São Paulo – O publicitário brasileiro Roberto Duailibi doou o acervo da memória da família Duailibi para a Câmara de Comércio Árabe Brasileira. São mais de 1.500 peças, entre livros, fotos, mapas, documentos e áudios, que registram a história dessa família, de origem libanesa, e da imigração árabe ao Brasil. Eles serão parte da Casa Árabe, centro de desenvolvimento institucional e cultural das relações entre árabes e brasileiros, que é da Câmara Árabe. Na foto acima, Roberto Duailibi (esq.) com o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi (dir.).
A entrega do material foi formalizada em evento para grupo restrito de convidados na Câmara Árabe nesta terça-feira (14). As peças ficarão armazenadas na biblioteca da entidade, já que por enquanto a Casa Árabe funciona apenas em versão virtual. As instalações da Câmara Árabe, na avenida Paulista, foram desenhadas pelo arquiteto Ruy Ohtake, e a biblioteca será reformulada para a nova missão de abrigar os registros dos Duailibi. O acervo será disponibilizado em breve para consulta do público.
“Dele cuidaremos com o mesmo carinho que Roberto a ele dedicou. Procuraremos torná-lo acessível a descendentes que buscam informações sobre suas origens, estudiosos e acadêmicos brasileiros e estrangeiros, e a todos que se interessam por conhecer algo de uma civilização milenar que tantas e tão expressivas contribuições deu à cultura, às ciências e às humanidades no mundo”, disse o presidente da Câmara Árabe, o embaixador Osmar Chohfi.
O recolhimento do material ao longo dos anos foi encabeçado por Roberto em um projeto nomeado Centro de Estudos FamilyD. Na cerimônia da doação do acervo, o publicitário contou da origem da iniciativa. Um dos primeiros insights veio da história que o seu irmão contava, de ter conhecido uma moça de sobrenome Duailibe, com “e”. “Ficamos curiosos de saber onde estavam os outros Duailibi”, explicou Roberto. Há o entendimento de que todos os Duailibi, escritos como Duailib, Dawalibi, Daualibi ou outras grafias, têm a mesma origem.
Além da moça, outros dois fatores levaram ao projeto FamilyD. Roberto estudava o conceito de redes sociais na Escola de Sociologia e Política ainda antes da internet. “Quantas pessoas você deve conhecer para estar em contato com alguém que lhe interessa?”, explicou ele, sobre o conceito de rede da época. Somado a isso, a agência de publicidade para a qual Roberto trabalhava precisou levantar a lista com todos passageiros que estiveram no primeiro voo da companhia aérea VASP entre São Paulo e o Rio de Janeiro – sendo que eram conhecidos apenas alguns – e conseguiu. “Isso me estimulou a fazer a mesma coisa com a família, onde eles estão, como vieram, que tipo de parentesco tinham entre si”.
O primeiro passo de Roberto foi enviar um pequeno questionário para os Duailibi que conhecia. “Eu resolvi colocar em prática aquilo que tinha aprendido na Escola de Sociologia e Política”, disse. Aí começou a ser formada toda a rede da família D. Veio a compra, por Roberto, de livros sobre a história do Líbano, Síria, Oriente Médio e árabe em geral, a aquisição de mapas, a realização de entrevistas em áudio com os primeiros imigrantes Duailibi ao Brasil, e o acervo foi crescendo. Até então, o material ficava em um apartamento na capita paulista.
“A intenção era fazer um livro, mas aí apareceu a internet e ficou muito mais fácil fazer um site”, conta o publicitário. No site FamilyD é possível encontrar iconografia, notícias, vídeos, relatos dos imigrantes e descendentes, fotos, árvore genealógica e muito material sobre a história da família e dos árabes. A pesquisa acabou indo além das fronteiras do Brasil e trazendo para o acervo também o registro dos Duailibi de outros países.
Nova casa
O apartamento, porém, ficou pequeno para o tamanho do acervo e Roberto encontrou na Câmara Árabe o novo lar para o material. As conversas começaram já na gestão anterior da instituição, com o então presidente Rubens Hannun, amigo de infância do publicitário, e seguiram com o atual presidente, Osmar Chohfi, com quem Roberto descerrou a placa que ficará na biblioteca indicando a presença do acervo. O entusiasmo pela ideia de receber o arquivo revelado pelos líderes da Câmara Árabe pesaram na escolha do novo destino, segundo Roberto. O publicitário ficou apenas com as esculturas.
A diretora cultural da Câmara Árabe, Silvia Antibas, disse ter visto muita generosidade na doação e também no recebimento. “É muito generoso da família doar e é muito generoso da Câmara Árabe receber”, disse ela. A diretora disse que o objetivo é tornar o acervo disponível a todos. “Livro guardado não é o que a gente quer”, falou. Antibas contou que o material também deve ser digitalizado como parte do projeto de Digitalização da Memória da Imigração Sírio e Libanesa no Brasil, que a Câmara Árabe leva adiante com a Universidade Saint Esprit de Kaslik, do Líbano.
O publicitário
Roberto Duailibi é um dos mais importantes publicitários brasileiros. Ele foi um dos criadores de uma das maiores e mais premiadas agências de publicidade do Brasil. Também é professor, sociólogo, palestrante, autor de livros que foram marcos na história brasileira da publicidade e membro da Academia Paulista de Letras. Chohfi o descreveu como um símbolo da comunidade de origem libanesa e árabe no Brasil. “O sucesso de Roberto e de sua família é o nosso sucesso também porque projeta o que de melhor puderam trazer os libaneses, sírios e árabes em geral para o progresso da sociedade brasileira”, disse o presidente.
Participaram do evento de entrega do acervo nesta terça-feira membros da família Duailibi, integrantes da comunidade árabe no Brasil e líderes da Câmara Árabe, como o secretário-geral e CEO, Tamer Mansour, a diretora de Marketing e Comunicação da Câmara Árabe, Silvana Gomes, o vice-presidente de Relações Internacionais, Mohamad Orra Mourad, a diretora Claudia Haddad, o diretor William Atui, o ex-presidente do Conselho de Orientação, Walid Yazigi, e o ex-presidente, Rubens Hannun. Estiveram presentes o cônsul geral do Líbano em São Paulo, Rudy El Azzi, o presidente da TV Cultura, José Roberto Maluf, e o presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Ali Zoghbi, entre outros executivos e autoridades.