produtos do Acre já podiam ser comercializados já que o estado é considerado zona livre de aftosa com vacinação pelo Ministério da Agricultura desde janeiro do ano passado.
As únicas regiões que compram, porém, carnes com osso do estado são as que gozam do mesmo status sanitário ou têm status inferior, caso de alguns estados do Nordeste e do Amazonas.
Para exportar
O Acre tem atualmente 1,98 milhão de cabeças de gado, de acordo com dados do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) do estado. O estado abateu, no ano passado, 214 mil bovinos.
Neste ano, de acordo com o médico veterinário e gerente regional do Idaf, Kennedy Lins Nunes da Silva, deverão ser abatidos 300 mil animais. Ela acredita que há potencial para exportar 50% deste total. "Nossa intenção é buscar mercado na Europa e na Ásia", diz Silva. A Rússia, de acordo com ele, já manifestou interesse em comprar carne do estado.
Uma das vantagens que a carne acreana terá no mercado internacional, de acordo com Silva, é o fato de o rebanho ser criado no campo, sem confinamento, e se alimentar de capim. É o chamado boi verde. "A carne do boi verde é mais valorizada lá fora", diz o médico veterinário.
O governo do Acre, Jorge Viana, e o presidente do Idaf, Paulo Roberto Viana de Araújo, estão acompanhando a reunião da OIE juntamente com representantes do Ministério da Agricultura. Silva acredita que eles também voltarão com bons contatos para exportações.
Investimentos
O gerente regional do Idaf acredita que deverão surgir novos investimentos na pecuária local a partir da mudança de status. Fazendeiros de outros estados, onde as terras são mais caras, ou de regiões consideradas de risco sanitário, poderão se interessar pela pecuária local.
Hoje, mais de 50% da arrecadação estadual do Acre vem da pecuária, de acordo com dados do Idaf. Além da carne, o estado produz e comercializa couro bovino.
O status
Segundo Marques, do Ministério da Agricultura, para se tornar zona livre de aftosa com vacinação, o estado precisa estar dois anos sem registrar a doença. Também é levado em conta o nível do serviço de defesa sanitária do estado.
Na última campanha sanitária que ocorreu no Acre, durante o mês de novembro de 2004, foi vacinado 94,6% do rebanho. Os demais animais receberam a vacina após esse período, durante a fiscalização estadual.