Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br
São Paulo – Empresas brasileiras fecharam vendas na rodada de negócios que ocorreu ontem (25) com empresários árabes na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. A trading paulista Business Assessoria Empresarial teve um pedido de sucos da marca gaúcha Mitto e a indústria catarinense Hilê fechou a exportação de um contêiner de chás. As duas fizeram negócios com o importador do Bahrein, Isa Al-Daaysi, da empresa Al-Daaysi. Os produtos serão testados no mercado do país árabe e arredores. Al-Daaysi já compra ao redor de US$ 5 milhões em alimentos brasileiros por ano e acredita que esse valor pode ser elevado para US$ 10 milhões após a visita ao Brasil.
O empresário está no país participando de uma missão organizada pela Câmara Árabe. No total, seis empresários, dois da Jordânia e os demais do Egito, Síria, Argélia, além do Bahrein, participam da delegação. "O Brasil é um dos países mais ricos do mundo, tem alimentos, minerais", disse Al-Daaysi à ANBA. De acordo com ele, os brasileiros e árabes poderiam fazer muito mais negócios se tivessem um maior contato. A Al-Daaysi importa US$ 20 milhões por ano em alimentos. A empresa também trabalha com outros setores como os de produtos eletrônicos, material de construção, educacional, supermercados e postos de gasolina.
A venda para o Bahrein será a primeira da Hilê para um país árabe. A empresa foi criada por Sandro Botta em 1998 e produz cerca de 40 mil caixas de chá por dia. Ela já exporta há três anos e está atualmente em mercados como Estados Unidos, Portugal e Austrália. De acordo com Botta, a indústria produz mais de 70 tipos de chás. Alguns são orgânicos. Há desde chás tradicionais de ervas como camomila e cidreira até chás de frutas e próprios para lactação, cólicas femininas e diabetes. A Hilê tem sede na cidade de Xanxerê e produz sob a marca CháMais. A família de Botta, o avô e o pai, já trabalhava com o segmento.
A Mitto, cujos sucos também serão exportados para o Bahrein, está começando a vender para os países europeus. Essa será a sua estréia no mercado árabe. De acordo com os proprietários da trading Business, Sônia Pereira e Marco Antonio Bagnato, que estiveram na rodada de negócios na Câmara Árabe, o suco da Mitto é um produto requintado, consumido principalmente em hotéis e restaurantes. O produto não leva álcool ou açúcar. A qualidade da uva é o que garante um suco adocicado. A própria safra da Mitto abastece a produção do suco de uva, segundo Sônia e Bagnato.
A rodada de negócios rendeu vários contatos promissores para árabes e brasileiros. A analista de exportação da Del Valle, Alessandra Guidi, esteve no encontro apresentando os sucos da empresa. De acordo com Alessandra, um importador da Jordânia ficou interessado nos produtos, mas vai ser necessário discutir preço. A empresa já exporta para a Líbia e o Irã no Norte da África e Oriente Médio. A Doce Café, que produz chocolates finos feitos com café, também levou seus produtos para mostrar aos árabes. A proprietária da empresa, Marisa Diniz, foi consultada sobre a possibilidade de transferir a tecnologia – ensinar a fazer o chocolate – para indústrias egípcias.
Os árabes
Entre os importadores árabes, havia interesse por vários tipos de produtos. O gerente-geral da Ibrahim Odeh & Partners Co. e Odeh International Est., Ibrahim Mousa Odeh, por exemplo, faz promoção de produtos estrangeiros no seu país, a Jordânia. Odeh já trabalha com produtos brasileiros, como carne de frango, arroz, sardinha e atum, concentrado de frutas, além de itens de outras áreas, como bateria para carros. Essa é a primeira visita do empresário ao Brasil. Odeh veio para travar um contato mais próximo com os seus fornecedores e também para encontrar novas indústrias.
O empresário sírio Imad Olabi, que atua com importação de alimentos, além de outros setores, veio ao Brasil para importar café verde. Olabi compra o produto para ser processado por fábricas da Arábia Saudita e da Síria. As indústrias sírias já industrializam o café brasileiro. Olabi tem 10 fornecedores do Brasil, mas quer novos contatos. Ele também importa café de outros países produtores como Índia, Colômbia, Vietnã e Guatemala.
O egípcio David Edwards, que também participou das rodadas de negócios na Câmara Árabe, tem interesse em importar diretamente do Brasil matérias-primas para a indústria de derivados de leite, soja e milho. Edwards atende grandes empresas produtoras de alimentos no país árabe e já importa itens brasileiros, mas por meio de distribuidores de outros países. O importador compra, no total, cerca de nove mil toneladas de leite por ano e duas mil toneladas de soja.
A Câmara Árabe
A delegação de árabes foi recebida pelo presidente da Câmara Árabe, Antonio Sarkis Jr, e pelo secretário-geral da entidade, Michel Alaby. Os empresários tiveram um encontro com os dois líderes da entidade antes de começar as rodadas de negócios. Os árabes manifestaram o desejo de fazer negócios diretamente com as indústrias do Brasil. Sarkis colocou a Câmara Árabe à disposição para auxiliá-los. "A Câmara Árabe é a casa de todo árabe em São Paulo", disse o presidente da entidade.
Ele falou também sobre o comércio das duas regiões. "No ano passado tivemos uma corrente comercial de US$ 12 bilhões com os países árabes. Pelo potencial que existe, este número pode crescer muito", afirmou Sarkis. O presidente da Câmara Árabe lembrou da vocação natural do Brasil para o agronegócio e também deu exemplos da produção brasileira em outros setores, como aeronáutico e automobilístico. "Queremos mostrar a vocês que o Brasil tem produtos industrializados de altíssima tecnologia", afirmou Sarkis.
O presidente da Câmara Árabe também contou aos importadores sobre a importância que a comunidade de árabes e descendentes tem no Brasil. "Os árabes contam com prestígio junto ao governo brasileiro e aos empresários", disse Sarkis. Ele lembrou, por exemplo, das ações sociais da coletividade árabe no país, caso da construção do Hospital Sírio-Libanês. "É um hospital beneficente criado pela coletividade árabe em São Paulo. Do padrão dos melhores hospitais norte-americanos", disse Sarkis.
Ontem à noite o grupo também foi recebido pela diretoria da Câmara Árabe para um jantar. Hoje, a missão árabe visita a Perdigão, indústria de carnes, e participa da Feira Internacional de Produtos e Serviços para Alimentação Fora do Lar (Fispal Food Service), no Expo Center Norte, na capital paulista. A delegação vai ter atividades no Brasil até a quarta-feira (27).