São Paulo – Pesquisadores brasileiros do Museu Nacional do Rio de Janeiro fizeram parte da equipe que apontou uma nova espécie de réptil voador no Líbano. O animal é um pterossauro, que é o primeiro grupo de vertebrados a desenvolverem o voo ativo. A descoberta foi anunciada no dia 29 de novembro pela instituição carioca.
Os estudiosos que assinaram o artigo foram Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional (foto acima), Juliana Sayão, paleontóloga e pesquisadora colaboradora do Museu Nacional e Borja Holgado, aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Museu Nacional, além de pesquisadores da University of Alberta, do Canadá.
A atuação brasileira em estudos do Líbano precede essa descoberta. A pesquisadora Juliana Sayão explica que existe uma colaboração antiga entre paleontólogos do Museu Nacional e libaneses. “Há quase 10 anos, o professor Alexander Kellner esteve no Líbano com o paleontólogo italiano Fábio De Lavechia, e do técnico do Museu Nacional, Orlando Grilo, onde realizaram trabalho de campo. Nessa época, se iniciou uma colaboração para o estudo de fósseis”, relatou ela à ANBA.
O fóssil já havia sido encontrado anos antes e foi adquirido pelo Museu de Mineralogia de Beirute, capital do Líbano, que convidou os pesquisadores internacionais para trabalhar o material. A nova espécie recebeu o nome de Mimodactylus libanensis. O primeiro nome por causa da instituição onde está atualmente, o segundo ‘dactylus’, vem do grego dígito, e ‘libanensis’, em referência ao país árabe onde foi encontrado.
O papel de Sayão foi a análise filogenética do material. “Eu nunca estive no Líbano. Gostaria muito de um dia poder conhecer esse país. Tive acesso ao espécime através de réplicas e fotografias. Apesar de já ter estudado pterossauros e outros fósseis de praticamente todos os lugares do mundo, desde a Antártica, Europa, Estados Unidos e até fósseis da China, eu nunca tinha tido contato com nenhum material paleontológico originário de país árabe. Essa é a primeira contribuição concreta que tenho no ramo da pesquisa com países árabes”, revela a estudiosa.
O novo pterossauro
O fóssil foi encontrado entre rochas formadas há aproximadamente 95 milhões de anos, quando o Líbano fazia parte de um imenso continente reunindo também a Península Arábica e a África. “A descoberta expande o espectro de possíveis estratégias alimentares em pterodactilóides, grupo de fascinantes répteis voadores sobre os quais ainda sabemos muito pouco”, ressaltou Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional e primeiro autor do artigo em nota.
A nova espécie tinha cerca de 1,32 metro de uma ponta a outra das asas. Os autores defendem a proposta que esse animal se alimentava de crustáceos, algo bastante raro entre os pterossauros. Mimodactylus pertence a um novo grupo denominado Mimodactylidae, que reúne além de Mimodactylus o chinês Haopterus gracilis.
“É extremamente rico quando temos oportunidade de colaborar com pesquisadores de outros países e de outras culturas. E, especificamente, sendo a única mulher parte desse grupo, é extremamente importante para podermos valorizar as mulheres pesquisadoras”, concluiu Sayão.