Sharm El Sheikh – A Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) assinaram termo de compromisso na manhã desta terça-feira (15), em Sharm El Sheikh, no Egito, em evento paralelo à programação da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a COP27, realizado no hotel Renaissance.
O termo tem por objetivo trabalhar em uma agenda institucional voltada à COP28, que ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2023, e desenvolver a cooperação. O documento estabelece ainda uma estrutura prática conjunta para a criação de agenda positiva estratégica entre o Brasil e os países árabes, direcionada a uma economia de baixo carbono para a indústria.
Assinaram o termo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade (na foto acima, à direita), e o presidente da Câmara Árabe, o embaixador Osmar Chohfi (na foto acima, à esquerda). Da abertura do evento, além de Andrade e Chohfi, participaram o presidente do Senado brasileiro, Rodrigo Pacheco, e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) do Brasil, Benjamin Zymler.
No início do evento Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono, Robson Braga de Andrade defendeu a implementação de uma estratégia nacional baseada em quatro pilares: a transição energética, o mercado de carbono, a economia circular e a conservação florestal. A CNI elaborou, dentro desses pilares, um conjunto de recomendações a serem desenvolvidas em parceria entre o governo e a indústria, visando acelerar a consolidação da economia de baixo carbono no País. “A expectativa da indústria é que as sugestões sejam consideradas nos projetos do governo eleito, ajudando o País a superar as adversidades e a avançar nos próximos quatro anos”, declarou.
Braga de Andrade disse que o mundo precisa enfrentar com urgência dois importantes desafios: a transformação dos modelos de produção e dos hábitos de consumo para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa e conter o aquecimento global, e a adoção de medidas voltadas à adaptação e ao aumento da resiliência dos países aos devastadores impactos de tempestades, enchentes, secas e outros eventos extremos causados pelas mudanças climáticas.
“Dar respostas adequadas e eficazes a essas questões é importante nesse momento e exige ações efetivas e urgentes para garantir a segurança alimentar e para afastar o risco de desabastecimento. O Brasil reúne as condições necessárias para ser um dos líderes do esforço global que busca superação dessas adversidades e a transição para economia de baixo carbono”, declarou o presidente da CNI, que afirmou que a confederação tem incentivado as iniciativas empresariais e atuado perante o governo para que o País adote um plano consistente de descarbonização da economia.
Governo brasileiro
O ministro do TCU afirmou que a descarbonização da indústria exige atenção tanto do setor público quanto do privado, e destacou a transição energética como forma de reduzir emissões, com a substituição de fontes poluentes por renováveis e gestão eficiente da demanda de energia. Ele disse que são necessários investimentos em ciência e tecnologia, em infraestrutura, em eficiência energética e digitalização para reduzir emissões, além de investimentos no âmbito social, para reduzir desigualdades e ter justiça social para as camadas mais vulneráveis da população, que são as mais impactadas pela mudança climática. “O objetivo fundamental, além da descarbonização, é termos uma sociedade mais inclusiva e mais justa”, disse Benjamin Zymler.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que é preciso haver um plano de ações sustentável para que possa se ter de fato o combate ao desmatamento ilegal e uma recuperação da imagem do Brasil. “Há hoje uma crise de imagem [no Brasil] pautada no desmatamento”, disse o senador, que falou ainda que o garimpo ilegal em terras indígenas será combatido. “Nenhum país irá investir no Brasil se não houver essa preocupação com o meio ambiente”, completou, dizendo que o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia só não foi ratificado até hoje por questões de desmatamento. Ele concluiu dizendo que é compromisso absoluto do Senado o desenvolvimento econômico e a geração de empregos alinhados à preservação do meio ambiente.
“Só queremos que a lei seja cumprida e que as pessoas estejam conscientes que é melhor preservar do que devastar”, disse Pacheco à imprensa ao final do evento. “Buscamos no Brasil uma recuperação de imagem, então a expectativa com a presença do presidente eleito na COP27 é positiva, de relações internacionais que sejam sadias e propositivas, da retomada do protagonismo do Brasil, e temos um dever de casa para o presidente eleito que é estabelecer o planejamento e ações efetivas de uma tolerância mínima ou zero ao desmatamento ilegal”, disse Pacheco, propondo alinhamento entre os poderes legislativo e executivo.
Para ele, recuperar as relações internacionais é prioridade. “Organizações e empresas internacionais vão querer investir no Brasil a partir do momento que o País consiga conciliar equilíbrio fiscal com consciência ambiental, e aí teremos um grande desenvolvimento no País”, disse Pacheco.
Brasil e Árabes
Osmar Chohfi afirmou que há grande possibilidade de cooperação no contexto da relação bilateral Brasil-países árabes. “No lado árabe, por exemplo, muitos países já externaram ousados compromissos com a descarbonização, tendo seus governos se comprometido com a realização de investimentos de longo prazo para estruturar cadeias produtivas verdes, modernas e totalmente baseadas na inovação”, informou o presidente da Câmara Árabe.
Vários países árabes contam com projetos Visão 2030 com ações em curso para ampliar a participação da energia renovável na matriz energética, principalmente por meio de geração de energia solar, eólica e biomassa. “Esses planos incluem ainda investimentos em pesquisa científica para a inovação necessária à transição das economias árabes para a era pós-petróleo, com a estruturação de cadeias produtivas sustentáveis e integralmente circulares”, disse Chohfi.
O Brasil tem condições de contribuir com o esforço árabe de ampliar a oferta local de alimentos, disse o embaixador Chohfi, intensificando os investimentos que as empresas do agronegócio brasileiro já fazem nos países árabes e disponibilizando também nesses territórios a expertise do agronegócio nacional na produção sustentável e na biotecnologia.
“Há nos países árabes um grande interesse em incorporar opções de energia renovável a suas matrizes energéticas, oportunidade na qual se insere, por exemplo, o etanol”, disse.
Para o presidente da Câmara Árabe, os países árabes vão encontrar no Brasil “um ambiente mais favorável à realização de projetos conjuntos voltados à descarbonização de suas economias, com a preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a geração de inovações tratadas com a prioridade devida pelo Estado brasileiro”.