São Paulo – A indústria brasileira de calçados tem procurado novos mercados internacionais a partir do tarifaço que dificulta a entrada do produto nacional nos Estados Unidos, seu principal comprador, mas mostra-se esperançosa com a possibilidade de reversão da taxa. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apresentou nesta terça-feira (11), a jornalistas, na feira BFSHOW, em São Paulo, a projeção da exportação para 2026, que pode ir de uma queda de 13% a um aumento de 4,4%.
O percentual vai depender da suspensão ou não da tarifa para o calçado brasileiro nos Estados Unidos. Em agosto deste ano, o setor passou a pagar 40% a mais de taxa para exportar seus produtos aos estadunidenses, sendo que já bancava tarifa de 10%. Ficou com uma carga total de 50%.

“Porém, se a tarifa adicional for suspensa até a virada do ano, e essa é uma data que nós sempre estamos trabalhando junto com o governo federal, que é necessário que seja revertida essa posição neste mês de novembro ou até o mês de dezembro, nós podemos reverter essa queda de exportação”, afirmou o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, para os jornalistas.
O setor trabalha com esse prazo porque em janeiro coloca em produção a nova coleção de calçados de private label, aqueles em que o produto leva a marca do comprador e que é a maior demanda que as empresas nacionais têm nos Estados Unidos. Até o momento, a indústria deu descontos para os clientes do país, em uma tentativa de manter o mercado até que o cenário das tarifas fosse revertido, mas a manutenção disso no longo prazo é difícil, de acordo com a percepção das lideranças do segmento.
Esses descontos se refletiram no desempenho da exportação neste ano. Nos primeiros dez meses do ano, foram embarcados 87,3 milhões de pares de calçados pelo Brasil, o que gerou US$ 819 milhões, com queda de 1% no valor, apesar do crescimento de 7,5% no volume. “As empresas, para não perderem os seus clientes ou para não terem cancelamento de pedidos, estão concedendo descontos, o que se reflete em um preço médio mais baixo e em perda de rentabilidade”, explicou Ferreira.
Dessa forma, apesar do tarifaço, os Estados Unidos seguem sendo o principal mercado do calçado brasileiro no exterior em valores. De janeiro a outubro, os estadunidenses compraram 8,9 milhões de calçados do Brasil, com alta de 7,4% sobre o mesmo período. Mas houve um crescimento menor, de 4,3%, no faturamento desses embarques, que ficou em US$ 187,6 milhões, em função dos descontos.
Se a tarifa adicional não for suspensa, a indústria nacional deve direcionar 91% da sua produção para o consumo interno em 2026, ficando apenas 9% para a exportação. O País normalmente envia 15% dos seus calçados ao mercado internacional. Mas os calçadistas já estão se mexendo rumo a novos compradores, tanto que na exportação deste ano já se vê aumento das vendas para a América do Sul. Em geral, o ano deve ser encerrado com alta de exportação entre 0,2% e 3,1% em quantidade de calçados.

“Aqui na BFSHOW está acontecendo muita visita de importadores e isso é um fato bastante positivo”, disse Ferreira, sobre a perspectiva de conquistar novos mercados. “Os negócios estão acontecendo e nós acreditamos que essa perda que aconteceu no mercado norte-americano, nós conseguimos levar para outros destinos que estão nos visitando e estão comprando nossos produtos”, disse ele.
Ampliar as vendas para os países árabes, entre outros mercados não tradicionais, é uma das possibilidades para o setor. Ferreira relata que houve reunião recente, com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), com embaixadas do Oriente Médio. “É um mercado bastante nichado, tanto é que temos fabricantes nacionais que têm ótimos negócios com o mercado árabe, mas é um mercado que deve ser explorado mais”, disse o presidente-executivo da Abicalçados.

A Calçados Pegada é uma das empresas brasileiras que vende para países árabes como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Kuwait e Jordânia, entre outros. De acordo com o presidente da empresa, Astor Ranft, os norte-americanos normalmente pedem calçados para private label e, como a empresa comercializa sua marca própria, tendo apenas uma pequena venda para os Estados Unidos, não foi atingida pelo tarifaço. A Calçados Pegada espera crescer no mercado árabe, de acordo com Ranft.
A Abicalçados leva adiante, com a ApexBrasil, programa de fomento à exportação brasileira de calçados, o Brazilian Footwear, e a gestora do programa na ApexBrasil, Clara dos Santos, falou aos jornalistas que os Emirados Árabes Unidos é um dos mercados-alvo da próxima fase do programa, assim como a Arábia Saudita. O convênio entre ApexBrasil e Abicalçados para a execução do Brazilian Footwear é renovado a cada dois anos e o seu próximo ciclo começa no início de 2026. As ações ainda serão definidas, segundo Clara.
Leia também:
Árabes fecham negócio em feira calçadista


