Giuliana Napolitano
São Paulo – Dos quase US$ 2,8 bilhões que o Brasil exportou para o mercado árabe no ano passado, apenas 1,5% veio da indústria de eletroeletrônicos. O país embarcou para a região principalmente produtos de utilidade doméstica, como geladeiras e fogões. Agora, porém, a intenção do setor é ampliar os negócios e passar a vender também equipamentos de energia elétrica ao Oriente Médio e Norte da África.
"Os negócios com os países árabes ainda são muito pequenos, mas podemos mudar essa situação. Já neste ano devemos ter exportações no segmento de energia elétrica", disse à ANBA o diretor de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. "É nossa intenção fazer um trabalho sério na região", acrescentou.
Para Barbato, os empresários nacionais podem vender equipamentos para transmissão e distribuição de energia aos países árabes. "É um pouco mais complicado na parte de geração, porque temos mais experiência em hidrelétricas. Mas em transmissão e distribuição temos muitas chances", avalia.
Barbato fala por experiência própria. Sua empresa, a Cerâmica Santa Terezinha, segunda maior fabricante de isoladores elétricos do país, deve exportar para a Arábia Saudita ainda em 2004. O contato foi feito durante a Feira Industrial de Hannover, que acontece anualmente na Alemanha – a próxima edição ocorre de 19 a 24 de abril.
"Nessa feira, que é um ótimo local para se encontrar empresários europeus e também árabes, fizemos contato com um representante saudita, para vender nosso produto no país. Agora, esse representante está fazendo o processo de classificação junto ao governo", informou. A expectativa do executivo é exportar até US$ 500 mil para a região até dezembro. "Estamos tendo uma boa acolhida". Ao todo, a empresa vende ao exterior cerca de US$ 5 milhões por ano.
O interesse pelos países árabes surgiu nos últimos anos e ganhou força em 2003, quando o governo começou a organizar missões para o Oriente Médio e Norte da África – a principal delas foi a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro. "A visita de Lula abriu portas. O Brasil começa a ser mais visto na região, e isso nos permite competir com outros fornecedores", disse Barbato.
Outro fator que pode ajudar os negócios na região, especialmente na área de energia, é o acordo fechado entre o Brasil e o Líbano. Durante sua visita ao país, em fevereiro, o presidente libanês, Émile Lahoud, assinou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva um convênio de cooperação nos segmentos de geração, transmissão, distribuição, preservação ambiental, solução de problemas e manutenção de equipamentos de energia elétrica. Barbato disse não conhecer todos os termos do acordo ainda, mas acredita que esse é mais um passo para a aproximação.
Iraque e Líbano
O empresário lembra que companhias brasileiras quiseram participar do processo de reconstrução do Líbano, após o término da guerra civil, no início dos anos 1990. "Mas não estávamos preparados", declarou.
Agora, o setor não quer deixar escapar a chance de fazer negócios no Iraque. A estratégia é vender para empresas norte-americanas que irão participar diretamente da reconstrução do país, explica Barbato. "Podemos fazer parcerias com companhias que atuarão no Iraque", afirmou.
No ano passado, a indústria elétrica e eletrônica exportou US$ 39,1 milhões ao mercado árabe. Os principais produtos vendidos foram os da linha de utilidades domésticas: refrigeradores (US$ 5,3 milhões), fogões (US$ 2,2 milhões) e liquidificadores (US$ 2 milhões). Juntos, esses itens representaram 24% do total comercializado.
Em segundo lugar, vieram os foram motocompressores herméticos, ou seja, motores para geladeiras, com 19% de participação, ou US$ 7,3 milhões, seguidos por produtos de eletrônica embarcada em automóveis (US$ 4,3 milhões).
Carro-chefe das exportações totais do setor no Brasil, os celulares produzidos no país não são vendidos para o mundo árabe. Isso porque as multinacionais instaladas no país atendem principalmente ao mercado americano, explicou o gerente de relações internacionais da Abinee, Mário Roberto Branco.
Em 2003, as empresas eletroeletrônicas do Brasil exportaram cerca de US$ 4,7 bilhões. Os celulares representaram mais de 20% da cifra, com US$ 1,1 bilhão, seguidos de longe pelos motocompressores herméticos (US$ 462 milhões) e pelos equipamentos de eletrônica embarcada (US$ 294 milhões).
Alta de 78%
Os negócios com o Oriente Médio e Norte da África representaram menos de 1% desses US$ 4,7 bilhões. Mas as vendas para os países árabes cresceram mais do que a média. Frente a 2002, o aumento foi de 78%, enquanto as exportações de toda a indústria subiram apenas 7%.
As importações brasileiras dos países árabes também cresceram em 2003, mas num ritmo menor: a alta foi de 29%, para US$ 32,3 milhões. Os itens que o Brasil mais compra da região são semicondutores, que representam quase 90% do total. É também o produto mais importado pela indústria como um todo. No ano passado, o setor comprou do exterior o equivalente a US$ 9,9 bilhões, dos quais US$ 1,5 bilhão foram gastos com semicondutores – entre eles, os processadores usados em computadores.
Os maiores negócios do Brasil nesse segmento – tanto para exportação, como para importação -, estão concentrados nos Estados Unidos e na América Latina. Em 2003, o Brasil vendeu US$ 2,1 bilhões a empresas norte-americanas e comprou US$ 2,6 bilhões. Na América Latina, as exportações ficaram em US$ 1,3 bilhão e as importações, em US$ 316 milhões.
Contato
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
www.abinee.org.br